Mundo Digital

Colaboração é chave para proteger menores na internet, diz Papa

Papa recebeu participantes do Congresso Internacional “A dignidade do menor no mundo digital

Da redação, com Rádio Vaticano

Papa Francisco definiu a vulnerabilidade dos menores na rede como um “problema novo e gravíssimo” / Foto: Rádio Vaticano

“Trabalhar juntos para ter sempre o direito, a coragem e alegria de olhar nos olhos as crianças do mundo.” Esta foi a exortação do Papa Francisco aos participantes do Congresso Internacional “A dignidade do menor no mundo digital”, recebidos em audiência nesta sexta-feira, 6, no Vaticano.

Em seu longo discurso, o Pontífice definiu a vulnerabilidade dos menores na rede como um “problema novo e gravíssimo, característico do nosso tempo”.

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.: Na íntegra, discurso do Papa em espanhol

De fato, observou o Papa, “vivemos num novo mundo, que quando éramos jovens não podíamos nem mesmo imaginar”. O mundo digital é fruto do progresso da ciência e da técnica que transformou em poucas décadas a vida do homem e seu modo de se comunicar e está transformando inclusive seu modo de pensar e de ser.

“De um lado, vivemos esta transformação com admiração e fascínio e, de outro, com medo e temor pelas consequências. Sentimentos contrastantes que nos levam a questionar se somos capazes de guiar os processos que nós mesmos criamos ou se estamos perdendo o controle”, destacou o Papa. Para o Pontífice, esta é a pergunta existencial da humanidade de hoje diante dos diversos aspectos da crise global.

Francisco citou também alguns dados: dos mais de três bilhões de usuários da internet, mais de 800 milhões são menores. “O que encontram na rede? E como são considerados por quem pode administrá-la? Não entendemos nesses anos que esconder a realidade dos abusos sexuais é um gravíssimo erro e fonte de muitos males?”, questionou.

Por isso, o Papa destacou que é preciso manter os olhos bem abertos e enfrentar o aspecto obscuro da rede, que se tornou um lugar propício para os seguintes crimes: pornografia, bullying, tráfico online de pessoas, prostituição, transmissão ao vivo de estupros e novos fenômenos como “sexting” (divulgação de conteúdos eróticos e sensuais através de celulares) e “sextortion” (extorquir através da exploração sexual sem coerção física).

Diante desses fatos, as pessoas permanecem certamente horrorizadas, mas também desorientadas. E a isso, se acrescenta o difícil diálogo entre a antiga e a nova geração digital.

Três erros de perspectiva

As palavras de Francisco são, portanto, de encorajamento e de mobilização conjunta. E para que seja eficaz, o Papa convida a combater três possíveis erros de perspectiva.

O primeiro é não subestimar o dano que esses crimes provocam nos menores e inclusive nos próprios adultos. “Seria uma grave ilusão pensar que uma sociedade em que o consumo aberrante do sexo se expande entre os adultos seja depois capaz de proteger de modo eficaz os menores.”

O segundo erro é pensar que as soluções técnicas automáticas, como os filtros do computador para identificar e bloquear a difusão de imagens, sejam suficientes para combater o problema. “Certamente essas soluções são necessárias, mas também é necessário a força da exigência ética.”

O terceiro erro é pensar a rede como o reino da liberdade sem limites, quando – na verdade – também necessita ser gerida por leis, com a colaboração de governos e da polícia. Francisco manifesta seu apoio à Declaração redigida pelos participantes do Congresso e pede a colaboração também das lideranças religiosas, garantindo a disponibilidade e o empenho dos católicos.

Neste ponto, o Pontífice afirma que a Igreja Católica se tornou sempre mais consciente nos últimos anos do fato de não ter protegido suficientemente os menores dentro de suas instituições: “Vieram à luz fatos gravíssimos dos quais tivemos que reconhecer as responsabilidades diante de Deus, das vítimas e da opinião pública. Justamente por isso, a Igreja sente hoje um dever particularmente grave de se empenhar de modo sempre mais profundo para proteção dos menores e de sua dignidade”.

O olhar de uma criança

O Papa concluiu falando de quando os seus olhos cruzam o olhar de inúmeras crianças em suas audiências e viagens:

“Ser visto pelos olhos das crianças é um experiência que todos conhecemos e que nos toca profundamente no coração, e que nos obriga também a um exame de consciência. O que nós fazemos para que essas crianças possam nos olhar sorrindo? O que fazemos para que esses olhos não sejam corrompidos por aquilo que encontrarão na rede? Trabalhemos portanto para ter sempre o direito, a coragem e a alegria de olhar nos olhos as crianças do mundo.”

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