Pregador do Retiro Espiritual do Papa e da Cúria Romana, abade Bernardo Francesco realizou na tarde desta segunda-feira, 12, sua terceira meditação
Da redação, com Vatican News
Na tarde desta segunda-feira, 11, o abade Bernardo Francesco Maria Gianni, que está propondo ao Papa Francisco e aos membros da Cúria Romana as meditações para os exercícios espirituais, refletiu sobre a necessidade de um sopro delicado sobre as brasas da esperança e da confiança nos tempos atuais. “Deus nos quer capazes de sonhar como Ele e com Ele enquanto caminhamos atentos à realidade”, exortou.
Giorgio La Pira voltou a ser citado nas meditações do abade, assim como a poesia de Mário Luzi e de Romano Gardini. As citações orientaram a proposta do pregador a cerca de um olhar evangélico sobre as cidades, a fim de que se tornem “lugares ardentes de amor, de paz e de justiça”.
“É o que nos faz celebrar Mário Luzi. A cidade que foi o sonho de Giorgio La Pira, é uma cidade que precisa reavivar o fogo para que a humanidade volte a contemplá-la com renovada esperança, reconhecendo-nos, como seguidamente tentamos dizer, um lugar onde passa o Senhor, um lugar visitado e visitável pelo Senhor”, sublinhou o abade beneditino.
O pregador prosseguiu recordando aos presentes que o fogo do amor de Jesus é confiado também ao “testemunho”, à “custódia” e à “paixão” de cada um. De acordo com monge Bernardo Francesco, a Quaresma permite reavivar o fogo que ficou menos ardente por resignação, por hábito, por uma “mornidão” justamente repreendida por importantes páginas do Apocalipse.
“É verdade, a Carta aos Romanos, capítulo 11 versículo 20 nos recorda: os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis. Mas como podemos nos considerar dispensados da busca apaixonada do combustível necessário para manter acesa, ardente, e em crescimento a chama da vocação que recebemos?”, questionou o monge.
O abade alertou também sobre a presunção humana de não “precisar de nada”, e frisou: “Nos consideramos realmente dispensados de considerar seriamente e cuidar deste dom imenso que o Senhor nos doou, com uma vida de oração, de escuta da sua Palavra, alimentando-nos da santa e divina Eucaristia, vivendo uma fraternidade radical que derive da escuta da Palavra e da conformação à lógica eucarística com a qual a vida divina se abre entrando dentro de nós. (…) E realmente se entra (…) misticamente com a força do Espírito Santo”, comentou.
“Um sopro que é a força do Espírito Santo que se digna de passar através de nós, que se digna transformar as nossas fraquezas, as nossas fragilidades, tornando-nos capazes de reacender novamente aquela chama dos desejos ardentes”, continuou o pregador.
Recordando mais uma vez as palavras do profeta da esperança, Giorgio La Pira, o monge lembrou que um homem pode nascer quando é “velho”, e afirmou que isso acontece quando a humanidade sente-se necessitada da necessidade, desejosa do desejo, e quando realmente participa do evento pascal e de um autêntico renascimento a partir do alto.
“São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios, usa palavras de extraordinária força evocativa e de grande verdade espiritual e antropológica: ‘Por isso, não desanimamos. Mesmo se o nosso físico vai se arruinando, o nosso interior, pelo contrário, vai-se renovando dia a dia’”, completou o pregador que frisou: “Não se deve se render às cinzas dentro e fora de nós porque esta segunda criação pode se realizar em cada homem, através de cada palavra, através de cada acontecimento”.
“Uma perspectiva que a mim parece restituir à condição humana uma dignidade à qual não se deve banalmente se congratular com uma auto referencialidade pecaminosa. Pelo contrário, leva-a a uma inquietude que gere Páscoa por tudo e de qualquer modo em uma perspectiva que decidimos contemplar no espaço da convivência citadina, porque advertimos que principalmente ali, está reunida a grande tentação de se reconhecer só e somente como cinza inerte, fruto de uma combustão que deflagrou as esperanças e os sonhos principalmente – permitam-me dizer – das novas gerações”, sublinhou o monge.
O abade destacou a importância da humanidade não buscar resultados imediatos que produzam rendimentos políticos fáceis, rápidos e efêmeros, mas de se apoiar em ações capazes de gerar novos dinamismos na sociedade, capazes de dar plena floração ao ser humano. De acordo com o pregador, a vida é hábito, como uma constrição, como um relógio, mas há sempre o momento da decisão e esta é a “força do início”, a “força da novidade” que “nasce do espírito, do coração”.
Para monge Bernardo Francesco, na escolha ganha intensidade a liberdade do homem, uma liberdade que deve se plasmar no exemplo de Cristo ao invés de dar atenção às pessoas desiludidas e infelizes. “Não ouçamos os ‘velhos’ de coração que sufocam a euforia juvenil; vamos aos velhos que têm os olhos que brilham de esperança. Cultivemos saudáveis utopias. (…) Sonho, fogo, chama. Sonhar um mundo diverso e se um sonho se apaga voltar a sonhá-lo de novo, extraindo com esperança da memória das origens, e das brasas que talvez depois de uma vida não tão boa, estejam escondidas sob as cinzas do primeiro encontro com Jesus”, finalizou.