Bento XVI aos acadêmicos

Papa fala da fé e razão como bases para a contemplação da verdade

Após o encontro ecumênico na Sala do Trono do Arcebispo de Praga, o Papa Bento XVI esteve com representantes do mundo acadêmico da República Tcheca, neste domingo, 27. O local do encontro foi o Salão Vladislav, no Castelo de Praga, onde enfatizou que um aspecto essencial da missão da universidade é “a responsabilidade de iluminar as mentes e os corações dos jovens” e a busca da verdade acontece a partir da compreensão da relação entre a fé e razão.

Após a apresentação do coro universitário e a saudação do reitor da Universidade de Praga, Bento XVI felicitou esta oportunidade de manifestar a sua “estima pelo indispensável papel que as universidades e os institutos Superiores desempenham na sociedade”.

“Mantendo os valores culturais e espirituais da sociedade e oferecendo-lhes, ao mesmo tempo, a própria contribuição, o mundo acadêmico desenvolve o precioso serviço de enriquecer o patrimônio intelectual da nação e de consolidar os fundamentos do seu desenvolvimento futuro. As grandes mudanças que há vinte anos transformaram a sociedade tcheca foram causados, em parte significativa, pelos movimentos de reforma surgidos na universidades e nos círculos estudantis. Essa busca da liberdade continuou a guiar o trabalho dos estudiosos: a sua diakonia (serviço) à verdade è indispensável ao bem-estar de qualquer nação”, disse o Santo Padre.

“A liberdade que está na base do exercício da razão, tanto numa universidade como também na Igreja tem um fim preciso: visa a busca da verdade e como tal exprime uma dimensão própria do cristianismo”. Foi precisamente esta convicção que levou o Papa Clemente VI a instituir em 1347 esta famosa Universidade de Praga.

O Pontífice comentou ainda sobre a formação dos jovens na universidade, que deve incentivá-los para a busca da verdade: “Quando se desperta nos jovens a compreensão da plenitude e a unidade da verdade, estes sentem prazer em descobrir que a demanda do que podem conhecer lhes abre o horizonte da grande aventura daquilo que devem ser e do que devem fazer. Há que reencontrar a ideia de uma formação integral, baseada na unidade do conhecimento radicado na verdade”.

“Com o crescimento massivo da informação e da tecnologia nasce a tentação de separar a razão da busca da verdade, o que leva a um relativismo sob o qual se podem camuflar novas ameaças à autonomia das instituições académicas”, advertiu o Papa.

“Que sucederia se a nossa cultura houvesse de construir-se unicamente sobre temas em voga, sem grande referência a uma genuína histórica tradição intelectual, ou então sobre convicções promovidas com grande clamor e largamente financiadas? O que virá a suceder se, na ânsia de preservar um secularismo radical [da cultura], esta acabasse por se destacar das raízes que a alimentam? Não será assim que as nossas sociedades vão se tornar mais racionais, tolerantes ou capazes de adaptação. Pelo, contrário, serão mais frágeis e menos inclusivas e terão ainda mais dificuldade em reconhecer o que é verdadeiro, nobre e bom”.

Evocando João Paulo II e a sua Encíclica Fides et ratio, Bento XVI sublinhou que uma das preocupações centrais do seu predecessor era a necessidade de se superar a fratura entre ciência e religião, para o que se esforçou em “promover uma maior compreensão da relação fé/razão, entendidas como as duas asas com as quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”. Em última análise, a fidelidade ao homem exige a fidelidade à verdade, a única a poder garantir a liberdade.

“Foi esta confiança na capacidade humana de procurar e encontrar a verdade, e de viver em conformidade com ela, que levou à fundação das grandes universidades europeias. É claro que devemos hoje reafirmá-lo, em ordem a encorajar as forças intelectuais necessárias ao desenvolvimento de um futuro de autêntico florescimento humano, um futuro verdadeiramente digno do homem”, concluiu o Santo Padre.

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