Ao programa“Tg5”, da televisão italiana, Papa Francisco afirmou que mundo precisa de unidade e convida à redescoberta da fé
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco concedeu uma entrevista ao jornalista Fabio Marchese Ragona, do programa “Tg5”, da televisão italiana. O material foi divulgado neste domingo, 10. Durante sua participação, o Santo Padre reiterou a necessidade da humanidade redescobrir-se unida, mais próxima de quem sofre, para a superação da crise mundial causada pela pandemia.
“De uma crise nunca se sai como antes, nunca. Saímos melhores ou piores”, afirmou o Pontífice. Para o Santo Padre, é preciso rever tudo: “Grandes valores sempre existem na vida, mas os grandes valores devem ser traduzidos na vida do momento”.
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Francisco fez uma lista com uma série de situações dramáticas e iniciou pelas crianças que sofrem com a fome e não podem ir à escola e as guerras que atingem muitas áreas do planeta. “As estatísticas das Nações Unidas são assustadoras a respeito”. Segundo o Papa, se a sociedade sair da crise sem ver estas coisas, a saída será outra derrota, e será pior. “Olhemos somente para estes dois problemas: as crianças e as guerras”.
Vacinação: uma questão ética e não uma opção
Durante o programa, o Pontífice respondeu uma pergunta do jornalista sobre as vacinas. “Eu creio que, eticamente, todos devem tomar a vacina. Não é uma opção, é uma ação ética. Porque está em risco a sua saúde, a sua vida, mas também a vida dos outros”.
Nos próximos dias começará a campanha de vacinação no Vaticano e Francisco revelou que se “cadastrou” para receber a dose. “Sim, deve-se fazer”, repetiu, “se os médicos a apresentam como algo que pode ser bom e que não tem perigos especiais, por que não tomar? Há um negacionismo suicida nisso, que eu não saberia explicar”.
Para o Santo Padre, este é o tempo de “pensar no nós e cancelar por um período o eu, colocá-lo entre parênteses. Ou nos salvamos todos com o nós ou não se salva ninguém”.
O Papa falou de modo amplo, oferecendo a sua reflexão sobre o tema da fraternidade. “Este é o desafio: fazer-me próximo ao outro, próximo à situação, próximo aos problemas, fazer-me próximo às pessoas”.
Francisco apontou que inimiga da proximidade é “a cultura da indiferença”. Fala-se de um “saudável desinteresse pelos problemas, mas o desinteresse não é saudável. A cultura da indiferença destrói, porque me afasta”.
“Tempo do nós” para superar a crise
“A indiferença nos mata, porque nos afasta. Ao invés, a palavra-chave para pensar as saídas da crise é a palavra ‘proximidade’.” Se não há unidade, proximidade, podem-se criar tensões sociais mesmo dentro dos Estados”, alertou o Santo Padre.
O Pontífice falou da “classe governamental” seja na Igreja, seja na vida política. Neste momento de crise, exortou que “toda a classe governamental não tem o direito de dizer ‘eu’… deve dizer ‘nós’ e buscar uma unidade diante da crise”.
Neste momento, reafirmou o Papa, “um político, um pastor, um cristão, um católico, também um bispo, um sacerdote, que não tem a capacidade de dizer ‘nós’ ao invés de ‘eu’, não está à altura da situação”. E acrescentou que os “conflitos na vida são necessários, mas neste momento devem sair de férias”, abrir espaço para a unidade “do país, da Igreja, da sociedade”.
Aborto é questão humana antes de ser religiosa
Na entrevista, Francisco observou que a crise devida à pandemia exacerbou ainda mais a “cultura do descarte” no confronto dos mais fracos, sejam eles pobres, migrantes ou idosos. Deteve-se especialmente no drama do aborto que descarta crianças indesejadas.
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“O problema do aborto não é um problema religioso, é um problema humano, pré-religioso, é um problema de ética humana” e depois religioso, advertiu. “É um problema que também um ateu tem de resolver na sua consciência”.
“É correto cancelar uma vida humana para resolver um problema, qualquer problema? É correto contratar um assassino para resolver um problema?”, indagou o Pontífice.
Episódio no Capitólio: aprender com a história; nunca a violência
O Santo Padre comentou também os dramáticos acontecimentos no Capitólio dos EUA, ocorridos no último dia 6 de janeiro. Confidenciou que ficou “surpreso”, ao pensar na disciplina do povo americano e a maturidade da sua democracia.
No entanto, o Papa observou que mesmo nas realidades mais maduras, há sempre algo de errado quando há “pessoas que tomam um caminho contra a comunidade, contra a democracia, contra o bem comum”.
Agora que isto se verificou, continuou, foi possível “ver bem” o fenômeno e se “pode pôr remédio”. Francisco condenou a violência: “Devemos refletir e compreender bem e, para não repetir, aprender com a história”, estes “grupos para-regulares que não estão bem inseridos na sociedade, mais cedo ou mais tarde produzirão estas situações de violência”.
A fé, um dom a ser pedido ao Senhor
O Papa finalmente respondeu como está pessoalmente vivendo as restrições devidas à pandemia. Ele confessa que se sente “engaiolado”, se deteve nas viagens canceladas para evitar as aglomerações de pessoas, falou da esperança de visitar o Iraque.
Neste momento, o Santo Padre contou que está dedicando mais tempo à oração, à conversa pelo telefone e reiterou como foram importantes para ele alguns momentos, tais como o momento de oração realizado na Praça São Pedro, no último dia 27 de março, “uma expressão de amor a todas as pessoas” e que nos faz “ver novas formas de nos ajudarmos uns aos outros”.
Francisco ofereceu uma reflexão sobre a fé no Senhor, que disse ser, antes de tudo, “um dom”. “Para mim a fé é um dom, nem eu, nem você, nem ninguém pode ter fé pelas suas próprias forças: é um dom que o Senhor dá a você”, que não pode ser comprado.
Retomando então uma passagem de Deuteronômio, o Pontífice exortou os fiéis a invocarem a “proximidade de Deus”. Esta proximidade “na fé é um dom que temos de pedir”. A entrevista foi concluída com os votos do Papa de que em 2021 “não haja descartes, comportamentos egoístas” e que a unidade possa prevalecer sobre o conflito.