Na catequese desta quarta-feira, 25, Francisco destacou a importância dos diáconos para a Igreja e condenou a prática da calúnia
Da redação, com Vatican News
Na Audiência Geral desta quarta-feira, 25, realizada na Praça de São Pedro, o Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos para “seguir a viagem do Evangelho no mundo”. O Pontífice destacou que o evangelista Lucas mostra, com realismo, a fecundidade dessa viagem e o surgimento de alguns problemas na comunidade cristã. “Como harmonizar as diferenças que existem dentro da comunidade cristã sem que ocorram contrastes e divisões?”, questionou inicialmente o Santo Padre.
Aos milhares de fiéis e peregrinos, o Papa frisou: “A comunidade não acolhia somente os judeus, mas também os gregos, ou seja, pessoas provenientes da diáspora, não judeus, com suas culturas e sensibilidades. Também de outra religião. Nós, hoje, dizemos ‘pagãos’. Eles eram acolhidos. Essa coexistência determina equilíbrios frágeis e precários, e diante das dificuldades emerge o ‘joio’. E qual é o joio que destrói a comunidade? O joio da murmuração, o joio da fofoca. Os gregos murmuram pela falta de atenção da comunidade em relação às viúvas”.
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“Como os apóstolos agem diante desse problema?”, indagou o Pontífice, que respondeu: “Iniciam um processo de discernimento que consiste em considerar bem as dificuldades e procurar soluções em conjunto. Encontram uma saída ao dividir as tarefas por um crescimento sereno de todo o corpo eclesial e para não transcurar a ‘corrida’ do Evangelho e a atenção aos membros mais pobres”.
O Papa recordou que, com o tempo, os apóstolos adquiriram a consciência de tinham como vocação principal à oração e à pregação da Palavra de Deus, ou seja, rezar e anunciar o Evangelho, e resolveram o problema instituindo um grupo de sete homens de boa fama, repletos do Espírito Santo e de sabedoria, que, depois de receberem a imposição das mãos, se encarregaram de servir às mesas.
“Os diáconos são criados para isso, para o serviço. O diácono, na Igreja, não é um segundo sacerdote. Não, não. É outra coisa. O diácono não é para o altar não, é para o serviço. Ele é o guardião do serviço na Igreja. Quando um diácono gosta muito de ir para o altar, ele está errado. Este não é o seu caminho, e os apóstolos criam os diáconos. Essa harmonia entre serviço à Palavra e serviço à caridade é um fermento que faz crescer o corpo eclesial”, sublinhou.
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Entre os sete “diáconos” criados pelos apóstolos, o Santo Padre destacou Estevão e Felipe. “Estevão evangeliza com força e parresia (audácia), mas sua palavra encontra resistências. Não encontrando outra maneira de fazê-lo desistir, os seus adversários escolhem a solução mais mesquinha para aniquilar um ser humano, ou seja, a calúnia ou falso testemunho. Nós sabemos que a calúnia mata. Sempre. Esse “câncer diabólico”, que nasce do desejo de destruir a reputação de uma pessoa também agride o resto do corpo eclesial e o danifica seriamente quando, devido a interesses mesquinhos ou para encobrir as próprias falhas, se aliam para difamar alguém”, alertou.
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“Levado ao Sinédrio e acusado de falso testemunho, fizeram o mesmo com Jesus e o mesmo farão com todos os mártires: falsos testemunhos, calúnias”, frisou Francisco. Estêvão proclamou uma releitura da história sagrada centrada em Cristo para se defender. “A Páscoa de Jesus morto e ressuscitado é a chave de toda a história da Aliança. Estêvão denuncia, corajosamente, a hipocrisia com a qual os profetas e o próprio Cristo foram tratados. ‘A qual dos profetas os pais de vocês não perseguiram? Eles mataram aqueles que anunciavam a vinda do Justo, do qual agora vocês se tornaram traidores e assassinos’. Não usa meio termo, Estêvão fala claro, diz a verdade”.
A atitude de Estevão causou uma reação violenta dos ouvintes, e o diácono foi condenado à morte. “Ele coloca a sua vida nas mãos do Senhor e a sua oração é linda naquele momento: ‘Senhor Jesus, recebe o meu espírito’. Depois, dobrou os joelhos e gritou forte: ‘Senhor, não os condenes por este pecado'”. De acordo com o Pontífice, as palavras de Estevão ensinam que não são os bonitos discursos que revelam a identidade de homens e mulheres como filhos de Deus, mas apenas o abandono da vida nas mãos do Pai e o perdão aos que ofendem e mostram a qualidade da fé.
“A Igreja de hoje é rica de mártires – hoje, existem mais mártires do que no tempo do início da Igreja, e os mártires estão por toda parte –; a Igreja é irrigada pelo seu sangue, que é a “semente de novos cristãos” e garante crescimento e fecundidade ao povo de Deus. Os mártires não são ‘santinhos’, mas homens e mulheres de carne e osso que, como diz o Apocalipse, ‘lavaram suas vestes, tornando-as brancas no sangue do Cordeiro’. Eles são os verdadeiros vencedores”, concluiu o Papa.
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