Presidente executiva da ACN lembra várias ocasiões em que o Papa Francisco demonstrou seu apoio ao trabalho feito pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
Da redação, com ACN

Papa Francisco /Foto: Stefano Costantino SOPA via Reuters
A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) lamentou a morte do Papa Francisco, nesta segunda-feira, 21, aos 88 anos. A Presidente Executiva da ACN, Regina Lynch, fez um pronunciamento, no qual afirmou que Francisco foi “o Pontífice das pessoas marginalizadas e um lutador incansável pela liberdade religiosa e pelos cristãos oprimidos”. “É assim que o lembramos e confiamos que agora temos outro defensor no céu para o nosso trabalho”, disse.
Ela recordou que encontrou-se várias vezes com o Papa Francisco e ele demonstrou repetidamente sua “boa vontade para com o nosso trabalho”, disse Lynch. Em particular, Lynch recordou de uma viagem ao Iraque em março de 2021, quando representou a Reunião das Agências de Ajuda às Igrejas Orientais (ROACO), como parte da delegação do Papa. Enquanto estava lá, ele visitou as Planícies de Nínive, onde a ACN reconstruiu muitas casas, igrejas e mosteiros cristãos. “No avião, tive a oportunidade de falar com o Papa Francisco. Ele agradeceu muito à ACN e aos benfeitores por tudo o que fazemos pelos cristãos no Oriente Médio e no mundo todo. Ele expressou o mesmo sentimento em outras ocasiões”, enfatizou a presidente executiva da instituição.
Em 2016, uma doação pessoal do Papa Francisco apoiou o fornecimento de assistência médica aos cristãos deslocados das Planícies de Nínive, que haviam encontrado refúgio na região autônoma do Curdistão. No mesmo ano, o Papa Francisco recebeu uma delegação da ACN e enviou um vídeo espontâneo de saudação aos benfeitores para o Ano Santo da Misericórdia, no qual dizia: “Convido todos vocês, com a ACN, em todo o mundo, a realizar obras de misericórdia, obras de misericórdia duradouras.”
Gestos de humor e cordialidade
Em 2017, o Papa Francisco autografou uma Lamborghini que recebeu como doação e a leiloou. Um terço da renda foi destinado à ACN, com um pedido de apoio a projetos para cristãos no Iraque. “Ações como essa ressaltam o humor sutil do Papa, pelo qual tantas pessoas o admiravam”, disse Lynch.
Durante um Angelus dominical em 2018, na Praça de São Pedro, o Papa Francisco acendeu uma vela feita pelos parceiros do projeto ACN na Síria, demonstrando assim seu apoio à campanha de Advento da fundação: Velas pela Paz na Síria. “Que estas chamas de esperança afastem as trevas da guerra”, disse o Papa na ocasião. “Rezemos e ajudemos os cristãos a permanecerem testemunhas de misericórdia, perdão e reconciliação no Oriente Médio.”
Proximidade espiritual com os cristãos oprimidos
Em agosto e setembro de 2019, o Papa Francisco recebeu novas delegações da ACN. Ele abençoou 6.000 terços e um ícone – parte de uma iniciativa pastoral da ACN em conjunto com igrejas locais na Síria para levar conforto aos familiares enlutados das vítimas da guerra. Após a bênção dos terços em 15 de agosto, o Papa Francisco convidou o então presidente executivo, Thomas Heine- Geldern , a se juntar a ele na janela do palácio apostólico para o Angelus e, mais uma vez, pediu orações pela Síria.
Mulheres da Nigéria que haviam sido sequestradas e abusadas pelo grupo terrorista Boko Haram foram recebidas por Francisco no Vaticano, em duas ocasiões. A ACN apoiou o tratamento de traumas sofridos por elas e as convidou para a Europa para testemunharem o que lhes aconteceu.
“Em inúmeros discursos, o Papa Francisco se posicionou em favor dos cristãos perseguidos, dos direitos humanos e da liberdade religiosa. Cada uma dessas declarações, cada oração, cada gesto de atenção confortou as pessoas atendidas pelos projetos da ACN e lhes devolveu a dignidade. Por isso, somos eternamente gratos”, disse Lynch.
O Papa Francisco também falou com firmeza sobre uma discriminação “educada” e velada contra os cristãos, que se espalha cada vez mais no Ocidente, disse a presidente executiva da ACN. “Somos gratos ao Santo Padre por esta análise corajosa. Ela deve nos inspirar a proteger valores comuns que são sagrados para os fiéis de todas as religiões.”
Papa do diálogo
Os muitos esforços do Papa Francisco no diálogo ecumênico e inter-religioso também não devem ser esquecidos. Uma expressão disso é, por exemplo, o Documento de Abu Dhabi sobre a Fraternidade Humana, produzido com líderes religiosos muçulmanos. “Para os nossos projetos no Oriente Médio e na África, este diálogo expressa um desejo ardente e uma necessidade de nos unirmos contra a intolerância e o fundamentalismo e de alcançar a liberdade religiosa para todas as pessoas. O Papa Francisco estabeleceu o padrão aqui”, disse Lynch.
Isso também se aplica ao encontro do Papa Francisco com o líder xiita aiatolá Ali al-Sistani, durante sua viagem ao Iraque em 2021. “Este gesto corajoso atraiu mais atenção para a minoria cristã no Iraque e foi um passo importante em direção à igualdade de direitos — embora esse objetivo ainda esteja longe de ser alcançado.”
Em 2017, o encontro em Cuba entre o Papa Francisco e o Patriarca Ortodoxo Russo Kirill e sua declaração conjunta atraíram a atenção internacional. “Embora este diálogo tenha sofrido graves reveses em decorrência da guerra na Ucrânia, a porta deve permanecer aberta”, disse o presidente da ACN. “Muitos cristãos morreram sob o comunismo pela fé comum. Após os últimos acontecimentos, a reconciliação é certamente uma longa jornada, mas é uma tarefa que Jesus nos confiou.”
Evangelização e oração
Houve muitos pontos de contato entre a ACN e o Papa Francisco, não apenas em seu compromisso com a liberdade religiosa e os cristãos perseguidos, mas também em seu compromisso com a evangelização e a oração. Por exemplo, o Papa Francisco expressou diversas vezes seu apoio à campanha internacional “Um Milhão de Crianças Rezam o Terço”, que a ACN coordena anualmente. Por exemplo, em outubro de 2021, na Praça de São Pedro, ele disse: “A fundação Ajuda à Igreja que Sofre organizou a campanha ‘Um Milhão de Crianças Rezam o Terço’ pela unidade e pela paz. Encorajo as pessoas a se juntarem a este belo evento, no qual crianças de todo o mundo estão envolvidas.”
Em 2018, ele escreveu o prefácio do YOUCAT para crianças, um livro para ajudar as crianças a compreenderem a Fé. Recentemente, ele também escreveu o prefácio da próxima publicação do YOUCAT, “Amor para sempre”, que trata de amor e matrimônio. Nele, o Papa Francisco fala sobre o tango, a dança tradicional de seu país, a Argentina, e lembra às pessoas o significado de Amoris Laetitia. “Ele encoraja os jovens a acreditarem na aventura de um amor eterno e fala sobre uma dança de esperança. Esperamos que ele agora esteja desfrutando da plenitude desse amor no qual acreditava tão firmemente”, disse Lynch.
Sobre a ACN
A ACN (Ajuda à Igreja que Sofre) é uma Fundação Pontifícia que apoia, por meio de informação, oração e ação, os fiéis onde quer que sejam perseguidos, oprimidos ou enfrentem necessidade. Fundada no Natal de 1947, a ACN foi elevada à condição de Fundação Pontifícia da Igreja em 2011.
Todos os anos, a instituição atende cerca de 5.000 pedidos de ajuda pastoral da Igreja em mais de 130 países. Os projetos apoiados incluem: formação de seminaristas, impressão de Bíblias e literatura religiosa – incluindo a Bíblia da Criança da ACN com mais de 51 milhões de exemplares impressos em mais de 190 línguas -, apoio a padres e religiosos em missões e situações críticas; construção e reconstrução de igrejas e demais instalações eclesiais; meios de transporte para evangelização; programas religiosos de comunicação; ajuda a refugiados e vítimas de conflitos.