Homilia do Papa Bento XVI nesta segunda, 28, na Missa celebrada na Igreja de São Venceslau, padroeiro da República Tcheca, na cidade de Starà Boleslav.
Senhores Cardeais,
Veneráveis irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Caros irmãos e irmãs,
Caros jovens,
Com grande alegria vos encontro nesta manhã, enquanto vai concluindo minha viagem apostólica na amada Republica Tcheca. A todos dirijo minha cordial saudação, especialmente ao Cardeal Arcebispo, a quem sou grato pelas palavras que me dirigiu em vosso nome, no início da Celebração Eucarística. Minha saudação se estende aos outros cardeais, aos bispos, aos sacerdotes e às pessoas consagradas, aos representantes dos movimentos e das associações leigas e especialmente aos jovens. Saúdo com deferência o Senhor Presidente da República, a quem felicito por ocasião de sua festa onomástica; cumprimento que me agrada endereçar a todos aqueles que se chamam Venceslau, e a todo o povo tcheco pelo dia de sua festa nacional.
Nesta manhã, nos reúne em torno do altar a recordação gloriosa do mártir São Venceslau, do qual pude venerar a relíquia, antes da Santa Missa, na Basílica a ele dedicada. Ele derramou o sangue sobre vossa terra, e sua águia, por vós escolhida como marca desta visita – como recordou há pouco vosso Cardeal Arcebispo – constitui o emblema histórico da nobre Nação tcheca. Este grande santo, que vós gostais de chamar de o “eterno Príncipe dos Checos”, nos convida a sempre seguir Cristo com fidelidade, nos convida sermos santos. Ele mesmo é modelo de santidade para todos, especialmente para os que dirigem o futuro das comunidades e dos povos. Mas nos perguntamos: em nossos dias, a santidade é ainda atual? Ou talvez não seja um tema pouco atraente e importante? Não se busca hoje mais o sucesso e a glória humana? Quanto dura, porem, e quanto vale o sucesso terreno?
No século passado – e esta terra o testemunhou – caíram muitos poderosos, que pareciam terem alçado as alturas mais inacessíveis. De repente se viram privados de seu poder. Aqueles que negaram e continuam a negar Deus e, consequentemente não respeitam o homem, parecem ter vida fácil e conseguir um sucesso material. Mas basta ir pouco além da superfície para constatar que, nestas pessoas, existem tristeza e insatisfações. Apenas quem conserva no coração o santo “temor de Deus” confia no homem e dedica sua existência a constituir um mundo mais justo e fraterno.
Precisa-se hoje de pessoas que sejam “crentes” e “críveis”, prontas para difundir em cada âmbito da sociedade os princípios e ideais cristãos nos quais se inspira sua ação. Esta é a santidade, vocação universal de todos os batizados, que impele cumprir o próprio dever com fidelidade e coragem, não olhando o próprio interesse egoísta, mas o bem comum, e procurando em cada momento a vontade divina.
Na página evangélica escutamos, a esse respeito, palavras muito claras: “Que vantagem – afirma Jesus – terá um homem se ganhar o mundo inteiro, mas perder a própria vida?”. Incita-nos, assim, a considerar que o valor autêntico da existência humana não é medido apenas com os bens terrenos e interesses passageiros, porque não serão as realidades materiais a saciar a sede profunda de sentido e de felicidade que existe no coração de cada pessoa. Por isso Jesus não duvida em propor aos seus discípulos a vida “estreita” da santidade: “Quem perder a própria vida por minha causa, a encontrará”. E decidido, nos repete nesta manhã: “Se alguém quer vir atrás de mim, renegue a si mesmo, tome sua cruz e me siga”. Certamente é uma linguagem dura, difícil de aceitar e colocar em prática, mas o testemunho dos Santos e das Santas assegura que é possível a todos, se confiarmos e nos entregarmos a Cristo. Seu exemplo encoraja quem se diz cristão a ser crível, isso é, coerente com os princípios da fé que professa. Não é suficiente parecermos bons e honestos; é necessário sê-lo de fato. Bom e honesto é aquele que não oculta com o seu eu a luz de Deus, não se antepõe, mas deixa Deus transparecer.
Esta é a lição de vida de São Venceslau, que teve a coragem de antepor o Reino dos Céus ao fascínio do poder terreno. Jamais se cansou de olhar para Jesus Cristo, que padecendo por nós, deixou-nos o exemplo, para que o sigamos em sua caminhada, como escreveu São Pedro na segunda leitura há pouco proclamada. Como discípulo dócil do Senhor, o jovem soberano Venceslau se manteve fiel aos ensinamentos evangélicos que lhe havia passado sua santa avó, a mártir Ludmila.
Seguindo-lhes, ainda antes de se empenhar na construção de uma convivência pacífica dentro da Pátria e com os países vizinhos, Venceslau trabalhou pela fé cristã, chamando sacerdotes e construindo igrejas. Na primeira “narração” paleoslava se lê que “servia os ministros de Deus e embelezava muitas igrejas” e que “fazia bem aos pobres, vestia os nus, dava de comer aos famintos, acolhia os peregrinos, tudo de acordo com a Palavra do Evangelho. Não tolerava que se fizesse injustiça às viúvas, amava todos os homens, fossem pobres ou ricos”. Aprendeu do Senhor a ser ““misericordioso e piedoso”, e animado pelo espírito evangélico, chegou a perdoar seu irmão, que havia atentado contra sua vida. Justamente, portanto, vós o invocais como “Herdeiro” de vossa Nação, e, em um canto bem conhecido, lhes pedis que não permita que ela pereça.
Venceslau morreu mártir por Cristo. É interessante notar que o irmão Boleslau conseguiu, matando-o, apoderar-se do trono de Praga, mas a coroa que sucessivamente seus seguidores colocavam sobre a cabeça, trazia seu nome. Ela porta o nome de Venceslau, testemunhando de que “o trono do rei que julga os pobres na verdade está solidificado eternamente”. Este fato é considerado como uma maravilhosa intervenção de Deus, que não abandona seus fiéis: “o inocente vencido venceu o cruel vencedor, à semelhança de Cristo na Cruz”, e o sangue do mártir não trouxe ódio e vingança, mas perdão e paz.
Caros irmãos e irmãs, agradeçamos juntos, nesta Eucaristia, o Senhor por haver dado à vossa Pátria e à Igreja este soberano santo. Peçamos, ao mesmo tempo, para que, como ele, nós também caminhemos com passos firmes para a santidade. Certamente é difícil, pois a fé está sempre exposta a vários desafios, mas quando se deixa atrair por Deus, que é a Verdade, o caminho se faz decidido, porque experimenta a força de seu amor. Que a intercessão de São Venceslau e dos outros santos protetores da Terra Tcheca nos obtenha essa graça. Que Maria, Rainha da Paz e Mãe do Amor, nos proteja e nos assista sempre. Amém!
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