Encontro com Sínodo Ortodoxo

Aos ortodoxos, Papa destaca caminho mútuo de partilha e escuta do Senhor

Francisco destacou os vínculos de fé que unem católicos e ortodoxos e lembrou a aurora pascal que iniciou com a visita de João Paulo II ao país há 20 anos

Kelen Galvan
Da redação

Papa com o Patriarca Daniel, da Romênia, durante encontro com patriarcado ortodoxo / Foto: VaticanMedia

Um dos momentos mais aguardados deste primeiro dia da viagem do Papa Francisco à Romênia foi o encontro do Santo Padre com o patriarcado ortodoxo. O Pontífice encontrou-se, nesta sexta-feira, 31, com o Patriarca Daniel e o Sínodo Permanente da Igreja Ortodoxa no Palácio do Patriarcado.

Em seu discurso, Francisco destacou que os vínculos de fé que unem os católicos e ortodoxos remontam aos Apóstolos, testemunhas do Ressuscitado, em particular ao laço que unia Pedro e André, o qual – segundo a tradição – levou a fé a estas terras.

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“Irmãos de sangue (cf. Mc 1, 16), foram-no também e de forma singular ao derramarem o seu sangue pelo Senhor. Lembram-nos que existe uma fraternidade do sangue que nos antecede e que ao longo dos séculos, como uma silenciosa corrente vivificante, nunca cessou de irrigar e sustentar o nosso caminho”, enfatizou.

O Papa lembrou que também na Romênia, como em tantos outros lugares, os cristãos, de diferentes confissões religiosas, experimentaram a perseguição e o martírio, sustentando-se mutuamente.

“O seu exemplo está hoje diante de nós e das novas gerações que não conheceram aquelas condições dramáticas. Aquilo por que sofreram, até dar a vida, é uma herança demasiado preciosa para ser esquecida ou aviltada. E é uma herança comum, que nos chama a não nos distanciarmos do irmão que a partilha. Unidos a Cristo no sofrimento e na aflição, unidos por Cristo na Ressurreição, para que «também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4)”, indicou.

Reflorescimento das relações entre ortodoxos e católicos

O Santo Padre recordou que, há 20 anos, o Papa João Paulo II esteve diante deste Sínodo e sua visita foi “um dom pascal”. “Um acontecimento que contribuiu não só para o reflorescimento das relações entre ortodoxos e católicos na Romênia, mas também para o diálogo entre católicos e ortodoxos em geral”.

Aquela viagem de João Paulo II tornou-se a primeira que um bispo de Roma dedicava a um país de maioria ortodoxa e abriu o caminho para outros eventos semelhantes.

“O meu pensamento dirige-se para o Patriarca Teoctist, de grata memória. Como não recordar o grito «unitate, unitate!» que se levantou, espontâneo, aqui em Bucareste naqueles dias? Foi um anúncio de esperança nascido do Povo de Deus, uma profecia que inaugurou um tempo novo: o tempo de caminhar juntos na redescoberta e avivamento da fraternidade que já nos une”, afirmou Francisco.

Juntos na força da memória

Nesse sentido, o Papa destacou três aspectos necessários para este caminho conjunto a ser percorrido pelos católicos e ortodoxos: a força da memória, a escuta do Senhor e um novo Pentecostes.

Sobre a força da memória, Francisco afirmou que é preciso fazer memória das raízes, que apresentam-se sãs e firmes, embora seu crescimento tenha acontecido entre distorções e os transes do tempo.

“A lembrança dos passos que demos juntos encoraja-nos a continuar rumo ao futuro com a consciência – certamente – das diferenças, mas sobretudo na ação de graças dum ambiente familiar que deve ser redescoberto, na memória de comunhão que se deve reavivar, que como lâmpada projete luz sobre os passos do nosso caminho”, desejou.

Juntos na escuta do Senhor

O Pontífice lembrou o exemplo do que o Senhor fez com os discípulos na estrada de Emaús, quando, pacientemente, os escutava falar de tudo o que sucedera, suas preocupações, dúvidas e questões. E depois conversou francamente com eles, ajudando-os a entender e discernir os acontecimentos (cf. Lc 24, 15-27).

“Também nós precisamos de escutar juntos o Senhor, sobretudo nestes últimos tempos em que as estradas do mundo levaram a rápidas mudanças sociais e culturais (…) Precisamos de nos ajudar a não ceder às seduções duma «cultura do ódio» e do individualismo (…) Precisamos de voltar a escutar, juntamente com o irmão, as palavras do Senhor, para que o coração se inflame conjuntamente e não enfraqueça o anúncio”, destacou.

Francisco enfatizou que, assim como em Emaús, o caminho alcança a meta através da súplica insistente ao Senhor para que fique conosco. E afirmou que o Senhor chama cada um à caridade: servir juntos, a “dar Deus” antes de “dizer Deus” e a ser ativo e colaborador, não passivo no bem.

Caminhar juntos para um novo Pentecostes

O Papa destacou que o trajeto que espera os católicos e ortodoxos estende-se da Páscoa ao Pentecostes, e que, daquela “aurora pascal da unidade”, surgida há 20 anos com a visita de João Paulo II, os cristãos se encaminham para um novo Pentecostes.

“O nosso caminho partiu da certeza de ter ao lado o irmão que partilha a fé fundada na ressurreição do mesmo Senhor. Da Páscoa ao Pentecostes: tempo de nos recolhermos em oração sob a proteção da Santa Mãe de Deus, tempo de invocar o Espírito uns para os outros. Que nos renove o Espírito Santo, que desdenha a uniformidade e gosta de plasmar a unidade na mais bela e harmoniosa diversidade”.

Ele finalizou o discurso convidando os ortodoxos a caminharem juntos com os católicos para o louvor da Santíssima Trindade e para benefício mútuo, a fim de ajudar os irmãos a verem Jesus.

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