Francisco recebeu, neste sábado, 24, os vencedores do Prêmio Internacional de Jornalismo Biagio Agnes e refletiu sobre os “instrumentos” de um comunicador: o bloco de anotações, a caneta e “um olhar real, não apenas virtual”
Da redação, com Vatican News
Os vencedores da décima quinta edição do Prêmio Internacional de Jornalismo Biagio Agnes – junto a uma delegação italiana que promove a iniciativa – foram recebidos pelo Papa na manhã deste sábado, 24, no Vaticano. O encontro aconteceu após a cerimônia de entrega da homenagem realizada na sexta-feira, 23, na Praça do Campidólio em Roma.
Na audiência, Francisco felicitou os premiados e encorajou “à difusão de uma informação correta, educando e formando as jovens gerações”. O Papa incentivou os jornalistas ao citar Biagio Agnes (1928-2011), protagonista da empresa pública de rádio e TV da Itália: foi um “defensor do seu serviço público, capaz de intervir com sabedoria e decisão para garantir uma informação autêntica e correta”.
O Pontífice falou das grandes mudanças atuais que também desafiam o dia a dia do jornalista, “chamado a ‘gastar as solas dos sapatos’ ou a caminhar pelas ruas digitais sempre ouvindo as pessoas que encontra”, inclusive lá onde ninguém vai, para contar sobre a realidade. Como aquela da guerra, já que relatando a tragédia e o absurdo dos conflitos, “faz com que todos se sintam parte do mesmo sofrimento”. Para isso, o Papa destacou a importância de três “elementos” do trabalho jornalístico, cada vez menos utilizados, mas que ainda têm muito a ensinar: bloco de anotações, caneta e o olhar.
Bloco de anotações com compaixão
Francisco deu ênfase à ação de anotar, o que “envolve muito trabalho interno” como testemunhas diretas ou através de uma fonte confiável: “o bloco de anotações nos lembra da importância de ouvir, mas, acima de tudo, de nos deixarmos fascinar pelo que acontece. O jornalista nunca é um contador da história, mas uma pessoa que decidiu vivenciar suas implicações com participação, com ‘com-paixão'”.
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Caneta e seu ato criativo
Ao descrever o uso da caneta no trabalho jornalístico, apesar de ser cada vez menos usada, recordou o Papa, por estar sendo substituída por instrumentos mais modernos, ela “ajuda a elaborar o pensamento, conectando a cabeça e as mãos, promovendo lembranças e ligando a memória ao presente”:
“A caneta, portanto, lembra o ‘ato criativo’ dos jornalistas e dos profissionais da mídia, ato que exige unir a busca da verdade com a retidão e o respeito pelas pessoas, em particular, com o respeito pela ética profissional, assim como Biagio Agnes fez”.
Olhar real, não apenas virtual
O bloco de anotações e a caneta são meros acessórios se faltar um olhar para a realidade, ponderou o Santo Padre sobre a necessidade do jornalista ter “um olhar real, não apenas virtual”:
“Pensemos, por exemplo, no triste fenômeno das fake news, na retórica belicista ou em qualquer coisa que manipule a verdade. É necessário um olhar cuidadoso sobre o que está acontecendo para desarmar a linguagem e promover o diálogo. O olhar deve ser direcionado a partir do coração: dali ‘brotam as palavras certas para dissipar as sombras de um mundo fechado e dividido e construir uma civilização melhor do que a que recebemos. É um esforço exigido a cada um de nós, mas que requer, em particular, um senso de responsabilidade por parte dos profissionais da comunicação, para que possam exercer a própria profissão como uma missão” (Mensagem para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de janeiro de 2023).”
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