Íntegra

Discurso às autoridades e ao corpo diplomático paraguaio

brasao_papaDiscurso
Encontro com as autoridades e com o corpo diplomático
Sexta-feira, 10 de julho de 2015

Senhor Presidente,
Autoridades da República,
Membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!

Saúdo cordialmente Vossa Excelência, Senhor Presidente da República, e agradeço-lhe as deferentes palavras de boas-vindas e estima que me dirigiu, em nome próprio e ainda do governo, dos altos cargos do Estado e do querido povo paraguaio. Saúdo também os ilustres membros do Corpo Diplomático e, através deles, faço chegar os meus sentimentos de respeito e apreço aos respectivos países.

Um sentido «obrigado» a todas as pessoas e instituições que colaboraram, com esforço e dedicação, na preparação desta viagem para que me sentisse em casa. Não é difícil sentir-se em casa, nesta terra tão acolhedora. O Paraguai é conhecido como o coração da América, não só pela sua posição geográfica mas também pelo calor da hospitalidade e proximidade do seu povo.

Desde os seus primeiros passos como nação independente até dias ainda recentes, a história do Paraguai conheceu o sofrimento terrível da guerra, do confronto fratricida, da falta de liberdade e da violação dos direitos humanos. Tanta dor e tanta morte! Mas é admirável a tenacidade e o espírito de superação do povo paraguaio para se refazer perante tanta adversidade e prosseguir nos seus esforços por construir uma nação próspera e em paz. Aqui, no jardim deste palácio – que foi testemunha da história do Paraguai, desde quando era apenas margem do rio e era usado pelos Guaranis até aos últimos acontecimentos contemporâneos – quero prestar homenagem aos milhares de paraguaios simples, cujos nomes não aparecerão escritos nos livros de história mas que foram e continuam a ser verdadeiros protagonistas da vida do seu povo. E quero reconhecer, com emoção e admiração, o papel desempenhado pela mulher paraguaia nestes momentos dramáticos da história. Sobre os seus ombros de mães, esposas e viúvas carregaram o peso maior, souberam levar por diante as suas famílias e o seu país, infundindo nas novas gerações a esperança num amanhã melhor.

Um povo que esquece o seu passado, a sua história, as suas raízes, não tem futuro. A memória, firmemente apoiada na justiça e livre de sentimentos de vingança e ódio, transforma o passado numa fonte de inspiração para construir um futuro de convivência e harmonia, tornando-nos cientes da tragédia e insensatez que é a guerra. Nunca mais guerras entre irmãos! Construamos sempre a paz! Uma paz também do dia a dia, uma paz da vida quotidiana na qual todos participamos evitando gestos arrogantes, palavras ofensivas, atitudes prepotentes e, positivamente, fomentando a compreensão, o diálogo e a colaboração.

Desde há vários anos que o Paraguai está empenhado na construção dum projeto democrático sólido e estável. É justo reconhecer, com satisfação, quanto progresso se fez neste caminho, graças aos esforços de todos, mesmo no meio de grandes dificuldades e incertezas. Encorajo-vos a continuar trabalhando com todas as vossas forças para consolidar as estruturas e instituições democráticas que deem resposta às justas aspirações dos cidadãos. A forma de governo adotada na Constituição – uma «democracia representativa, participativa e pluralista» –, baseada na promoção e respeito dos direitos humanos, afasta a tentação da democracia puramente formal, definida no documento de Aparecida como aquela que se contenta com estar «fundada em procedimentos eleitorais honestos» (cf. Aparecida 74).

Em todas as áreas da sociedade, mas especialmente na atividade pública, deve-se promover o diálogo como meio privilegiado para favorecer o bem comum, baseado na cultura do encontro, do respeito e do reconhecimento das legítimas diferenças e opiniões dos outros. Não se deve deter no conflito; um exercício interessante é decantar, no amor à pátria e ao povo, toda a perspectiva que nasce das convicções duma opção partidária ou ideológica. E o mesmo amor deve ser o motor para crescer diariamente em gestões transparentes que lutam com ímpeto contra a corrupção.

Queridos amigos, nesta vontade de serviço e trabalho pelo bem comum, devem ocupar um lugar prioritário os pobres e necessitados. Muitos esforços estão a ser feitos para que o Paraguai avance no caminho do crescimento econômico. Deram-se passos importantes no campo da educação e da saúde. Que o esforço de todos os agentes sociais não cesse até que deixe de haver crianças sem acesso à educação, famílias sem teto, operários sem trabalho digno, camponeses sem terras para cultivar e pessoas obrigadas a emigrar para um futuro incerto; deixe de haver vítimas da violência, da corrupção ou do narcotráfico. Um desenvolvimento econômico que não tem em conta os mais fracos e desfavorecidos não é verdadeiro desenvolvimento. A medida do modelo econômico deve ser a dignidade integral do ser humano, especialmente dos mais vulneráveis e indefesos.

Senhor Presidente, queridos amigos! Desejo, em nome também dos meus irmãos bispos do Paraguai, assegurar-lhes o empenho e a colaboração da Igreja Católica no esforço comum por construir uma sociedade justa e inclusiva, onde se possa viver em paz e harmonia. Porque todos nós, incluindo os pastores da Igreja, somos chamados a preocupar-nos com a construção dum mundo melhor (cf. Evangelii gaudium, 183). A isso nos move a certeza da nossa fé em Deus, que quis fazer-Se homem e, vivendo entre nós, compartilhar o nosso destino. Cristo abre-nos o caminho da misericórdia, que se baseia na justiça mas vai mais longe e ilumina a caridade, de modo que ninguém fique à margem desta grande família que é o Paraguai, ao qual amais e quereis servir.

Com imensa alegria por me encontrar nesta terra consagrada à Virgem de Caacupé, imploro a bênção do Senhor sobre todos vós, sobre as vossas famílias e sobre todo o querido povo paraguaio. Que o Paraguai seja fecundo como o indica a flor da passiflora no manto da Virgem e, como essa faixa com as cores do Paraguai que cinge a imagem, assim a nação se abrace à Mãe de Caacupé. Muito obrigado!

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