Viagem apostólica

Em encontro ecumênico na Letônia, Papa frisa reconciliação e comunhão

Francisco afirmou que o “ecumenismo vivo”, uma das caraterísticas peculiares da Letônia, é um motivo de esperança e ação de graças

Da redação, com VaticanNews

Papa participou da oração ecumênica na Catedral evangélica luterana de Santa Maria, na Letônia / Foto: VaticanMedia

O segundo compromisso do Papa Francisco na Letônia, nesta segunda-feira, 24, foi a oração ecumênica na Catedral evangélica luterana de Santa Maria, em Riga, que há mais de 800 anos hospeda a vida cristã dessa cidade.

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Francisco manifestou alegria de estar “nesta terra que se caracteriza por realizar um caminho de respeito, colaboração e amizade entre as diferentes Igrejas cristãs, que conseguiram gerar unidade mantendo a riqueza e a singularidade próprias de cada uma. Atrevo-me a dizer que é um ‘ecumenismo vivo’, sendo uma das características peculiares da Letônia. É, sem dúvida alguma, um motivo de esperança e ação de graças”.

A casa-catedral

O Santo Padre destacou que a “casa-catedral”, assim chamada pelo Papa, é uma testemunha fiel de muitos irmãos que dela se aproximaram para adorar, rezar e sustentar a esperança em tempos de tribulação e encontrar coragem para enfrentar períodos cheios de injustiça e sofrimento.

“Hoje, hospeda-nos para que o Espírito Santo continue tecendo artesanalmente laços de comunhão entre nós e, assim, faça também de nós artesãos de unidade no meio do nosso povo, para que as nossas diferenças não se tornem divisões. Deixemos que o Espírito Santo nos revista com as armas do diálogo, da compreensão, da busca do respeito mútuo e da fraternidade”, afirmou.

Francisco lembrou que nesta catedral, encontra-se um dos órgãos mais antigos da Europa e que, no momento da sua inauguração, era o maior do mundo.

“Podemos imaginar como acompanhou a vida, a criatividade, a imaginação e a piedade de todos aqueles que se deixavam envolver por sua melodia. Foi instrumento de Deus e dos homens, para elevar o olhar e o coração. Hoje é um emblema desta cidade e desta catedral. Para o ‘residente’ neste lugar, representa mais do que um órgão monumental, faz parte da sua vida, da sua tradição, da sua identidade; ao passo que, para o turista, é naturalmente um objeto artístico a ser conhecido e fotografado”, enfatizou.

Sobre isso, o Papa explicou que este é um perigo que se corre sempre: passar de residentes a turistas, fazendo daquilo que lhes identifica um objeto do passado, uma atração turística e de museu que recorda os feitos de outrora, de alto valor histórico, mas que deixou de fazer vibrar o coração de quantos o escutam.

Fé não pode ficar oculta

“Com a fé, pode acontecer exatamente a mesma coisa. Podemos deixar de nos sentir cristãos residentes, para nos tornarmos turistas”, acrescentou o Papa.

E destacou ser possível afirmar que toda a tradição cristã pode sofrer a mesma sorte: acabar reduzida a um objeto do passado que, fechado dentro das paredes das igrejas, deixa de produzir uma melodia capaz de mover e inspirar a vida e o coração daqueles que a ouvem.

“Porém, como afirma o Evangelho que ouvimos (cf. Lc 11, 33), a nossa fé não é para ficar oculta, mas para se dar a conhecer fazendo-a ressoar nos diferentes setores da sociedade, a fim de que todos possam contemplar a sua beleza e ser iluminados com a sua luz.”

“Nossa fé não é para ficar oculta, mas para se dar a conhecer fazendo-a ressoar nos diferentes setores da sociedade”, disse Papa em encontro ecumênico / Foto: VaticanMedia

A música do Evangelho

Papa Francisco, se a música do Evangelho deixar de ser executada na vida de cada pessoa e se transformar numa bela partitura do passado, já não conseguirá romper as monotonias asfixiadoras que impedem de animar a esperança, tornando estéreis todos os esforços pessoais.

“Se a música do Evangelho parar de vibrar em nossas entranhas, perderemos a alegria que brota da compaixão, a ternura que nasce da confiança, a capacidade da reconciliação que encontra a sua fonte no fato de nos sabermos sempre perdoados-enviados. Se a música do Evangelho cessar de repercutir nas nossas casas, nas nossas praças, nos postos de trabalho, na política e na economia, teremos extinguido a melodia que nos desafiava a lutar pela dignidade de todo o homem e mulher, independentemente da sua proveniência, encerrando-nos no ‘meu’ e esquecendo-nos do ‘nosso’: a casa comum que a todos nos diz respeito. Se a música do Evangelho deixar de soar, teremos perdido os sons que hão de levar a nossa vida ao céu, entrincheirando-nos num dos piores males do nosso tempo: a solidão e o isolamento.”

Francisco afirmou que esta é a doença que surge em quem não possui qualquer laço, e que se pode encontrar também nos idosos abandonados ao seu destino, bem como nos jovens sem pontos de referência nem oportunidades de futuro.

Ecumenismo na cruz do sofrimento

As palavras, “Pai, que todos sejam um (…) para que o mundo creia”, continuam a ressoar intensamente no meio de nós, graças a Deus.

Imersos nesta oração de Jesus, “encontramos a única estrada possível para todo o ecumenismo na cruz do sofrimento de tantos jovens, idosos e crianças, frequentemente expostos à exploração, ao absurdo, à falta de oportunidades e à solidão. Enquanto fixa o olhar no Pai e em nós, seus irmãos, Jesus não cessa de implorar: que todos sejam um”.

O Santo Padre afirmou que, hoje, a missão continua a pedir e a solicitar de cada um a unidade. “É a missão que nos exige que paremos de olhar as feridas do passado e acabemos com todas as atitudes autorreferenciais para nos centrarmos na oração do Mestre. A missão pede para que a música do Evangelho não cesse de soar em nossas praças.”

Viver o Evangelho com alegria, gratidão e radicalidade

Segundo o Papa, “alguns podem chegar a dizer: são tempos difíceis e complexos, estes que estamos vivendo. Outros podem chegar a pensar que, em nossas sociedades, os cristãos têm cada vez menos margem de ação e influência devido a inúmeros fatores, como, por exemplo, o secularismo ou as lógicas individualistas”.

Entretanto, isto não pode levar a uma atitude de fechamento, de defesa, nem de resignação.

“Não podemos deixar de reconhecer que certamente os tempos não são fáceis, sobretudo para muitos dos nossos irmãos que hoje vivem na sua carne o exílio e até o martírio por causa da fé. Mas o seu testemunho nos leva a descobrir que o Senhor continua nos chamando, convidando-nos a viver o Evangelho com alegria, gratidão e radicalidade. Se Cristo nos considerou dignos de viver nestes tempos, nesta hora – a única que temos –, não podemos nos deixar vencer pelo medo nem deixar que ele passe sem a assumir com a alegria da fidelidade. O Senhor nos dará a força para fazer de cada tempo, de cada momento, de cada situação uma oportunidade de comunhão e reconciliação com o Pai e com os irmãos, especialmente com aqueles que hoje são considerados inferiores ou matéria de descarte.”

Unidade em chave missionária

O Papa frisou que a unidade “a que o Senhor nos chama, é uma unidade sempre em chave missionária, que nos pede para sair e alcançar o coração do nosso povo e das culturas, a sociedade pós-moderna em que vivemos ‘onde são concebidas as novas histórias e paradigmas, alcançar com a Palavra de Jesus os núcleos mais profundos da alma das cidades’”.

“Conseguiremos realizar esta missão ecumênica, se nos deixarmos impregnar pelo Espírito de Cristo que é capaz de romper também os esquemas enfadonhos em que pretendemos aprisioná-Lo, e surpreender-nos com a sua constante criatividade divina. Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo atual”, concluiu o Papa.

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