Francisco refletiu sobre a parábola dos talentos, afirmando que ela é uma advertência para verificar como cada pessoa está enfrentando a viagem da vida
Da redação, com VaticanNews
Na manhã deste domingo, 19, o Papa Francisco presidiu a Missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano, por ocasião do Dia Mundial dos Pobres.
Esta data foi instituída pelo Papa Francisco em sua Carta Apostólica Misericordia et Misera, emitida em 20 de novembro de 2016, para comemorar o fim do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Ela é celebrada desde 2017 no domingo que antecede o Dia de Cristo Rei.
Na homilia de hoje, o Papa refletiu sobre o parábola dos talentos narrada no Evangelho (cf. Mt 25, 14-30) e convidou os fiéis a refletir sobre dois percursos: a viagem de Jesus e a viagem da nossa vida.
Viagem de Jesus
“Jesus, tendo terminado a sua existência terrena, realiza a ‘viagem de regresso’ para junto do Pai. Mas, antes de partir, confiou-nos os seus bens, os seus talentos, um verdadeiro ‘capital’: deixou a Si mesmo na Eucaristia, a sua Palavra de vida, a sua santa Mãe como nossa Mãe, e distribuiu os dons do Espírito Santo para podermos continuar a sua obra no mundo”, destacou.
O Papa afirmou que Jesus recebeu tudo das mãos do Pai, mas não reteve para Si esta riqueza. “Não considerou um privilégio ser igual a Deus, mas esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo (Flp 2, 6-7). Revestiu-Se da nossa frágil humanidade, cuidou como bom samaritano das nossas feridas, fez-Se pobre para nos enriquecer com a vida divina (cf. 2 Cor 8, 9), subiu à cruz. A Ele, que não tinha pecado, ‘Deus o fez pecado por nós’ (2 Cor 5, 21), em nosso favor. Jesus viveu em nosso favor. Foi isto que animou a sua viagem pelo mundo, antes de voltar ao Pai”.
Voltando à parábola do Evangelho, Francisco disse que assim como aquele homem voltou para pedir contas aos seus três empregados, também o Senhor Jesus que fez sua primeira viagem rumo ao Pai, há de realizar outra no fim dos tempos para “fazer um balanço” da história.
“Quando voltar na glória e quiser encontrar-nos de novo, para ‘fazer um balanço’ da história e introduzir-nos na alegria da vida eterna. Por isso devemos perguntar-nos: Como nos encontrará o Senhor, quando voltar? Como me apresentarei ao encontro com Ele?”, refletiu.
Viagem da nossa vida
O Papa afirmou que este questionamento leva ao segundo momento: a viagem da nossa vida. “Que estrada estamos nós a percorrer: a de Jesus que Se fez dom ou a estrada do egoísmo?”
Francisco lembrou que a parábola bíblica indica que cada pessoa recebeu “talentos”, segundo suas próprias capacidades e possibilidades. Porém, alertou que não se trata de capacidades pessoas, mas dos “bens do Senhor”, ou seja, aquilo que Cristo deixou ao regressar ao Pai. “O grande ‘capital’, que foi colocado nas nossas mãos, é o amor do Senhor, fundamento da nossa vida e força do nosso caminho. Por isso, devemos perguntar-nos: ‘Que faço eu de um dom tão grande ao longo da viagem da minha vida?'”.
A parábola conta que os dois primeiros servos multiplicaram o dom recebido, enquanto o terceiro, em vez de confiar no seu senhor, tem medo e não se empenha, acabando por enterrar o talento.
“Isto aplica-se também a nós: podemos multiplicar o que recebemos, fazendo da vida uma oferta de amor pelos outros, ou então podemos viver bloqueados por uma falsa imagem de Deus e, com medo, esconder debaixo da terra o tesouro que recebemos, pensando só em nós mesmos, sem nos apaixonarmos por nada além das nossas comodidades e interesses, sem nos comprometermos”, alertou o Papa.
Parábola dos talentos é uma advertência
Francisco afirmou que a parábola dos talentos é uma advertência para verificar com que espírito cada um está enfrentando a viagem da vida.
“Recebemos do Senhor o dom do seu amor e somos chamados a tornar-nos dom para os outros. O amor com que Jesus cuidou de nós, o azeite da misericórdia e da compaixão com que tratou as nossas feridas, a chama do Espírito com que abriu os nossos corações à alegria e à esperança, são bens que não podemos guardar só para nós, administrar à nossa vontade ou esconder debaixo da terra. Cumulados de dons, somos chamados a fazer-nos dom”, indicou.
O Pontífice disse ainda que as imagens usadas pela parábola são muito eloquentes e mostram que se o amor não é multiplicado ao nosso redor, a vida some-se nas trevas. “Se não colocarmos em circulação os talentos recebidos, a existência acaba debaixo da terra, ou seja, como se já estivéssemos mortos”.
Por fim, o Papa convidou os fiéis a refletir sobre tantas realidades de pobrezas materiais, culturais e espirituais existentes no mundo. “Quando se pensa nesta multidão imensa de pobres, a mensagem do Evangelho resulta clara: não enterremos os bens do Senhor!
Ponhamos em circulação a caridade, partilhemos o nosso pão, multipliquemos o amor! A pobreza é um escândalo. Quando o Senhor voltar, pedir-nos-á contas e – como escreve Santo Ambrósio – dir-nos-á: ‘Por que tolerastes que tantos pobres morressem de fome, quando dispunhas de ouro com o qual obter alimento para lhes dar? Por que tantos escravos foram vendidos e maltratados pelos inimigos, sem que ninguém fizesse nada para os resgatar?’, destacou.
E concluiu rogando que cada um, segundo o dom recebido e a missão que lhe foi confiada, se comprometa a “pôr a render a caridade” e a aproximar-se de qualquer pobre.
Ainda neste domingo, o Papa irá almoçar com pessoas em situação de vulnerabilidade por ocasião do Dia Mundial dos Pobres.