Professor Felipe Aquino recorda a definição de João Paulo II sobre o Concílio II: “a primavera da Igreja”; também relata como o Concílio estabeleceu um novo tempo
Mauriceia Silva
Da Redação
Nesta terça feira, 11, se comemora o 60º aniversário do Concílio Vaticano II. Num Ato Solene presidido pelo então Papa João XXIII, hoje santo da Igreja, teve início a primeira de quatro sessões que mudaria a história da Igreja e traria novas formas de evangelização. Por ocasião da celebração dos 60 anos e da memória de João XXIII, o Papa Francisco presidirá a Missa na Basílica de São Pedro amanhã.
A primeira conferência do Concílio começou em 11 de outubro de 1962. O Concílio terminou depois de quatro sessões, em 8 de dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI.
O Concílio aconteceu em um momento de grande tensão no interior da Igreja e dela com as instituições externas. Em outubro de 1995, o então Papa João Paulo II, também santo da Igreja, se referiu ao Concílio Vaticano II como um encontro de uma fisionomia muito singular.
Tom da Esperança
Nos Concílios precedentes, o tema e a ocasião da celebração tinham sido dados por particulares problemas doutrinais ou pastorais. Já o Concílio Ecumênico Vaticano II quis ser um momento de reflexão global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo, afirmou João Paulo II num discurso feito em outubro de 1995.
“A essa reflexão impelia-a a necessidade de uma fidelidade cada vez maior ao seu Senhor. Mas o impulso vinha também das grandes mudanças do mundo contemporâneo, que, como “sinais dos tempos”, exigiam ser decifradas à luz da Palavra de Deus”.
Para João Paulo II, João XXIII teve um papel importante na história da Igreja ao perceber a necessidade do Concílio e impulsioná-lo. “Foi mérito de João XXIII não só ter convocado o Concílio, mas também ter-lhe dado o tom da esperança, tomando as distâncias dos “profetas de desventura” e confirmando a própria e indômita confiança na ação de Deus.”
Uma nova primavera da Igreja
João Paulo II quis ressaltar em seu discurso o tom de um Concílio que não desprezou a tradição, mas trouxe um novo tempo na Igreja. “Graças ao sopro do Espírito Santo, o Concílio lançou as bases de uma nova primavera da Igreja. Ele não marcou a ruptura com o passado, mas soube valorizar o patrimônio da inteira tradição eclesial, para orientar os fiéis na resposta aos desafios da nossa época.”
O professor de História da Igreja, Felipe Aquino, comentou sobre a importância do Concílio Vaticano II para a Igreja e os reflexos em sua vida de cristão católico.
“São João Paulo II disse que o Concílio foi ‘a primavera da Igreja’, e foi mesmo. Eu que vivi até meus 16 anos antes do término do Concílio, pude ver quanta mudança boa aconteceu na Igreja. Antes um leigo não pregava, apenas o clero. A Santa Missa era em latim e o povo não entendia, muitos ficavam rezando o terço. De fato o Concílio trouxe uma renovação para a Igreja, sem romper em nada com a sua doutrina”.
A Igreja precisava de um “Aggiornamento”
Em relação aos desafios daquele tempo, pode-se destacar que o mundo havia mudado muito especialmente pelo avanço da tecnologia e, de modo especial, pelo advento da televisão, lembra Aquino. “O Papa São João XXIII (1958-1963), já bastante idoso, iluminado pelo Espírito Santo, sentiu que a Igreja precisava de um “aggiornamento”, isto é, um rejuvenescimento, para poder melhor pregar o Evangelho ao mundo que se modernizava.”
Aquino explica que não se tratou de romper com o passado da Igreja, mas atualizar a maneira de pregar a Boa Nova. “Uma comparação que foi feita na época: “é a mesma Senhora, mas com uma roupa nova”. No discurso de abertura do Concílio, o Papa pediu a Deus um novo Pentecostes para a Igreja.
Este último Concílio Ecumênico ainda não foi totalmente compreendido, vivido e aplicado, porém é possível afirmar que se está a caminho, opina Felipe Aquino. Ele lamenta que muitas pessoas ainda não tenham lido os 16 documentos do Concílio, até mesmo pessoas do clero.
“Quando o Concílio completou 40 anos, Bento XVI disse ‘ainda estamos em dívida com o Concílio’. Todos os Papas, depois de João XXIII, continuaram a aplicar os ensinamentos do Concílio, sobretudo São João Paulo II, e agora o Papa Francisco também,” destaca o professor, que também comentou a importância dos documentos.
“Bento XVI ainda disse que os documentos conciliares não perderam sua atualidade com o passar do tempo, mas ao contrário, revelam-se particularmente pertinentes em relação às novas instâncias da Igreja e da presente sociedade globalizada.”
Uma Igreja em saída
Felipe Aquino mostrou também que o Sínodo nos pede para sair da lógica do “sempre foi feito assim”, da aplicação do reducionismo que acaba sempre querendo enquadrar tudo no que já é conhecido e praticado.
“Quem trouxe para a Igreja o que o Papa Francisco tem dito – ‘Uma Igreja de saída’ – foi o Concílio, que abriu as portas da evangelização para os leigos, possibilitando o surgimento de muitos movimentos de evangelização como os Encontros de Jovens, de casais, os Cursilhos de Cristandade, a Renovação Carismática, o Treinamento de Liderança Cristã, etc.”
O Espírito Santo age em todos os seus membros
No discurso do Papa João XXIII feito na abertura Solene do Concílio, em outubro de 1962, há um trecho que discorre sobre uma mútua colaboração entre o divino e o humano.
“Pode dizer-se que o céu e a terra se unem na celebração do Concílio: os santos do céu, para proteger o nosso trabalho; os fiéis da terra, continuando a rezar a Deus; e vós, fiéis às inspirações do Espírito Santo, para procurardes que o trabalho comum corresponda às esperanças e às necessidades dos vários povos. Isto requer da vossa parte serenidade de espírito, concórdia fraterna, moderação nos projetos, dignidade nas discussões e prudência nas deliberações.”
Sobre isso, o Professor Felipe lembra que a fé da Igreja abrange toda a comunidade católica – clero e leigos – pois todos são membros de Cristo e o Espírito Santo age em todos os seus membros. “Na História da Igreja, houve muitos santos e santas que tiveram participação decisiva na vida da Igreja, e eram leigos, como São Francisco, Santa Catarina de Sena e muitos outros.”
Por fim, o professor Felipe recorda a ação eficaz do Espírito Santo no Concílio e nas ações regidas por meio Dele. “Eu pude ver a RCC surgir logo após o término do Concílio que ocorreu em 1965. Em 1967, nos Estados Unidos, rapidamente se espalhou por toda a Igreja no mundo inteiro como uma corrente de graça que a atravessou, como disse o frei Inácio Cantalamessa. Já em 1973 tínhamos contato com a RCC nas experiências de Oração que Monsenhor Jonas realizava aqui entre nós,” concluiu.