superar crises

Especialistas refletem sobre desafios de jovens para manter a esperança

Sensação de desesperança diante das diversas dificuldades têm afligido gerações mais novas, mas “o mundo poderá sim melhorar”, acredita jovem

Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: amin weslati de Pexels

Pandemia global, crises econômicas, diversas guerras começando: definitivamente os últimos anos não foram fáceis para a humanidade. Em meio a tantas tragédias e catástrofes, a vida parece se tornar cada vez mais desafiadora – e basta acessar a internet para ver que muitos partilham desta sensação, sobretudo os mais jovens.

São cada vez mais comuns publicações e memes que misturam desabafos e reclamações sobre as dificuldades. “Logo na minha vez de ser adulto” tudo se torna mais desafiador, e um sentimento cresce entre as gerações mais novas: a desesperança.

Élison Santos / Foto: Arquivo pessoal

O psicólogo clínico e PhD Élison Santos descreve que a desesperança, por muitas vezes, faz parte de um estado mental transitório. Contudo, quando essa sensação se torna contínua e duradoura, pode ser um sinal de um problema mais sério, como um transtorno psicológico que precisa ser tratado com a ajuda de um profissional de saúde mental.

Para Élison, diversos são os fatores sociais que influenciam diretamente a visão de mundo dos mais jovens. Além dos problemas econômicos, que deixam sonhos outrora possíveis cada vez mais distantes de se tornarem realidades, ele cita a percepção de instabilidade nas estruturas sociais, instituições que deveriam oferecer sustentação.

“Diante desse cenário, o jovem vê um mundo desequilibrado e instável. A presença constante de guerras, corrupção e desonestidade gera descrença. E são justamente os jovens os mais afetados, pois, por natureza, buscam nos adultos modelos de referência, e o que veem hoje é instabilidade, incerteza e medo”, indica o psicólogo.

Cenário econômico

O cenário econômico, onde o jovem vai se inserir com suas perspectivas de mercado de trabalho e planos de futuro, também pode causar preocupação. Segundo dados do levantamento “Empregabilidade Jovem Brasil”, realizado pelo Ministério do Trabalho (MTE), 14,3% dos jovens e adolescentes e brasileiros entre 14 e 24 anos não estavam inseridos no mercado de trabalho no último trimestre de 2024. Além disso, alguns dos que estão empregados acabam pedindo desligamento por problemas com os chefes e pela falta de benefícios monetários.

Edson Trajano / Foto: Arquivo pessoal

Para além das dificuldades no âmbito do trabalho e demais desafios da realidade financeira, o professor universitário Edson Trajano traz outra perspectiva: a disparidade entre os desejos de consumo e os recursos financeiros que os jovens têm à disposição. Tal sensação é ampliada pelo uso intensificado das redes sociais, que levam a uma perspectiva de consumo e de padrão de vida superior à realidade econômica de muitos jovens.

Segundo Trajano, os indicadores econômicos apontam para uma melhoria do cenário financeiro se comparado a gerações anteriores. A questão é que o comportamento de consumo – principalmente considerando a influência das redes sociais – acaba impactando na visão que se tem da própria realidade financeira.

“O problema está nas nossas expectativas de consumo. Nós temos um padrão de consumo muito maior do que as nossas possibilidades econômicas: eu não tenho condições de comprar tudo aquilo que o mercado me oferece o tempo todo, e isso gera frustrações”, explica.

Peregrinos de esperança

Em meio a este contexto caótico dos dias atuais, a Igreja vive o Jubileu 2025. E foi precisamente diante deste contexto global que o então Papa Francisco proclamou o Ano Santo com o tema “Peregrinos de Esperança”, enfatizando a importância desta virtude não apenas para os cristãos, mas para toda a humanidade.

Na bula de proclamação do Jubileu 2025, o Papa Francisco dedica especial atenção aos jovens, citando-os como um “sinal de esperança”. “Não os podemos decepcionar: o futuro funda-se no seu entusiasmo”, pontua o Santo Padre. “Que o Jubileu seja, na Igreja, ocasião para um impulso a favor deles: com renovada paixão, cuidemos dos adolescentes, dos estudantes, dos namorados, das gerações jovens! Mantenhamo-nos próximo dos jovens, alegria e esperança da Igreja e do mundo”, expressa.

E é com este ímpeto que a Igreja vive, a partir desta segunda-feira, 28, o Jubileu dos Jovens. As atividades em Roma se estenderão até o dia 3 de agosto, incluindo momentos junto ao atual Pontífice, o Papa Leão XIV. Para o pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização e responsável pelo Jubileu 2025, Dom Rino Fisichella, estes dias constituem “o momento mais esperado do Ano Santo”.

Daniel Ramos / Foto: Arquivo pessoal

Entre os jovens aos quais se referiu o Papa Francisco está Daniel Ramos, que tem 17 anos e está concluindo o Ensino Médio. O jovem afirma que se preocupa bastante com o seu futuro – e reconhece que às vezes exagera. Para ele, o cenário político do Brasil e questões ambientais são alguns dos problemas mais preocupantes. Apesar disso, considera-se otimista na maior parte do tempo e frisa como é importante manter a esperança.

“A esperança por um futuro melhor tem que estar sempre presente, porém, com o decorrer do mundo de hoje, é difícil manter esse pensamento, devido a tantas guerras e conflitos sociais e políticos. Contudo, mantenho o pensamento que o mundo poderá sim melhorar, ainda mais com o novo Papa, Leão XIV, que já está em busca de paz, cumprindo um de seus deveres como Sucessor de São Pedro”, expressa.

A virtude da esperança

O assessor da Comissão Episcopal para a Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Antônio Gomes, SDB, observa que o sentimento de desesperança é geralmente fruto de decepções e de expectativas não realizadas. “Contudo, nos caminhos que tenho percorrido, vejo uma juventude bastante engajada nas transformações, querendo um outro mundo com relações mais inclusivas”, sinaliza.

A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos Céus e a Vida Eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo.
– Catecismo da Igreja Católica, n. 1817

Padre Antônio Gomes / Foto: Arquivo pessoal

Segundo o sacerdote, a esperança não é uma simples expectativa, mas uma certeza fundada na fidelidade de Deus. Desta forma, essa virtude não se limita a aguardar um futuro distante, mas se trata de uma força viva que ilumina cada passo e que exige uma resposta ativa. “É um impulso do Espírito Santo que nos permite, como uma chama, aquecer e animar nossos corações nas horas de desânimo”, salienta.

Élison também cita que, embora um indivíduo possa se sentir pequeno diante do universo, ainda tem impacto no mundo à sua volta. “Temos uma missão e um propósito no mundo que é marcado justamente pela unicidade de nossa identidade”, afirma, “e apesar de toda a instabilidade e incerteza do mundo, eu continuo tendo um lugar que é legítimo, único, só meu, que demanda a minha presença”.

Sendo assim, a esperança não depende de aspectos externos, mas nasce dentro de cada pessoa e pode ser acessada mesmo nas circunstâncias e nos momentos mais extremos e incertos. Padre Antônio recorda que as virtudes são conquistadas a partir de um exercício permanente. “A fé, a esperança e a caridade são experimentadas no cotidiano da vida”, afirma, “e os gestos mais simples são um bom começo: gentileza, diálogo, cumprir as tarefas de casa, da escola, do trabalho, entre outros”.

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