Prosseguindo com o ciclo de reflexões sobre vícios e virtudes, Francisco falou sobre o acúmulo excessivo de bens e suas consequências na vida do homem
Da Redação, com Vatican News
A avareza foi o centro da catequese do Papa Francisco na Audiência desta quarta-feira, 24. Ao se encontrar com os fiéis reunidos na Sala Paulo VI, ele deu continuidade ao ciclo de reflexões sobre vícios e virtudes.
O Pontífice frisou que a avareza não é um pecado relacionado apenas às pessoas com grandes patrimônios. Ele afirmou que esse é “um vício transversal, que muitas vezes nada tem a ver com o saldo da conta corrente”, acrescentando que se trata de “uma doença do coração, não da carteira”.
Para exemplificar, Francisco citou que os padres do deserto evidenciaram como esse mal também podia se apoderar dos monges. Depois de terem renunciado a enormes heranças, alguns se apegaram a objetos de pouco valor em suas celas, deixando de emprestá-los ou partilhá-los.
Recordando o comportamento de crianças que seguram um brinquedo e dizem “é meu, é meu”, o Santo Padre declarou que “esse tipo de apego nos tira a liberdade, e aí reside uma relação doentia com a realidade, que pode levar a formas de acumulação compulsiva ou patológica”.
Reflexão da morte
Assim, para curar essa doença, os padres do deserto propuseram como método a reflexão da morte, prosseguiu o Papa. Ainda que uma pessoa se esforce para acumular bens, “eles não caberão no caixão, nós não poderemos levar os bens conosco”, expressou, complementando que neste aspecto reside a insensatez desse vício.
“O vínculo de posse que construímos com as coisas é apenas aparente, porque não somos os donos do mundo: esta terra que amamos não é na verdade nossa, e nela caminhamos como estrangeiros e peregrinos”, declarou o Pontífice.
Prosseguindo, ele disse que estas simples considerações levam à compreensão da origem da avareza, mas também sua razão mais oculta: “é uma tentativa de exorcizar o medo da morte: procura certezas que na realidade desmoronam no momento em que as apreendemos”, exprimiu.
Bens que se tornam donos dos homens
O Santo Padre relembrou a pregação de Jesus no Sermão da Montanha, quando pediu para os homens não ajuntarem tesouros na terra, mas no céu (cf Mt 6,19-20). Ele ressaltou que “podemos ser senhores dos bens que possuímos, mas muitas vezes acontece o contrário: em última análise, são eles os nossos donos”.
Francisco citou que alguns homens ricos já não são livres, pois o acúmulo dos seus bens exige cuidados. Isso os faz se sentirem ansiosos, “porque um legado se constrói com muito suor, mas pode desaparecer num instante”. Por fim, “esquecem-se da pregação evangélica, que não afirma que a riqueza em si é um pecado, mas é certamente uma responsabilidade”.
Continuando, o Papa enfatizou que “Deus não é pobre, é o Senhor de tudo”, e lembrando um dos escritos de São Paulo, frisou que “sendo rico, Se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer por Sua pobreza” (cf. 2 Cor 8,9). Neste contexto, o Pontífice refletiu como um avarento não entende que “podia ter sido uma fonte de bênção para muitos, mas em vez disso acabou no beco sem saída da infelicidade”.
Por fim, o Santo Padre encerrou o momento de catequese destacando que “no fim da vida teremos que entregar nosso corpo e nossa alma ao Senhor, e teremos que deixar tudo”. Assim, exortou os fiéis ao cuidado e à generosidade com todos, especialmente com os que mais necessitam.