Papa concedeu entrevista ao jornal espanhol ABC; entre os temas, revelou que assinou uma carta de renúncia, em caso de impedimento por razões médicas
Da Redação, com informações do Vatican News
O Papa Francisco concedeu uma entrevista ao jornal espanhol ABC em que abordou diversos temas da atualidade. Em uma das perguntas da entrevista, Francisco revela que escreveu uma carta de renúncia “em caso de impedimento por razões médicas”. A carta foi entregue quase dez anos atrás, no início de seu pontificado, ao então secretário de Estado, Cardeal Tarcísio Bertone.
Uma prévia da entrevista havia sido publicada no sábado, 17, e a publicação do material foi neste domingo, 18. Francisco conversou com o editor Julián Quirós e o correspondente no Vaticano, Javier Martínez-Brocal. Os jornalistas perguntaram ao Papa o que acontece se um Pontífice fica repentinamente impedido por problemas de saúde ou acidente. Eles questionam se não seria conveniente existir uma norma para esses casos.
“Eu já assinei a minha renúncia. Foi quando Tarcisio Bertone era secretário de Estado. Assinei a renúncia e lhe disse: “em caso de impedimento médico ou o que quer que seja, aqui está a minha renúncia”. O senhor a tem”. Não sei a quem Bertone deu, mas eu dei a ele quando ele era secretário de Estado”, respondeu o Santo Padre.
Os entrevistadores perguntaram, então, a Francisco se ele desejava que isso se tornasse conhecido. “É por isso que estou lhes dizendo”, respondeu o Papa, lembrando que Paulo VI também deixou uma carta assim por escrito no caso de um impedimento e que provavelmente Pio XII também o tenha feito.
O precedente de Paulo VI
No mesmo dia da publicação da entrevista, o portal de notícias do Vaticano, Vatican News, publicou um texto assinado pelo diretor editorial do Dicastério para a Comunicação, Andrea Tornielli, sobre o assunto (leia na íntegra aqui).
No artigo intitulado “A carta de Francisco e o precedente de Paulo VI”, Tornielli explica que o gesto de Francisco segue o do Papa Paulo VI. “Várias testemunhas nas últimas décadas haviam falado das cartas de renúncia de Paulo VI, mas até maio de 2018 elas não haviam sido tornadas públicas”.
Tornielli acrescenta que a carta foi escrita à mão por Paulo VI não quando ele estava velho ou doente, mas apenas dois anos após sua eleição. “Com este texto, o Papa quis proteger a Igreja de uma sua longa incapacidade: uma carta de renúncia antecipada, que nesse caso havia sido entregue ao cardeal decano para que ele pudesse dar a conhecer aos outros cardeais e declarar decaído o Pontífice”, escreve Tornielli em seu texto.
Por fim, o diretor editorial aponta que, tanto no caso de Paulo VI como no de Francisco, trata-se de uma carta “preventiva”, ligada ao caso em que o Pontífice esteja impedido de renunciar ao seu cargo livremente e em plena consciência. “São, portanto, cartas que nada têm a ver com a renúncia de Bento XVI, ocorrida há quase dez anos”.
Outros temas da entrevista
Além dessa carta de renúncia, a entrevista abordou outros acontecimentos atuais na Igreja e no mundo, a exemplo da guerra na Ucrânia, casos de abusos e o papel das mulheres na Cúria Romana. Trechos da entrevista estão disponíveis no Portal Vatican News e no site do jornal ABC.