Íntegra

Discurso do Papa a biblistas italianos: o valor da exegese

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DISCURSO

Audiência com a Associação Bíblica Italiana
Sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

Queridos amigos,

Encontro-vos ao término da Semana Bíblica Nacional, promovida pela Associação Bíblica Italiana. Esse vosso encontro inaugura as celebrações para o 50º aniversário da Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II. Devemos ser gratos pelas aberturas que, como fruto de um longo esforço de pesquisa, ofereceu-nos o Concílio, bem como pela abundância e facilidade de acesso à Sagrada Escritura. O cristão precisa dela hoje mais do que nunca, solicitado como é pelas contrastantes provocações culturais. A fé, para resplandecer, para não ser sufocada, deve ser alimentada constantemente pela Palavra de Deus.

Exprimo-vos a minha estima e o meu reconhecimento pelo trabalho precioso que vocês desenvolvem no vosso ministério de docentes e de estudiosos da Bíblia. Além disso, este encontro me oferece a oportunidade de confirmar, em continuidade com o Magistério da Igreja, a importância da exegese bíblica para o Povo de Deus. Podemos recordar o que foi afirmado pela Pontifícia Comissão Bíblica: “A exegese bíblica – cito – cumpre, na Igreja e no mundo, uma tarefa indispensável. Querer fazer menos dessa para compreender a Bíblia seria uma ilusão e demonstraria uma falta de respeito pela Escritura inspirada […] Para falar aos homens e às mulheres, deste o tempo do Antigo Testamento, Deus explorou todas as possibilidades da linguagem humana, mas ao mesmo tempo teve que submeter sua Palavra a todos os condicionamentos desta linguagem. O verdadeiro respeito pela Escritura inspirada exige que se realizem todos os esforços necessários para que se possa compreender bem o seu significado. Certo, não é possível que cada cristão faça pessoalmente as pesquisas de todo tipo que permitam compreender melhor os textos bíblicos. Esta tarefa é confiada aos exegetas, responsáveis, neste setor, pelo bem de todos” (A interpretação da Bíblia na Igreja, 15 de abril de 1993, Conclusão).

Justamente encontrando os membros da Pontifícia Comissão Bíblica, em ocasião da apresentação do Documento citado, São João Paulo II recordou que “para respeitar a coerência da fé da Igreja e da inspiração da Escritura, a exegese católica deve estar atenta a não se ater aos aspectos humanos dos textos bíblicos. É necessário que ela, também e sobretudo, ajude o povo cristão a perceber em um modo mais claro a palavra de Deus nesses textos, para melhor acolhê-la, para viver plenamente em comunhão com Deus” (L’Osservatore Romano, 25 de abril de 1993, p. 9). Para tal escopo, é necessário naturalmente que o mesmo exegeta saiba perceber nos textos a Palavra divina e isto é possível somente se a sua vida espiritual é férvida, rica de diálogo com o Senhor; do contrário a pesquisa exegética se torna incompleta, perde de vista o seu objetivo principal.

Na conclusão do Documento, há uma expressão muito eficaz: “A exegese católica não tem o direito de se assemelhar a um curso d’água que se perde nas areias de uma análise hipercrítica”

Por isso, além da competência acadêmica, ao exegeta católico é pedido também e sobretudo a fé, recebida e partilhada com todo o povo que crê, que na sua totalidade não pode errar. Refiro-me novamente às palavras de João Paulo II: “Para chegar a uma interpretação plenamente válida das palavras inspiradas pelo Espírito Santo, devemos nós mesmos sermos guiados pelo Espírito Santo, por isso é preciso rezar, rezar muito, pedir na oração a luz interior do Espírito e acolher docilmente esta luz, pedir o amor, que só nos torna capazes de compreender a linguagem de Deus, que é amor (1 Jo 4, 8.16)” (Oss. Romano, 25 de abril de 1993, p. 9).

O modelo é a Virgem Maria, da qual São Lucas nos refere que meditava no seu coração as palavras e os acontecimentos que se referiam ao seu Filho Jesus (cfr 2, 19). Nossa Senhora nos ensina a acolher plenamente a Palavra de Deus, não somente através da busca intelectual, mas em toda a nossa vida.

Queridos irmãos e irmãs, agradeço-vos mais uma vez, abençoo vocês e o vosso trabalho e vos peço o favor de rezarem por mim.

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