Encontro na Catedral

Papa pede aos bispos atenção aos pobres e proximidade aos sacerdotes

O Papa afirmou que os bispos têm o direito de exprimir opiniões sobre tudo aquilo que diz respeito à vida das pessoas diante da tarefa da promoção integral de cada ser humano

Da Redação

O Papa Francisco encontrou-se com os bispos de Madagascar, neste sábado, 7, na Catedral de Andohalo. Francisco foi recebido pelo Presidente da Conferência Episcopal, o Cardeal Desiré Tsarahazana e pelo pároco local.

O cardeal Tsarahazana fez a saudação inicial e agradeceu a visita do Pontífice. Nas breves palavras dirigidas ao Papa, ele destacou a religiosidade de Madagscar e o compromisso com os pobres. Neste contexto, o cardeal afirmou que a corrupção e desigualdade social no país,são motivos de indignação. “Não podemos ficar calados e deixar de agir. Cada de um nós pode se comprometer a mudar a realidade dentro dos limites de sua realidade”, afirmou o presidente.

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O cardeal concluiu a saudação afirmando que a visita do Papa e sua mensagem é um apoio para a Igreja de Madagascar continuar a proclamar a alegria do Evangelho. “Renovamos a nossa gratidão fraterna”, concluiu.

Após agradecer as palavras do cardeal, o Papa realizou o seu discurso em italiano que foi traduzido para o francês aos bispos. Discurso que partiu do tema da visita: “Semeador de paz e de esperança”. Segundo o Papa, o semeador conhece a sua terra e prepara-a para que possa dar o melhor de si mesma. “Como o Semeador, nós, bispos, somos chamados a lançar as sementes da fé e da esperança nesta terra. Para isso, devemos desenvolver este «olfato» que nos permite conhecer melhor e também descobrir o que compromete, dificulta ou arruína a sementeira”.

Francisco afirmou ainda que os pastores, acolhendo as contribuições das diversas ciências, têm o “direito de exprimir opiniões sobre tudo aquilo que diz respeito à vida das pessoas”, uma vez que a evangelização exige uma promoção integral de cada ser humano e assim a religião não limita-se âmbito privado e serve apenas para preparar as almas para o céu. O Papa recordou que Deus quer a felicidade dos seus filhos também nesta terra, embora chamados à plenitude eterna, porque Ele criou todas as coisas “para nosso usufruto”.

Por isso, a conversão cristã exige rever – lembra ainda – especialmente tudo o que diz respeito à ordem social e consecução do bem comum. Deste modo, afirma que a “dimensão profética ligada à missão da Igreja requer um discernimento que em geral não é fácil. Assim, a colaboração madura e independente entre a Igreja e o Estado é um desafio permanente”, pois o perigo de conluio nunca está longe, sobretudo o perigo de perder o ardor evangélico.

“Escutando sempre aquilo que o Espírito diz sem cessar às Igrejas (cf. Ap 2, 7), seremos capazes de escapar às ciladas, libertar o fermento do Evangelho para uma colaboração frutuosa com a sociedade civil na busca do bem comum”, declarou.

Segundo Francisco, a “marca distintiva deste discernimento será a preocupação para que a proclamação do Evangelho inclua todas as formas de pobreza” e não apenas garantir a comida para todos, mas prosperidade e civilização em seus múltiplos aspetos. De modo especial no “trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano exprime e engrandece a dignidade da sua vida”.

Defesa da pessoa humana

O Papa afirmou que a defesa da pessoa humana é outra dimensão do empenho pastoral e, neste sentido os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho. Trata-se de um dever particular de proximidade e proteção para com os “pobres, os marginalizados e os pequeninos, para com as crianças e as pessoas mais vulneráveis, vítimas de exploração e abusos”.

Retomando a figura do semeador, o Pontífice alertou que a paciência cristã é uma característica do pastor que deve evitar controlar tudo, mas “deixa crescer segundo etapas diferentes e não procura a uniformidade e não despreza os resultados aparentemente mais mingados”. Neste ponto, o Papa deixou de lado o texto preparado e afirmou que o pastor deve estar próximo a Deus, aos seus sacerdotes e ao povo.

Segundo o Papa, a primeira tarefa do pastor é rezar, e os bispos devem se perguntar o quanto rezam em seu dia a dia. Em segundo lugar, a proximidade com sacerdotes deve ser uma preocupação dos bispos. O que exige disponibilidade de recebê-los e ouvir suas necessidades. E por fim, a proximidade ao povo. “O pastor deve ser próximo ao povo, ter o cheiro do povo. Não um funcionário de corte. Isso não serve”, afirmou.

Criteriosos com as vocações

Francisco pediu também aos bispos que sejam criteriosos em receber as vocações sacerdotais, alertando para a preocupação com números. “Tenham a liberdade de andar devagar nas vocações (…) Não façam entrar o lobo no rebanho”. Ele insistiu na boa formação nos seminários para assegurar um verdadeiro amadurecimento e vida de santidade.

Ao falar do cuidado pastoral com o mundo do laicato, Francisco pediu que não se clericalize aos leigos, exigindo que cumpram tarefas que dizem respeito somente ao sacerdote. Falou também sobre o trabalho do diácono permanente que muitas vezes assume funções dos párocos e até mesmo dos bispos e, estes devem estar conscientes de sua tarefa do serviço fora da Igreja.

Por fim, o Papa recordou o testemunho da Beata Vitória Rasoamanarivo , que tem seu túmulo na catedral, afirmando que ela soube “fazer o bem, defender e espalhar a fé em tempos difíceis”. Francisco encerrou o encontro dirigindo a bênção aos bispos e a todas as dioceses do país.

Antes de deixar a Catedral de Andohalo, Francisco visitou e rezou diante do túmulo da Beata Vitória Rasoamanarivo.

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