Francisco convocou dois Sínodos dos Bispos para discutir essas temáticas tão queridas a ele: a família, em 2014-2015, e os jovens, em 2018
Kelen Galvan
Da Redação
Ao longo destes dez anos de Pontificado, o Papa Francisco demonstrou uma especial atenção às famílias e à juventude.
Os primeiros anos de seu Pontificado foram marcados pelo Sínodo dos Bispos sobre a Família. Foi a primeira vez que uma assembleia sinodal foi realizada em duas etapas: a primeira em outubro de 2014 e a segunda em 2015. Esta última contou com a participação inédita de casais nos debates.
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“Nós temos muito que agradecer ao Papa Francisco por sua dedicação e seu amor à família. De fato, quando ele convocou o Sínodo da Família, ele trouxe, para o centro da atenção pastoral da Igreja, a família como protagonista. Isso fez uma grande diferença, porque é um olhar para o modo de ser Igreja”, afirmou o presidente da Comissão Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Ricardo Hoepers.
Segundo o bispo, o modo de ser Igreja tem que ser como uma família, com amor e ternura, apesar das dificuldades. “Na família você tem relação humana, afeto, compromisso, corresponsabilidade. Esse é o modo de ser Igreja, onde o lar é uma Igreja doméstica, e onde a nossa Igreja, comunidade de comunidades, é família de famílias”, explica.
Deste Sínodo sobre a família nasceu a Exortação Apostólica Amoris Laetitia, um documento que trouxe um “ar de renovação” para a Igreja e os setores que trabalham com família, principalmente, para a Pastoral Familiar.
Dom Ricardo destaca que este documento do Papa trouxe uma grande contribuição para a Igreja no Brasil. Confirmou o trabalho que estava sendo feito pelos agentes da pastoral familiar e trouxe uma motivação ainda maior para cuidar das fragilidades da família.
“A Amoris Laetitia trouxe uma renovação plena da nossa pastoral familiar, continua nos motivando e, mais do que ideias, nos leva ao compromisso de testemunharmos o amor verdadeiro. Sim, é possível uma família que se ame verdadeiramente, é possível um vínculo profundo, permanente e duradouro. Todos aqueles contra-valores que a sociedade mostra, nós podemos mostrar que há um sentido – o amor tem um sentido, a família tem um sentido. E família cristã tem que testemunhar isso, esse pleno sentido da alegria do amor”, enfatizou.
Durante estes anos do pontificado de Francisco, aconteceram três edições do Encontro Mundial das Famílias, em 2015, na Filadélfia, em 2018, na Irlanda, e em 2022, em Roma. E o Santo Padre participou de todas as ocasiões.
Na última edição deste encontro, Francisco destacou que “a família é o lugar do encontro, da partilha, da saída de si mesmo para acolher o outro e estar junto dele. É o primeiro lugar onde se aprende a amar”, disse na Missa de encerramento do X Encontro Mundial.
Juventude
Francisco tem grande atenção aos jovens, tão afligidos por ideologias e vícios. Também a eles, foi dedicado um Sínodo no ano de 2018, com o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
Desta assembleia sinodal nasceu a Exortação Apostólica Christus vivit, na qual o Papa Francisco faz um “exame preciso” do jovem, destacando suas características e possibilidades, à luz dos conteúdos do Evangelho e dos dons que habitam em seus corações, aponta Dom Nelson Francelino Ferreira, presidente da Comissão para a Juventude da CNBB .
O bispo lembra que a Igreja não pode deixar de ‘chorar’ por algumas tragédias que afligem os jovens. Nesse cenário, o Papa Francisco chama a Igreja a colocar-se ao seu lado, escutando-os em suas frustrações, sem os julgar e os condenar, mas apenas como amigos discretos e solidários.
“Mais do que gastar energia em atraí-los para si, a Igreja precisa sair para aproximar-se deles, se apossar de suas interrogações”, afirma Dom Nelson.
Três grandes verdades
Dom Nelson resume em três pontos o que o Papa Francisco quer dizer aos jovens, a partir do documento Christus vivit:
1. Deus te ama: Se você já ouviu isso antes, não importa, quero lembrá-lo: Deus ama você. Nunca duvide, não importa o que aconteça com você na vida. Em qualquer circunstância, você é infinitamente amado.
2. A segunda verdade é que Cristo, por amor, se entregou até o fim para salvar você . Os seus braços abertos na cruz são o sinal mais precioso de um amigo capaz de ir ao extremo: aquele Cristo que nos salvou na cruz dos nossos pecados, com a mesma força da sua doação total continua a salvar-nos e a redimir-nos hoje .
3. Mas há uma terceira verdade: Ele vive! Jesus Cristo não é um bom exemplo do passado, uma lembrança, alguém que nos salvou há dois mil anos. Aquele que nos liberta, aquele que nos transforma, aquele que nos cura e conforta é alguém que vive. É o Cristo ressuscitado, cheio de vitalidade sobrenatural, revestido de luz infinita. Se Ele vive, então Ele realmente pode estar presente em sua vida, a cada momento , para enchê-la de luz. Assim nunca mais haverá solidão e abandono.
Dom Nelson afirma que, no anseio pela evangelização, acontece de, muitas vezes, as pessoas perderem-se nas precipitações, nas palavras e no imediatismo. Mas o texto bíblico (Lc 24,13-35) que inspirou o Papa na escrita desta exortação apostólica mostra o modo solidário e discreto do Ressuscitado que, primeiramente, escuta os discípulos de Emaús.
“Creio que isso nos ajudará e muito a não nos precipitarmos. A dimensão místico-Orante é um tema de transversalidade em toda a Exortação apostólica: silêncio, escuta atenta, falar coerente, Eucaristia… sem essa mística, facilmente nos perderemos”, destacou Dom Nelson.
Papa fala aos corações
Dom Nelson destaca que o Papa Francisco fala aos corações. Tem poucas palavras, porém certeiras, próprias de quem escuta, silencia e ama. “São palavras tiradas de sua dor, dúvida, desencanto e não discursos construídos em cima da retórica. São palavras ungidas com amor paternal, ternura e misericórdia, próprias daquele que os ama, respeita, não são palavras prontas, próprias de quem sabe tudo, mas próprio daquele que quer o bem da juventude”.
Também Dom Ricardo destaca que o Papa vive no seu cotidiano com uma linguagem e gestos muito próximos. “Ele por várias vezes foi visitar as famílias, entrando nas casas, abençoando os doentes. O Papa se fez Igreja conosco, se fez família, se fez um irmão entre nós. Este é o grande testemunho que ele nos dá. Olharmos um Papa que está tão próximo que, às vezes, até nos impressiona do quanto ele tem de humanidade, diante de tantos deveres e do ministério que ele exerce”.