Frutos do pontificado

Laudato si', do Papa Francisco, inspira ações pelo meio ambiente

Iniciativa na diocese de Balsas (MA) se inspirou na encíclica para reflorestar áreas degradadas no cerrado; bispo local comenta o cuidado com a casa comum no pontificado de Francisco

Kelen Galvan
Da Redação

Papa planta uma árvore em sua visita a Bangladesh em 2017 / Foto: REUTERS/Vincenzo Pinto/Pool

O cuidado com a Criação é um tema central do Pontificado do Papa Francisco, que completa dez anos de Papado neste mês de março. Embora esta problemática tenha sido destacada por Papas anteriores, Francisco foi o primeiro a dedicar uma Encíclica inteira a esta causa.

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A “Laudato Si” (Louvado Sejas) foi publicada no ano de 2015 e foi um documento bem aceito internacionalmente. A encíclica destaca o urgente desafio de proteger  a “casa comum” e faz um apelo a renovar o diálogo sobre a maneira como o ser humano está construindo o futuro do planeta.

O ponto central do documento é a ideia da “ecologia integral”, que traz em si a noção de bem comum, princípio que “desempenha um papel central e unificador” na ética social.

Preocupação antiga

Pontífices anteriores já haviam demonstrado preocupação com a problemática ecológica, como Paulo VI, na Carta apostólica Octogesima adveniens . No documento, afirmou que esta crise é “consequência dramática” da atividade descontrolada do ser humano. Também João Paulo II debruçou-se sobre este tema referindo-se a ele em diversas situações. Dele próprio é a expressão “conversão ecológica”, citada na catequese do dia 17 de janeiro de 2001, e relembrada por Francisco na Laudato Si’ .

Na ocasião, João Paulo II destacou a favorável atenção à qualidade de vida e à ecologia. E enfatizou que não estaria em jogo apenas uma “ecologia ‘física’, atenta a tutelar o habitat dos vários seres vivos, mas também uma ‘ecologia humana’ que torne mais digna a existência das criaturas, protegendo o bem radical da vida em todas as suas manifestações e preparando para as futuras gerações um ambiente que se aproxime cada vez mais do projeto do Criador”.

Mais recentemente, Bento XVI mostrou sua preocupação com o meio ambiente em diversos discursos. Em sua Encíclica Caritas in Veritate, por exemplo, apontou como problema central “a solidez moral da sociedade”. 

“Para preservar a natureza não basta intervir com incentivos ou penalizações econômicas, nem é suficiente uma instrução adequada. Trata-se de instrumentos importantes, mas o problema decisivo é a solidez moral da sociedade em geral. Se não é respeitado o direito à vida e à morte natural, se se tornam artificiais a concepção, a gestação e o nascimento do homem, se são sacrificados embriões humanos na pesquisa, a consciência comum acaba por perder o conceito de ecologia humana e, com ele, o de ecologia ambiental. É uma contradição pedir às novas gerações o respeito do ambiente natural, quando a educação e as leis não as ajudam a respeitar-se a si mesmas”, alertou Bento XVI.

Palavras que viraram ações

Projeto “Laudato Si: reflorestando o cerrado” foi idealizado por Dom Valentim Fagundes / Foto: Diocese de Balsas

Oito anos após o lançamento da Laudato Si’, várias ações em favor do meio ambiente foram aplicadas por entidades diversas. A Igreja Católica realizou muitas iniciativas, desde a instalação de painéis solares em diversas dioceses, inclusive no Vaticano, como ações de reflorestamento.

Uma iniciativa em andamento acontece na Diocese de Balsas (MA), com o intuito de reflorestar áreas degradadas no cerrado. O projeto “Laudato Si: reflorestando o cerrado”, idealizado pelo bispo local, Dom Valentim Fagundes de Meneses, e surgiu em 2021. O intuito é a produção de mudas de árvores nativas para plantar nas 17 cidades que fazem parte da diocese ao longo dos próximos oito anos.

À frente da diocese há três anos, Dom Valentim conta que Balsas é uma região do agronegócio e por isso há muito desmatamento. E, numa conversa com agricultores, surgiu a inspiração, a partir da encíclica Laudato Si, de um projeto onde todos pudessem juntar forças e se articularem para plantar oito milhões de árvores do cerrado.

“Reunimos várias entidades e nos colocamos juntos diante do problema, nos perguntando ‘o que podemos fazer?’ Então o projeto propõe criar uma cultura e uma educação para o plantio de árvores. Nós vivemos na Amazônia legal, derrubamos muitas árvores, mas não temos o hábito de colocar a semente na terra. Deixar essa semente virar uma árvore e plantar no chão”, explicou o bispo.

O projeto acontece de forma simples, cada pessoa, inclusive as crianças, são incentivadas a plantar as sementes encontradas no entorno de suas casas, das árvores típicas da região. Foram distribuídos saquinhos para o plantio (doados por um grupo do Rio de Janeiro), e cada um contribui com o plantio conforme sua possibilidade. Também empresas, escolas, paróquias, prefeituras e outras instituições constroem seu viveiro de mudas.

“Estamos no início, neste processo de colocar a semente na terra. Não deixar que a semente se perca”, afirma Dom Valentim.

O bispo destacou ainda que o projeto vai além da Igreja, porque a “Casa comum” é para todos. E nesse sentido, já há uma boa quantidade de viveiros e muitas árvores já foram plantadas no chão.

“Espaço para colocar as mudas na terra nós temos, mas primeiro temos que criar a consciência de colocar a semente na terra. Vamos distribuindo os saquinhos e convocando, principalmente, o povo do sertão a recolher as sementes do cerrado (…) Deus criou todas as coisas com sementes e elas precisam ter a oportunidade de virar árvores e realizar sua missão”.

Consciência Ecológica

Dom Valentim afirma que a Laudato Si’ nos chama à consciência de que “se nós destruirmos a criação, a criação nos destruirá”. O bispo lembra que a Bíblia inicia com o relato da Criação, lembrando que “Deus criou tudo para todos e nos mandou cuidar”.

“A encíclica do Papa Francisco vem como um despertar profundo daquilo que é fundamental. O Criador, Deus, nos chama no dia de ‘hoje’ ao cuidado”, alertou Dom Valentim.

Segundo ele, já é possível ver respostas deste comprometimento com o cuidado com o meio ambiente, ainda que pequenas. “Mas como tudo no Reino começa pequeno, a semente de Mostarda. Nós vamos seguir com esperança”.

Veja abaixo algumas fotos do projeto na Diocese de Balsas (MA):

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