Viagem do Papa Francisco a Cracóvia, Polônia – JMJ 2016
Encontro com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático
Castelo de Wawel – Cracóvia
Quarta-feira, 27 de julho de 2016
Boletim da Santa Sé
Senhor Presidente,
Distintas Autoridades,
Ilustres Membros do Corpo Diplomático,
Magníficos Reitores,
Senhoras e Senhores!
Com deferência, saúdo o Senhor Presidente e agradeço o seu acolhimento generoso e as palavras amáveis. Sinto-me feliz por poder saudar os ilustres membros do Governo e do Parlamento, os Reitores das universidades, as Autoridades regionais e municipais, bem como os membros do Corpo Diplomático e as outras Autoridades presentes. É a primeira vez que visito a Europa Centro-Oriental e estou contente por começar da Polônia, que, entre os seus filhos, conta o inesquecível São João Paulo II, idealizador e promotor das Jornadas Mundiais da Juventude. Ele gostava de falar da Europa que respira com os seus dois pulmões: o sonho dum novo humanismo europeu é animado pela respiração criativa e harmônica destes dois pulmões e pela civilização comum que tem no cristianismo as suas raízes mais sólidas.
A memória carateriza o povo polonês. Sempre me impressionou o sentido vivo da história do Papa João Paulo II. Quando falava dos povos, partia da sua história procurando fazer ressaltar os seus tesouros de humanidade e espiritualidade. A consciência da identidade, livre de complexos de superioridade, é indispensável para organizar uma comunidade nacional com base no seu patrimônio humano, social, político, econômico e religioso, para inspirar a sociedade e a cultura, mantendo-as simultaneamente fiéis à tradição e abertas à renovação e ao futuro. Foi nesta perspetiva que celebrastes, recentemente, os mil e cinquenta anos do Batismo da Polônia. Foi certamente um momento forte de unidade nacional, que confirmou como a concórdia, mesmo na diversidade das opiniões, é a estrada segura para se alcançar o bem comum de todo o povo polonês.
E uma profícua cooperação internacional e a mútua consideração maturam através da consciência e do respeito pela identidade própria e alheia. Não pode haver diálogo, se cada qual não parte da sua própria identidade. Mas, na vida diária de cada indivíduo e também de cada sociedade, há dois tipos de memória: a boa e a má, a positiva e a negativa. A memória boa é aquela que a Bíblia nos mostra no Magnificat, o cântico de Maria, que louva o Senhor e a sua obra de salvação. Ao contrário, a memória negativa é aquela que mantém o olhar da mente e do coração obsessivamente fixo no mal, a começar pelo mal cometido pelos outros. Vendo a vossa história recente, agradeço a Deus porque soubestes fazer prevalecer a memória boa, celebrando, por exemplo, os cinquenta anos do perdão, mutuamente oferecido e recebido, entre os episcopados polonês e alemão, depois da II Guerra Mundial. Apesar de a iniciativa envolver inicialmente apenas as comunidades eclesiais, todavia desencadeou um processo social, político, cultural e religioso irreversível, mudando a história das relações entre os dois povos. E, na mesma linha, recordamos também a Declaração Conjunta entre a Igreja Católica da Polônia e a Igreja Ortodoxa de Moscou: um ato que deu início a um processo de aproximação e fraternidade não apenas entre as duas Igrejas, mas também entre os dois povos.
Assim a nobre nação polonesa mostra como se pode fazer crescer a memória boa e deixar para trás a má. Para isso, requer-se uma esperança e confiança firmes n’Aquele que guia os destinos dos povos, abre portas fechadas, transforma as dificuldades em oportunidades e cria novos cenários onde parecia impossível. Disto mesmo dão testemunho as vicissitudes históricas da Polônia: depois das tempestades e das trevas, o vosso povo, restabelecido na sua dignidade, pôde cantar, como os judeus no regresso de Babilônia: «Parecia-nos viver um sonho. A nossa boca encheu-se de sorrisos e a nossa língua de canções» (Sal 126/125, 1-2). A consciência do caminho feito e a alegria pelas metas alcançadas dão força e serenidade para se enfrentar os desafios atuais, que requerem a coragem da verdade e um compromisso ético constante, a fim de que os processos decisórios e operativos, bem como as relações humanas sejam sempre respeitosos da dignidade da pessoa. E, com isto, está relacionada toda a atividade, incluindo a economia, a relação com o meio ambiente e a própria forma de gerir o complexo fenômeno migratório.
Este último exige um suplemento de sabedoria e misericórdia, para superar os medos e produzir um bem maior. É preciso identificar as causas da emigração da Polônia, facilitando o regresso de quantos o queiram fazer. Simultaneamente é precisa a disponibilidade para acolher as pessoas que fogem das guerras e da fome; a solidariedade para com aqueles que estão privados dos seus direitos fundamentais, designadamente o de professar com liberdade e segurança a sua fé. Ao mesmo tempo, devem ser estimuladas colaborações e sinergias a nível internacional a fim de se encontrar soluções para os conflitos e as guerras, que forçam tantas pessoas a deixar as suas casas e a sua pátria. Trata-se, pois, de fazer o possível para aliviar os seus sofrimentos, sem se cansar de trabalhar com inteligência e ininterruptamente pela justiça e a paz, testemunhando com os factos os valores humanos e cristãos.
À luz da sua história milenária, convido a nação polaca a olhar com esperança o futuro e as questões que tem de enfrentar. Esta atitude favorece um clima de respeito entre todas as componentes da sociedade e um diálogo construtivo entre as diferentes posições; além disso cria as melhores condições para um crescimento civil, econômico e até demográfico, alentando a confiança de oferecer uma vida boa aos próprios filhos. Com efeito, estes não deverão apenas enfrentar problemas, mas poderão usufruir da beleza da criação, do bem que soubermos fazer e difundir, da esperança que lhes soubermos dar. Assim as próprias políticas sociais a favor da família – núcleo primário e fundamental da sociedade –, que visam socorrer as mais frágeis e pobres e apoiá-las no acolhimento responsável da vida, serão ainda mais eficazes. A vida deve ser sempre acolhida e protegida – as duas coisas juntas: acolhida e protegida – desde a concepção até à morte natural, e todos somos chamados a respeitá-la e cuidar dela. Por outro lado, compete ao Estado, à Igreja e à sociedade acompanhar e ajudar concretamente quem está em situação de grave dificuldade, para que o filho não seja jamais sentido como um fardo mas como um dom, e as pessoas mais frágeis e pobres não se vejam abandonadas.
Senhor Presidente, a nação polonesa pode – como sucedeu em todo o seu longo percurso histórico – contar com a colaboração da Igreja Católica, para que, à luz dos princípios cristãos que a inspiram e que forjaram a história e a identidade da Polônia, saiba nas novas condições históricas avançar no seu caminho, fiel às suas melhores tradições e repleta de confiança e esperança, mesmo nos momentos difíceis.
Ao mesmo tempo que lhe renovo a expressão da minha gratidão, desejo ao Senhor Presidente e a cada um dos presentes um sereno e frutuoso serviço ao bem comum.
Nossa Senhora de Częstochowa abençoe e proteja a Polônia!