Da Redação, com Rádio Vaticano
O Papa Bento XVI, na tarde deste domingo, 27, participou de um encontro ecumênico na Sala do Trono do Arcebispo de Praga, na República Tcheca. O Papa citou os vinte anos desde a queda do regime totalitário, durante o qual os cristãos e toda sociedade seguiram um caminho para a recuperação de ordem política. “Agora, existem novas formas de tentar limitar a influência do cristianismo na vida pública. Às vezes, sob o pretexto de que a doutrina cristã é prejudicial para o bem-estar da sociedade”, lamentou o Papa, que enfatizou a importância de perceber no que esta doutrina pode enriquecer o homem contemporâneo e cristão, principalmente quando cristãos de diferentes denominações se unem.
Em seu discurso, o Papa começou por recordar que os cristãos do país, levados pela esperança que mora neles e que deriva da mensagem evangélica, e outras pessoas de “boa vontade” da Europa que reafirmam as suas raízes cristãs, precisamente porque estas raízes continuam a oferecer alimento espiritual e moral que permite promover o bem comum e estabelecer um dialogo construtivo com pessoas de outras culturas e religiões.
“Como sugeri na minha encíclica sobre a esperança cristã, a separação artificial da vida intelectual e pública deveria nos levar a realizar uma autocrítica da idade moderna e ‘autocrítica do cristianismo moderno’ particularmente sobre a esperança que podem oferecer à humanidade. Podemos nos perguntar: o que o Evangelho tem para dizer à Republica Checa e também à Europa inteira, num período marcado pela proliferação de varias visões do mundo?”, disse o Pontífice.
E o Papa responde, explicando qual a verdade central do Evangelho: “O cristianismo aberto a tudo o que é bom na sociedade, oferece à humanidade o Evangelho da Salvação, que transcende as vicissitudes dos tempos: O cristianismo tem muito para oferecer no plano prático e moral. Oferece a salvação e alude ao desejo ardente de reconciliação e de comunhão que espontaneamente brota das profundidades do espírito humano. É a verdade central do Evangelho. E é o critério sobre o qual os cristãos voltam sempre a se focalizar no seu empenho para sarar as feridas das divisões do passado”.
O Santo Padre também encorajou os cristãos a continuarem na sua missão pelo fato das raízes cristãs da Europa continuarem a influenciar e a alimentar a vida pública do continente. “Quando a Europa se coloca à escuta da história do cristianismo, escuta a sua própria história. As suas noções de justiça, liberdade e responsabilidade social, juntamente com as instituições culturais e jurídicas estabelecidas para defender estas ideias e as transmitir às gerações futuras, são plasmadas pela sua herança cristã. Na verdade, a memória do passado anima as suas aspirações para o futuro. (…) Os cristãos não devem dobrar-se sobre si mesmos, medrosos do mundo, mas sobretudo devem partilhar com confiança o tesouro de verdade que lhes foi confiado. Ao mesmo tempo, os cristãos de hoje, (…) devem ter a coragem de convidar homens e mulheres à conversão radical que deriva do encontro com Cristo e introduz numa nova vida de graça”.
Após lançar este apelo aos cristãos para a conversão e anúncio da verdade, Bento XVI conclui que este fato constitui um motivo a mais a favor do ecumenismo: “Deste ponto de vista, compreendemos com maior clareza porque os cristãos são obrigados a se unirem a outros, recordando à Europa as suas raízes. É pelo fato delas, de maneira tênue mas ao mesmo tempo fecunda, continuarem a dar ao continente o apoio espiritual e moral que permite estabelecer um diálogo significativo com pessoas de outras culturas e religiões. Precisamente porque o Evangelho não é uma ideologia, não pretende bloquear dentro de esquemas rígidos as realidades sócio politicas que se evolvem. O Evangelho transcende as vicissitudes deste mundo e lança nova luz sobre a dignidade da pessoa humana em cada época”.