Íntegra

Discurso no Encontro com as autoridades do Azerbaijão

brasao_papaDISCURSO
Viagem do Papa Francisco a Geórgia e Azerbaijão
Encontro com as autoridades do Azerbaijão
Centro Heydar Aliyev, de Baku
Domingo, 2 de outubro de 2016

“Sinto-me muito feliz por visitar o Azerbaijão e agradeço-vos pelo cordial acolhimento nesta cidade, capital do país, debruçada sobre as margens do Mar Cáspio; uma cidade que transformou radicalmente o seu rosto com edifícios novos, como este onde se realiza o nosso encontro. Estou-lhe muito grato, Senhor Presidente, pelas gentis expressões de boas-vindas que me dirigiu em nome do Governo e do povo azerbaijano e por me ter dado a possibilidade, graças ao seu amável convite, de retribuir a visita que Vossa Excelência realizou no ano passado ao Vaticano, juntamente com a sua gentil Consorte.

Cheguei a este país trazendo no coração a admiração pela complexidade e a riqueza da sua cultura, fruto da contribuição dos muitos povos que, ao longo da história, habitaram nestas terras, dando vida a um tecido de experiências, valores e peculiaridades que caracterizam a sociedade atual e se manifestam na prosperidade do Estado azerbaijano moderno. No próximo dia 18 de outubro, o Azerbaijão celebrará o vigésimo quinto aniversário da sua independência e tal data oferece a possibilidade de lançar um olhar de conjunto aos acontecimentos destas décadas, aos progressos realizados e aos problemas que o país está a enfrentar.

O caminho percorrido até agora mostra claramente os esforços consideráveis feitos para consolidar as instituições e favorecer o crescimento económico e civil da nação. É um percurso que requer constante solicitude por todos, especialmente os mais vulneráveis, um percurso possível graças a uma sociedade que reconhece os benefícios do multiculturalismo e da necessária complementaridade das culturas, fazendo com que se instaurem relações de mútua colaboração e respeito entre as várias componentes da comunidade civil e entre os membros das diferentes confissões religiosas.

Este esforço conjunto na construção duma harmonia entre as diferenças é muito significativo neste tempo, porque mostra que é possível testemunhar as próprias ideias e a própria concepção da vida sem ofender os direitos daqueles que são portadores doutras concepções e visões. Cada afiliação étnica ou ideológica bem como todo o caminho religioso autêntico não podem deixar de excluir atitudes e concepções que instrumentalizem as convicções próprias, a sua identidade ou o nome de Deus para legitimar desígnios de opressão e domínio.

Espero vivamente que o Azerbaijão continue pela estrada da colaboração entre diferentes culturas e confissões religiosas. Que a harmonia e a coexistência pacífica alimentem sempre mais a vida social e civil do país, nas suas múltiplas expressões, assegurando a todos a possibilidade de oferecer a própria contribuição para o bem comum.

Infelizmente, o mundo experimenta o drama de tantos conflitos que encontram alimento na intolerância, fomentada por ideologias violentas e pela negação prática dos direitos dos mais frágeis. Para uma válida contraposição a estas derivas perigosas, é preciso que cresça a cultura da paz, que se nutre duma incessante disponibilidade ao diálogo e da consciência de que não há alternativa razoável à busca paciente e assídua de soluções partilhadas, por meio de negociações leais e constantes.

Assim como dentro das fronteiras duma nação é forçoso promover a harmonia entre as suas várias componentes, assim também entre os Estados é necessário avançar, com sabedoria e coragem, pelo caminho que leva ao verdadeiro progresso e à liberdade dos povos, abrindo percursos originais que apontem para acordos duradouros e a paz. Assim se pouparão aos povos graves sofrimentos e dolorosas lacerações difíceis de curar.

Olhando este país, desejo expressar cordialmente a minha proximidade a quantos tiveram de deixar a sua terra e às inúmeras pessoas que sofrem por causa de conflitos sangrentos. Espero que a comunidade internacional saiba oferecer, com constância, a sua ajuda indispensável. Ao mesmo tempo, a fim de se tornar possível a abertura duma fase nova, propiciadora duma paz estável na região, dirijo a todos o convite a não deixem nada de intentado para se chegar a uma solução satisfatória. Estou confiante de que, com a ajuda de Deus e a boa vontade das Partes, o Cáucaso poderá ser o lugar onde as controvérsias e as divergências encontrarão, através do diálogo e da negociação, a sua composição e superação, de modo que esta área, «porta entre o Oriente e o Ocidente» – segundo a bela imagem usada por São João Paulo II quando visitou o vosso país [cf. Discurso na cerimónia de boas-vindas, 22 de maio 2002: Insegnamenti XXV/1 (2002), 838] – se torne também uma porta aberta para a paz e um exemplo a seguir na resolução de conflitos antigos e novos.

Apesar da sua presença numericamente exígua no país, a Igreja Católica está integrada na vida civil e social do Azerbaijão, participa nas suas alegrias e é solidária na resolução das suas dificuldades. Além disso o reconhecimento jurídico, tornado possível na sequência da ratificação do Acordo Internacional com a Santa Sé em 2011, ofereceu um quadro normativo mais estável para a vida da comunidade católica no Azerbaijão.

Alegro-me particularmente ainda com as relações cordiais que a comunidade católica mantém com as comunidades muçulmana, ortodoxa e judaica, e espero que se incrementem os sinais de amizade e colaboração. Estas boas relações são de grande importância para a convivência pacífica e a paz no mundo, e mostram que é possível, entre os seguidores de diferentes confissões religiosas, a cordialidade dos relacionamentos, o respeito e a cooperação para o bem de todos.

O apego aos valores religiosos genuínos é totalmente incompatível com a tentativa de impor, pela violência, aos outros as próprias conceções, apoiando-se no santo nome de Deus. Ao contrário, a fé em Deus seja fonte e inspiração de compreensão mútua, respeito e ajuda recíproca em prol do bem comum da sociedade.

Deus abençoe o Azerbaijão com a harmonia, a paz e a prosperidade”.

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