Na Catequese desta quarta-feira da Semana Santa, 5, Francisco pediu aos fiéis que contemplem e coloquem em prática o que Jesus ensinou na cruz: transformar a dor em amor
Da redação, com Vatican News
Na Catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, 5, realizada na Praça São Pedro, o Papa Francisco recordou que, no Domingo de Ramos, toda a Igreja ouviu a liturgia da Paixão do Senhor que termina com as seguintes palavras: “Selaram a pedra”.
“Tudo parece ter acabado. Para os discípulos de Jesus, aquela pedra marca o fim da esperança”, frisou o Papa. “O Mestre foi crucificado, morto da maneira mais cruel e humilhante, pendurado num patíbulo infame fora da cidade: um fracasso público, o pior final possível”.
O Santo Padre constata que aquele desânimo que oprimia os discípulos não é totalmente estranho hoje. Em todos se adensam pensamentos obscuros e sentimentos de frustração: por que tanta indiferença em relação a Deus? Por que tanto mal no mundo? Por que as desigualdades continuam aumentando e não chega a paz tão almejada? Por que somos tão apegados à guerra, a fazer o mal uns aos outros?, questionou o Pontífice.
“No coração de cada um, quantas expectativas desvanecidas, quantas desilusões! E ainda aquela sensação de que os tempos passados eram melhores e de que, no mundo, talvez até na Igreja, as coisas não são como outrora. Em síntese, também hoje a esperança parece, às vezes, selada sob a pedra da desconfiança”, disse.
Fazer brotar da cruz a esperança
De acordo com o Santo Padre, na mente dos discípulos permanecia fixa uma imagem: a cruz. “Ali, estava concentrado o fim de tudo. Mas pouco tempo depois, descobririam na própria cruz um novo início. Do mais terrível instrumento de tortura, Deus obteve o maior sinal do amor. Aquele madeiro de morte, transformado em árvore de vida, nos lembra que os inícios de Deus começam muitas vezes a partir dos nossos fins: é assim que Ele gosta de fazer maravilhas”.
Francisco convidou então os fiéis a olharem para a árvore da cruz, para que dela brote a esperança em todos: “aquela virtude cotidiana, aquela virtude silenciosa, humilde, mas aquela virtude que nos mantém de pé, que nos ajuda a ir em frente”. “Sem esperança não se pode viver. Pensamos: onde está a minha esperança? Hoje, olhemos para a árvore da cruz para que brote em nós a esperança: para sermos curados da tristeza – mas, quantas pessoas tristes”.
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O Papa recordou então quando ele caminhava pelas ruas e gostava de observar o olhar das pessoas. “Quantos olhares tristes! Pessoas tristes, pessoas que falavam sozinhas, gente que andava só com o celular, mas sem paz, sem esperança. E onde está sua esperança hoje?”, indagou. O Pontífice reforçou que é preciso um pouco de esperança para todos serem curados da tristeza que adoece, da amargura que polui a Igreja e o mundo.
Olhando para o Crucifixo, o Santo Padre afirmou que é possível ver Jesus despojado, ferido, Jesus atormentado. “É o fim de tudo? Ali há esperança”, sublinhou.
Regressar ao essencial
“Nós temos dificuldade em despojar-nos, em fazer a verdade; revestimo-nos de exterioridade, que procuramos e cuidamos, de máscaras para nos disfarçarmos e nos mostrarmos melhores do que somos. Pensamos que o importante é ostentar, de tal modo que os outros falem bem de nós. E adornamo-nos de aparências, de coisas supérfluas; mas assim não encontramos a paz”, frisou o Papa.
Francisco afirmou que quando se vive de aparências, uma hora a maquiagem vai embora e é preciso se olhar no espelho e encarar a verdade, aquela que Deus ama, não a maquiada. “Jesus despojado de tudo nos lembra que a esperança renasce fazendo a verdade sobre nós mesmos, dizer a verdade a si mesmo, abandonando as ambiguidades, libertando-nos da convivência pacífica com as nossas falsidades. Às vezes, estamos tão acostumados a nos dizer falsidades que convivemos com as falsidades como se fossem verdades e acabamos envenenados por nossas falsidades”, alertou.
Segundo o Pontífice, é necessário regressar ao coração, ao essencial, a uma vida simples, despojada de tantas coisas inúteis, que substituem a esperança. Nesta Semana Santa, o Santo Padre aconselha um bom olhar para o guarda-roupa e um despojamento das coisas que não estão mais em uso, coisas muitas vezes “desnecessárias”. “Nós também temos tantas coisas inúteis dentro de nossos corações – e fora também. Olhe para o seu guarda-roupa: olhe para ele. Isso é útil, aquilo é inútil, e faça uma limpeza. Olhe para o guarda-roupa da alma: quantas coisas inúteis você tem, quantas ilusões estúpidas. Voltemos à simplicidade, às coisas reais que não precisam de maquiagem. Aqui está um bom exercício”, disse.
Olhar para Jesus ferido
O pedido do Papa é para que todos olhem para Jesus ferido. “A cruz mostra os pregos que lhe furam as mãos e os pés, o lado aberto. Mas às feridas do corpo acrescentam-se as da alma. Jesus está sozinho: traído, entregue e renegado pelos seus, condenado pelo poder religioso e civil, experimenta até o abandono de Deus.”
“Também nós estamos feridos: quem não o está na vida? Quem não carrega as cicatrizes de escolhas passadas, de incompreensões, de dores que permanecem dentro e são difíceis de superar? Mas também de injustiças sofridas, de palavras cortantes, de juízos inclementes?”, perguntou Francisco. “Deus não esconde aos nossos olhos as feridas que lhe trespassaram o corpo e a alma. Mostra-as para nos indicar que na Páscoa se pode abrir uma nova passagem: fazer das próprias feridas furos de luz. Como Jesus, que na cruz não recrimina, mas ama. Ama e perdoa quantos o ferem. Assim converte o mal em bem, assim transforma a dor em amor”, sublinhou.
Unir as próprias feridas às de Jesus
Por fim, o Santo Padre destacou que a questão não é ser ferido pouco ou muito pela vida, mas a questão é o que fazer com estas feridas. Segundo ele, há a opção de deixar a ferida infectar no rancor e na tristeza, ou uni-la às de Jesus, a fim de que também as chagas se tornem luminosas.
“Pensem em quantos jovens, quantos jovens, quantos jovens, que não toleram as suas feridas e procuram no suicídio uma via de salvação: hoje, em nossas cidades, muitos, muitos jovens que não veem saída, que não têm esperança e preferem ir adiante com as drogas, com o esquecimento… coitados! Pensem nisso. E você, qual é a sua droga para cobrir as feridas? As nossas feridas podem tornar-se fontes de esperança quando, em vez de nos comiserarmos, enxugamos as lágrimas dos outros; quando, em vez de ter ressentimento pelo que nos é tirado, cuidamos do que falta aos outros; quando, em vez de nos inquietarmos, nos debruçamos sobre quantos sofrem; quando, em vez de ter sede de amor por nós próprios, saciamos a sede de quem precisa de nós”.
O Pontífice exortou os católicos a se reencontrarem, deixarem de pensar em si mesmos. De acordo com o Papa, é agindo assim – como diz a Escritura – que a ferida de cada um em breve cicatrizará, e a esperança voltará a florescer.
“Pensem: O que posso fazer pelos outros? Eu estou ferido. Estou ferido pelo pecado, estou ferido pela história, cada um tem a sua ferida. O que eu faço: lambo minhas feridas assim, a vida toda? Ou olho para as feridas dos outros e vou com a experiência ferida da minha vida a curar, ajudar os outros?” “Este é o desafio de hoje, para todos vocês, para cada um de vocês, para cada um de nós. Que o Senhor nos ajude a seguir em frente”, concluiu.