Papa encontrou-se com refugiados provenientes de Lesbos; denunciou a indiferença e pediu compromisso para salvar vidas
Da Redação, com Boletim da Santa Sé e informações do Vatican News
Mais um apelo em prol do acolhimento aos refugiados, para que as pessoas não fechem os olhos e os corações a essa situação que interpela a humanidade. O Papa Francisco encontrou-se nesta quinta-feira, 19, com um grupo de 33 refugiados de Lesbos requerentes de asilo político, entre os quais 14 são menores. Eles chegaram a Roma com um corredor humanitário, acompanhados pelo Cardeal Konrad Krajewski e pela Comunidade de Sant’Egidio.
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Na ocasião, um gesto simbólico e repleto de significado: o Papa colocou uma cruz no acesso ao Palácio Apostólico a partir do Pátio do Belvedere, em memória dos migrantes e dos refugiados. A cruz é transparente e “vestida” com um colete salva vidas. O objeto foi colocado na cruz em alusão à experiência espiritual que o Papa percebeu nas equipes de resgate.
“Na tradição cristã, a cruz é símbolo de sofrimento e de sacrifício e, ao mesmo tempo, de redenção e de salvação. Esta cruz é transparente: coloca-se como desafio a olhar com maior atenção e a buscar sempre a verdade. (…) Decidi colocar este colete salva-vidas “crucificado” nesta cruz para nos recordar que devemos ter os olhos abertos, ter o coração aberto, para recordar a todos o empenho imprescindível de salvar toda a vida humana, um dever moral que une crentes e não crentes”.
O Papa indagou como é possível ficar indiferente ao grito desesperado de tantas pessoas que preferem enfrentar o mar tempestuoso a morrer lentamente nos campos de detenção, lugares de tortura e escravidão; diante de abusos e violências de que são vítimas tantos inocentes. Francisco destacou que esta ignávia, ou seja, esta inércia, esta indiferença, é pecado.
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Por outro lado, agradeceu a Deus por tantas pessoas que decidiram não ficar indiferentes e se empenham em socorrer essas pessoas, sem se perguntar como ou porque acabaram nessa situação.
“Não é bloqueando suas embarcações que se resolve o problema. É preciso empenhar-se seriamente em esvaziar os campos de detenção na Líbia, avaliando e implementando todas as soluções possíveis. É preciso denunciar e perseguir os traficantes que exploram e maltratam os migrantes, sem temor de revelar conivências e cumplicidade com as instituições. É preciso colocar de lado interesses econômicos para que no centro esteja a pessoa, cada pessoa, cuja vida e dignidade são preciosas aos olhos de Deus. É preciso socorrer e salvar, porque todos somos responsáveis pela vida do nosso próximo”.
Após a instalação da cruz, o Papa concluiu esse momento com os refugiados: “Agora, olhando para este colete salva-vidas e para a cruz, cada um, em silêncio, reze”.
Outro colete
Logo no início de seu discurso, Francisco explicou que esse é o segundo colete salva-vidas que ele recebeu. Foi entregue por um grupo de socorristas há alguns dias e pertencia a um migrante que morreu no mar em julho passado. Ninguém sabe quem era ou de onde veio, disse o Papa, só se sabe que seu colete foi recuperado à deriva no Mediterrâneo Central em 3 de julho de 2019.
O primeiro lhe foi entregue há alguns anos por um grupo de socorristas e pertencia a uma menina que se afogou no Mediterrâneo. Este primeiro colete, o Papa entregou a dois subsecretários da seção Migrantes e Refugiados do órgão vaticano para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
“Disse a eles: ‘eis a vossa missão!’ Com isso, quis significar o imprescindível empenho da Igreja em salvar as vidas dos migrantes, para depois poder acolhê-los, proteger, promover e integrar”, explicou o Papa.