Na mensagem aos jovens que participam do IV Encontro anual da Economia de Francisco, em Assis, o Papa pede-lhes para que se comprometam com um sistema econômico que cuide da Casa comum
Da redação, com Vatican News
Teve início, nesta sexta-feira, 6, o IV Encontro anual da Economia de Francisco (EoF), comunidade que reúne jovens economistas e empresários de todo o mundo. O encontro, que prossegue até dia 8, se realiza on-line e também presencial do Santuário da Espoliação, em Assis.
Para a ocasião, o Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes, manifestando satisfação pelo trabalho de “reanimar a economia” que segue adiante dando frutos, com entusiasmo e dedicação.
“Queridos jovens, toda teoria é parcial, limitada, não pode pretender fechar ou resolver completamente os opostos”, escreve o Papa, ressaltando que “grande e pequeno, pobreza e riqueza e muitos outros opostos também existem na economia”. De acordo com Francisco, “a economia são as barracas do mercado, bem como os centros das finanças internacionais. Existe a economia concreta feita de rostos, olhares, pessoas, de pequenas barracas e empresas, e existe a economia tão grande que parece abstrata das multinacionais, dos Estados, dos bancos, dos fundos de investimento. Existe a economia do dinheiro, dos bônus e dos salários altíssimos ao lado de uma economia do cuidado, das relações humanas, dos salários muito baixos para viver bem”.
“Onde está a coincidência entre esses opostos?”, pergunta o Papa. “Ela se encontra na natureza autêntica da economia: ser um local de inclusão e cooperação, geração contínua de valor a ser criado e colocado em círculo com os outros. O pequeno precisa do grande, o concreto do abstrato, o contrato do dom, a pobreza da riqueza partilhada”, ressalta.
Segundo o Pontífice, “há oposições que não geram harmonia alguma. A economia que mata não coincide com uma economia que faz viver; a economia de enormes riquezas para poucos não se harmoniza internamente com os muitos pobres que não têm como viver; o comércio gigantesco de armas nunca terá nada em comum com a economia da paz; a economia que polui e destrói o planeta não encontra síntese com aquela que o respeita e preserva”.
Na mensagem o Papa diz que “a economia que mata, que exclui, que polui, que produz a guerra, não é economia: outros a chamam de economia, mas é apenas um vazio, uma ausência, é uma doença, uma perversão da própria economia e de sua vocação”. Segundo ele, “as armas produzidas e vendidas para as guerras, os lucros obtidos às custas dos vulneráveise indefesos, como quem abandona a sua terra em busca de um futuro melhor, a exploração dos recursos e dos povos: tudo isto não é economia, não é um bom polo da realidade a ser mantido. É apenas arrogância, violência, é apenas uma estrutura predatória da qual libertar a humanidade”.
A seguir, o Papa reflete sobre a economia da terra e a economia do caminho. “A economia da terra vem do primeiro significado da palavra economia, o de cuidar da casa. A casa não é apenas o lugar físico onde vivemos, mas é a nossa comunidade, as nossas relações, são as cidades onde vivemos, as nossas raízes. Por extensão, a casa é o mundo inteiro, o único que temos, confiado a todos nós. Pelo simples fato de termos nascido, somos chamados a tornar-nos guardiões desta Casa comum e, portanto, irmãos e irmãs de cada habitante da terra. Fazer economia significa cuidar da Casa comum, e isso não será possível se não tivermos olhos treinados para ver o mundo a partir das periferias: o olhar dos excluídos, dos últimos”, escreve Francisco.
A propósito da economia do caminho, o Papa convida “a olhar para a experiência de Jesus e dos primeiros discípulos”. “Uma das formas mais antigas de descrever os cristãos era: “aqueles do caminho”. Quando Francisco de Assis, tão querido para nós, iniciou a sua revolução econômica apenas em nome do Evangelho, regressou como um mendigo, um andarilho: começou a caminhar, saindo da casa do seu pai Bernardone. Qual caminho, então, para quem quer renovar a economia desde a raiz? O caminho dos peregrinos sempre foi arriscado, entrelaçado de confiança e vulnerabilidade. Quem o empreende deve logo reconhecer a sua dependência dos outros, ao longo do caminho: assim, você entende que a economia também é mendicante das outras disciplinas e saberes. E assim como o peregrino sabe que o seu caminho será poeirento, também vocês sabem que o bem comum exige um compromisso que suja as mãos. Só as mãos sujas sabem mudar a terra: a justiça se vive, a caridade se encarna e, unidos nos desafios, neles se persevera com coragem. Ser economistas e empresários de “Francisco” hoje significa necessariamente ser mulheres e homens de paz: não se dar paz pela paz”.
Por fim, o Papa diz aos jovens para “não terem medo das tensões e dos conflitos”, mas “a procurar humanizá-los, todos os dias”. “Confio a vocês a tarefa de proteger a casa comum e ter a coragem de caminhar”.