Primeira meditação do abade beneditino Bernardo Francesco ao Papa e à Cúria Romana aconteceu na noite deste domingo, 10
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco ouviu na noite deste domingo, 10, a primeira meditação do monge beneditino Bernardo Francesco Maria Gianni — abade de São Miniato no Monte, em Florença —, que abriu os Exercícios Espirituais para a Quaresma em Ariccia. Para a primeira meditação do Retiro Espiritual, que tem como tema “A cidade dos desejos ardentes: olhares e gestos pascais na vida do mundo”, o abade inspirou-se em uma poesia de Mario Luzi de 1997: “Estamos aqui para isso”.
A reflexão do abade partiu da cidade de Florença, “local da geografia da graça” para Giorgio La Pira. O monge convidou o Papa e a Cúria Romana a olhar para Florença na intenção de descobrir um sinal, um indício de como Deus habita na cidade. Para Gianni, é preciso que todos assumam um olhar do alto, de graça, gratidão, fé e mistério sobre a cidade italiana que oferece, muitas vezes, a cinza sem sinal de vida ou fogo.
“Certamente não para cair nas tentações do maligno que quase gostaria que possuíssemos todas as coisas do mundo, dominando-as, condicionando-as; mas vice-versa, o olhar animado pelo Espírito Santo, pela Palavra do Senhor, um olhar de contemplação, de gratidão, de vigilância se necessário, de profecia”, afirmou o abade.
Para monge Bernardo, o olhar é um estímulo para reacender um fogo que dá novamente vida verdadeira em Cristo, no Evangelho: “Uma cidade que, com o amor da Igreja – como todas as cidades deste mundo – com a santidade da Igreja, pode voltar, deve voltar a se acender o fogo do amor. Essa é a modesta contribuição que gostaria de dar a cada um de vocês, de coração: um olhar de mistério sobre Florença, para que a nossa ação pastoral, a nossa dedicação às pessoas que nos são confiadas pelo Senhor, possam realmente ser de novo chama viva de desejo ardente, e voltar a ser um jardim de beleza, de paz, de justiça, de medida, de harmonia”.
Citando o místico da Idade Média, Ricardo de São Vítor – autor da frase: “onde há amor, também há um olhar” —, o abade de São Miniato do Monte recordou a necessidade de reconhecer os sinais e os indícios que o Senhor deixou durante sua passagem na história. “É naquele amor que se pode ler o olhar de Giorgio La Pira sobre Florença, de Jesus sobre Jerusalém e sobre todos os que encontrava. Uma perspectiva que introduz uma dinâmica pascal, tornando-nos conscientes que o momento histórico é grave porque a amplidão universal da fraternidade parece muito enfraquecida. É a força da fraternidade, a nova fronteira do cristianismo”, frisou.
A partir de um olhar do alto, o monge reafirmou que em cada detalhe da vida, do corpo e da alma, onde brilham o amor e o resgate da nova criatura, se forma a humanidade. “Gosto muito deste ‘brilhar’ do amor: de novo a luz, o fogo – surpreende como o verdadeiro milagre de uma ressurreição já em ato”, revelou o abade.
Recordando que o humanismo, como evidenciou Papa Francisco, é assim a partir de Cristo, o abade convidou os participantes do Retiro Espiritual a entreverem o rosto de Jesus morto e ressuscitado que recompõe a humanidade também fragmentada pelos sofrimentos da vida ou marcada pelo pecado. “É a imagem do misericordiae vultus”, afirmou monge Bernardo, que prosseguiu:
“Deixemo-nos guiar por Ele. Jesus é o nosso humanismo: façamo-nos inquietar sempre pela sua pergunta: ‘Vós, quem dizeis que eu seja?’. Deixemo-nos ser olhados por ele para aprender a olhar como Ele olhava. O jovem rico, fixando-o, amou-o: o encontro de olhares de Zaqueu que sobe na árvore para olhar o Senhor Jesus, que levanta o olhar para ir ao seu encontro. Um olhar que faz desaparecer o medo de não reconhecer o Senhor que vem, como confessava Santo Agostinho. Porém, o olhar que já mudou o coração”.
O abade, aludindo a Santo Agostinho, complementou: “Se não estás atento ao teu coração, não saberás jamais se Jesus está te visitando ou não”. O monge exortou o cuidado com o coração, um dos objetivos importantes do retiro. “Um coração atento, em conversão que recorde e recordando se abra para reconhecer a presença de Deus nesta nossa História e como ela se abra a esperanças ardentes, inéditas e inauditas”.
O chamado realizado por monge Bernardo é para a missão dos consagrados a uma vida simples e profética na simplicidade, onde o Senhor esteja diante dos olhos e entre as mãos e não se precise de mais nada. “’A vida é Ele, a esperança é Ele, o futuro é Ele. A vida consagrada é esta visão profética na Igreja: é olhar que vê Deus presente no mundo, embora a muitos passe despercebido’. São palavras do Papa Francisco em 2 de fevereiro de 2019 no encontro com os consagrados. Mas são palavras que creio que possam servir a todos nós aqui presentes”, concluiu.