Em encontro com jovens nas Filipinas, Francisco pediu sabedoria e capacidade de aprender a chorar, amar e receber
Jéssica Marçal
Da Redação
O encontro do Papa Francisco com os jovens em Manila, nas Filipinas, neste domingo, 18, foi marcado pela emoção. Uma das jovens que falou para o Papa não conseguiu conter as lágrimas. Tocado pelos testemunhos, Francisco abandonou o discurso preparado para falar o que lhe veio ao coração. Ele se desculpou por não ler o que estava preparado, mas justificou sua decisão: “A realidade que vocês apresentaram é superior a todas as respostas que eu tinha preparado””.
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“Quando falo de maneira espontânea, faço isso em espanhol, porque não conheço a língua inglesa. Posso fazer isso? Muito obrigado!”, disse o Papa, acrescentando seu objetivo para o encontro: exprimir o amor e a esperança que a Igreja tem pelos jovens e encorajá-los a se dedicarem com paixão e honestidade para renovar a sociedade e contribuir na construção de um mundo melhor.
No encontro, três jovens que já foram moradores de rua apresentaram seus testemunhos ao Papa. Um deles era uma menina, que se emocionou, não conseguiu conter as lágrimas e foi consolada por Francisco. Ela perguntou ao Papa algo que, segundo o Pontífice, não tem resposta: por que as crianças sofrem?
Francisco destacou que as pessoas só conseguem entender alguma coisa quando o coração está pronto para interrogar a si mesmo e chorar. Ele falou da “compaixão” mundana, que consiste em, no máximo, dar uma moeda. “Se Cristo tivesse tido esse tipo de compaixão, seria simplesmente passado, teria curado três ou quatro pessoas e teria voltado ao Pai. Somente quanto Cristo foi capaz de chorar compreendeu o que acontecia nas nossas vidas”.
No mundo de hoje falta essa capacidade de chorar, disse o Papa: “Algumas realidades da vida são vistas apenas com os olhos lavados pelas lágrimas”. Ele pediu que as pessoas aprendam a chorar, como a pequena jovem fez hoje, pois isso é necessário para um bom cristão.
Jovens sábios, não “jovens de museu”
A pergunta do outro jovem foi sobre o excesso de informação dos dias atuais. Não se trata de um mal, disse o Papa, mas há o perigo de acumular informação e não saber como utilizá-la. “Corremos o risco de nos transformarmos em jovens de museu, que têm tudo, mas não sabem o que fazer. Não precisamos de jovens “museu”, mas de jovens sábios”.
Para se tornar, sábio, porém, Francisco reconheceu que há o desafio do amor: é preciso aprender a amar. Ele enfatizou que é através do amor que toda a informação se torna fecunda e o Evangelho propõe três linguagens simples para isso: pensar, sentir e realizar. “As informações que recebemos devem chegar ao coração e se transformarem em algo concreto”.
Aprender a receber
O outro testemunho foi de um jovem que, junto a um grupo de amigos, criou um sistema de iluminação para ajudar os atingidos pelo tufão Yolanda. Francisco agradeceu por esse trabalho e destacou que, assim como é preciso dar, deve-se aprender a receber.
Como exemplo, ele citou os doutores da lei do tempo de Jesus, que davam as leis ao povo, ensinavam as pessoas, mas nunca permitiu que o povo desse alguma coisa a eles. Segundo o Papa, há muitos jovens assim, que sabem dar, mas não sabem receber.
“Não é fácil de compreender. Aprender a mendigar, aprender a receber da humildade daqueles que ajudamos. Aprender a ser evangelizados pelos pobres (…) Vocês que vivem dando sempre e acreditam não precisar de nada, sabem que também vocês são pobres? Sabem que estão na pobreza e que precisam ser evangelizados pelos pobres, pelos doentes, por aqueles que vocês ajudam? Isso é o que vos ajuda a amadurecer no vosso empenho e querer ajudar os outros”