Em audiência com membros do Dicastério para a Comunicação, Francisco pediu comunicação cristã voltada para a teologia do substantivo
Da redação, com Vatican News
Comunicar o Amor com o corpo e alma, isso é o que pediu o Papa Francisco, nesta segunda-feira, 23, durante discurso aos membros do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, que iniciam hoje a sua Plenária. A audiência foi realizada na Sala Regia, no Vaticano, e contou com a presença de inúmeros funcionários, entre eles jornalistas brasileiros e lusófonos.
O Pontífice preferiu entregar o discurso já preparado e improvisar algumas palavras sobre o tema da comunicação: “Comunica-se com a alma e com o corpo, comunica-se com a mente, com o coração, com as mãos; comunica-se com tudo. O verdadeiro comunicador se entrega, não se poupa. É verdade que a comunicação maior é o Amor, quando no amor se vê que há a plenitude da comunicação: amor a Deus e nosso”.
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Todavia, advertiu o Santo Padre, comunicar não é fazer propaganda. “Gostaria que a nossa comunicação fosse cristã”, afirmou, e não feita de proselitismo, como dizia claramente Bento XVI. “Se quiserem comunicar uma verdade ‘mais ou menos’, mas sem se envolver, sem testemunhar com a própria vida, com a própria carne aquela verdade, parem, não o façam. Há sempre a assinatura do testemunho em cada coisa que fazemos. Testemunhas: cristãos quer dizer testemunhas. Mártires. Essa é a dimensão do martírio da nossa vocação: ser testemunhas”, afirmou.
“O ar de mundanidade não é algo novo do século XXI: não. Sempre foi um perigo, sempre houve a tentação, sempre foi um inimigo: a mundanidade. (…) Esta é a segunda coisa que gostaria de dizer: não ter medo. Somos poucos? Sim, mas com a vontade de ‘missionar’, de mostrar aos outros quem somos. (…) E comunicar é isto: comunicar esta riqueza grande que nós temos”, destacou Francisco.
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Para o Papa, o comunicador deve fazer entender o peso da realidade dos substantivos que refletem a realidade das pessoas. “E esta é uma missão do comunicar: comunicar com a realidade, sem edulcorar com os adjetivos e os advérbios. ‘Isto é algo cristão: para que dizer autenticamente cristão? É cristão! Só o uso do substantivo ‘cristão’, ‘sou de Cristo’, é forte: é um adjetivo substantivado sim, mas é um substantivo. Passar da cultura do adjetivo à teologia do substantivo. E vocês devem comunicar assim. (…) A beleza não necessita da arte rococó”, finalizou o Pontífice, pedindo que os jornalistas comuniquem com alegria o Evangelho.
Saudação do prefeito do Dicastério
Na saudação ao Santo Padre, em nome de todos os presentes, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, agradeceu Francisco por abrir, com a audiência, a segunda plenária do Dicastério. Sobre o Dicastério, Ruffini afirmou: “É uma única grande comunidade ao redor do Papa formada por cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos. O que une todos é a vontade de levar a palavra do Papa ao mundo, de olhar os homens e as coisas com os olhos do Evangelho e torná-las visíveis através do rádio, web, jornal, redes sociais e de todos os instrumentos de difusão”.
Ruffini destacou que o Dicastério está ciente de absorver recursos importantes e esse fato o impulsiona a fazer frutificar (em cada país, em cada língua, e em todos os modos), os talentos que foram confiados. Os meios de comunicação social, como Francisco recordou em outras ocasiões, também foram citados por Ruffini em seu discurso:
“[Os meios de comunicação social] têm uma tarefa fundamental de construir ou destruir, de unir ou dividir, de orientar ou de confundir. Estamos fazendo e continuaremos a fazer sempre mais para que o investimento sobre o nosso trabalho produza bons frutos. Facilite a comunicação entre nós, na Cúria. Facilite a comunicação entre a Santa Sé e as Igrejas locais. Torne evidente o horizonte de significado que só a fé pode dar. Faça dos nossos meios de comunicação o lugar onde as Igrejas locais se conhecem. E onde mesmo aqueles que não acreditam possam encontrar respostas às suas perguntas”.
O prefeito do Dicastério salientou ainda que todos os dias os jornalistas se deparam com a dificuldade de estar à altura da tarefa que os foi confiada. “A distância entre o que somos e que gostaríamos de ser. Experimentamos a tristeza pelo que não conseguimos realizar. Mas também e sobretudo a beleza do ser, com as nossas imperfeições, os nossos erros, a nossa pequenez, testemunhas e instrumentos da verdade, que contamos através das nossas fotos, nossos vídeos, nossos artigos, nossas vozes”.
Estamos no meio de um caminho de reforma, explicou Ruffini. Segundo o prefeito do Dicastério, a reforma os levou a sair de suas velhas casas para construir uma nova, e não serem apanhados desprevenidos, temerosos, pela tempestade da mudança, que transformou radicalmente a comunicação. “Sabemos também que este caminho só faz sentido se for feito juntos, entre nós e em todos os cantos do mundo. O que nos torna fortes é sermos uma rede. O que nos enfraquece é o nosso não ser suficientemente. O que nos torna fortes é a verdade. O que nos torna fracos é o pensamento de sermos capazes de fazer tudo sozinhos. O que nos torna fortes é a consciência do limite, dos nossos limites. O que nos torna forte é nunca nos esquecermos que somos membros uns dos outros”.