Malta é rota de refugiados provenientes da África e Oriente Médio; fluxo migratório na região tornou-se um dos mais intensos do mundo
Thiago Coutinho
Da redação
A 36ª Viagem Apostólica do Papa Francisco — marcada para maio de 2020 e adiada devido à pandemia — tem início neste fim de semana, de 2 a 3 de abril, com destino à ilha de Malta. Apesar de pequeno, este país insular, localizado no Mar Mediterrâneo, tem grande importância geopolítica, pois se trata de uma rota marítima estratégica à Europa — especialmente nestes tempos de fluxo imigratório intenso.
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A origem de Malta remonta ao período fenício, um país ligado a importantes rotas comerciais que envolviam Oriente Médio, África e Europa. “No contexto atual, Malta é um país mais ao sul da Europa, o que o coloca no meio do caminho entre o norte da África e Europa, especialmente Itália, uma de suas portas de entrada”, explica Marcus Vinícius Zecchini, licenciado e bacharel em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Presidente Prudente.
Porta de entrada para imigrantes
Malta, igualmente, é reconhecida por receber de maneira generosa os imigrantes. Não por acaso, “Eles nos trataram com rara humanidade” será o lema desta viagem, retirado do livro dos Atos dos Apóstolos (Atos 28, 2).
“Malta tem esta fama de que gosta de receber pessoas. Creio que o Papa também acredita neste bom tratamento dispensado aos refugiados”, afirma Zecchini.
A perspectiva, porém, de uma tendência benéfica nesta crise migratória ainda não está no horizonte: existem muitos conflitos nas regiões às cercanias de Malta — Oriente Médio, África e o atual no leste europeu. “Difícil entender que de fato haverá alguma estabilização. O ACNUR [Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados] tem algumas políticas para este fluxo tão grande [de imigrantes]: doações financeiras para ajudar essas pessoas, reencontro de famílias que se separam [no processo], mas não há uma perspectiva benéfica para esta população. Até porque, o refugiado é uma pessoa que sai do seu país em estado de emergência, sem dinheiro e sem recursos abundantes. Por isso não têm condições dignas quando chegam a outros países”, lamenta Zecchini.
Outro problema que o especialista destaca são as condições em que esses refugiados chegam aos países em que buscam abrigo. Muitos deles ficam no que ele classifica como “limbo jurídico”. “Eles não têm uma cidadania dentro deste novo território e acabam por não terem os benefícios de um cidadão”, observa.
Acordo de redistribuição
Em 2019, as autoridades de Malta formalizaram um acordo com países vizinhos para que todos pudessem dividir a responsabilidade de receber esses imigrantes. “Foram acordos firmados para que Malta, que é um país muito pequeno, não concentrasse tantos imigrantes. E que essa população fosse redistribuída para outros países que também participaram do acordo, como Portugal, Alemanha e Itália, que aceitaram um número muito pequeno de pessoas”, explica o geógrafo.
Malta, como outros países europeus, tem uma renda per capita alta e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) idem. Por outro lado, a realidade de muitos países ao redor da ilha é diametralmente oposta. Esta é uma das razões pelas quais o fluxo migratório naquela região, e em diversas outras do mundo, persiste.
“A riqueza e a ótima qualidade de vida não só de Malta, como de várias partes da Europa, para que o continente seja alvo de imigrações em massa. O sonho não só de refugiados, que saem de maneira forçada de seu país, mas também de imigrantes de fato, que pensam em sair de seus países”, detalha Zecchini.
África e Oriente Médio são duas regiões que estão sempre em conflito. Além disso, são países pobres. Como Malta fica próximo, acaba se tornando destino para quem quer deixar esses países. “Pobreza, seca, fome, problemas ambientais acabam corroborando para que estas pessoas busquem este sonho europeu de bem-estar social. Acabam criando essa ilusão que a Europa será um paraíso”, pondera o geógrafo.
A importância da visita papal
A visita do Papa Francisco incluirá um encontro com um grupo de migrantes no Centro Giovanni XXIII Peace Lab para Migrantes em Hal Far. O tema desta viagem também lembra a hospitalidade e calorosa acolhida que São Paulo recebeu em 60 d.C., quando seu barco naufragou e foi levado às costas de Malta.
“Sem dúvidas essa viagem chamará atenção de fiéis ao redor do mundo, vai chamar atenção para um debate que, em teoria, não pertence ao restante do mundo, pois se trata de um problema europeu. A comunidade olhará com cuidado e de uma maneira diferente o que é um refugiado e um migrante”, diz Zecchini.
O Sucessor de Pedro dá início à sua próxima jornada apostólica neste sábado, 2, quando partirá do Aeroporto Internacional de Roma/Fiumicino para Malta às 8h30 locais. Chegará ao Aeroporto Internacional de Malta por volta das 10h, quando será recebido por uma cerimônia de boas-vindas.
A seguir, confira um quadro com as principais características da presença da Igreja em Malta.
Cobertura pelo Sistema Canção Nova de Comunicação
O Sistema Canção Nova de Comunicação acompanha mais esta viagem apostólica. No sábado, às 18h40 (horário de Brasília), a TV Canção Nova exibirá o encontro de oração no Santuário Nacional de “Ta’ Pinu”, em Gozo.
No domingo, 3, serão transmitidos ao vivo a oração na gruta do Apóstolo Paulo, às 3h30, e a Santa Missa, às 5h15. Às 13h, será exibido o encontro do Papa com os migrantes. Na sequência, às 14h, o programa especial sobre a viagem apostólica preparado pelo Jornalismo Canção Nova.
A cobertura completa pode ser acompanhada também pela internet, nas redes sociais e na página especial dedicada às viagens apostólicas (acesse aqui).