Em homilia na solenidade, Papa pediu uma Igreja em saída, com entusiasmo, que desperta a sede de Deus e o anseio do Evangelho
Jéssica Marçal, com Boletim da Santa Sé
Da Redação
Uma Igreja em saída, que acolhe e que desperta a sede de Deus e o anseio do Evangelho. Esta foi, em suma, a ênfase do Papa Francisco em sua homilia na Missa de Corpus Christi, celebrada neste domingo, 6, no Vaticano.
Partindo do Evangelho de Marcos, refletido na celebração, Francisco propôs uma reflexão sobre os lugares onde os fiéis querem preparar a Páscoa do Senhor. Ele se baseou em três imagens que o evangelista aponta.
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O cântaro de água na mão: despertar sede e levar água
A primeira delas foi o homem com o cântaro de água na mão. Esse poderia ser um detalhe supérfluo, comentou o Papa, mas é sinal de reconhecimento. Faz pensar em uma humanidade sedenta à procura de uma fonte que lhe restaure.
“Todos nós caminhamos na vida com um cântaro na mão: temos sede de amor, de alegria, duma vida bem sucedida num mundo mais humano. E, para esta sede, não basta a água das coisas mundanas, pois trata-se duma sede mais profunda que só Deus pode satisfazer”.
Francisco destacou que, para celebrar a Eucaristia, é preciso, antes de mais nada, reconhecer a própria sede de Deus. E o drama atual é que, muitas vezes, essa sede se exauriu. Mas é a sede de Deus que leva ao altar, sem ela, as celebrações “tornam-se áridas”.
“Também como Igreja, não nos podemos contentar com o grupinho daqueles que habitualmente se reúnem para celebrar a Eucaristia; devemos ir pela cidade, encontrar as pessoas, aprender a reconhecer e despertar a sede de Deus e o anseio do Evangelho.
A sala grande: a Igreja que acolhe
A segunda imagem citada pelo Pontífice é a grande sala no andar de cima, o local onde Jesus e os discípulos farão a ceia pascal. Uma sala grande para um pequeno bocado de pão. Com essa imagem, o Papa explicou que Deus faz-se pequeno, sua presença é humilde, por vezes invisível. Por isso, precisa de um coração grande para reconhece-Lo, adorá-Lo e acolhê-Lo.
Ao contrário, se o coração se assemelha a um sótão para onde há muito tempo foi mandado todo o entusiasmo, será impossível reconhecer essa presença. O Papa defendeu, então, a necessidade de alargar o coração. Ele frisou que a própria Igreja deve ser uma sala grande que acolhe, não um círculo restrito e fechado.
“A Eucaristia quer alimentar quem se sente cansado e faminto ao longo do caminho; não nos esqueçamos disto! A Igreja dos perfeitos e dos puros é um quarto onde não há lugar para ninguém; pelo contrário, a Igreja das portas abertas, que faz festa ao redor de Cristo, é uma sala grande onde todos podem entrar”.
Jesus que parte o Pão: viver este amor
A terceira e última imagem citada por Francisco foi o gesto eucarístico por excelência: Jesus que parte o pão.
Trata-se do gesto com que Jesus ofereceu a si mesmo e na Eucaristia os fiéis contemplam este gesto de amor. E também os fiéis são chamados a viver este amor para celebrar e viver a Eucaristia.
“Não podes partir o Pão do domingo, se o teu coração estiver fechado aos irmãos. Não podes comer este Pão, se não deres o pão aos famintos. Não podes partilhar deste Pão, se não partilhas os sofrimentos de quem passa necessidade. No fim de tudo, inclusive das nossas solenes liturgias eucarísticas, restará apenas o amor”.
O Papa mencionou, por fim, que a procissão com o Santíssimo Sacramento ainda não pode ser realizada (devido à pandemia), mas recorda o chamado a sair levando Jesus.
“Sair com entusiasmo, levando Cristo àqueles que encontramos na vida quotidiana. Tornemo-nos uma Igreja com o cântaro na mão, que desperta a sede e leva a água”, pediu.