Wojtyla costumava rezar com concentração; a ligação com o Carmelo fez parte de sua vida religiosa
Jakeline Megda D’Onofrio
Com colaboração de Danusa Rego
A religiosidade do Papa João Paulo II, como sua devoção à Virgem Maria, era aspecto bem conhecido pelos fiéis. Tratava-se de uma característica pessoal cultivada pelo Papa desde sua juventude, algo que ele alimentou mesmo em momentos difíceis.
Wojtyla costumava rezar com concentração. No período de guerra, quando as forças de ocupação nazista fecharam a Universidade, em 1939, o jovem Karol teve de trabalhar (1940-1944) em uma pedreira e, posteriormente, na fábrica química Solvay para se sustentar e evitar a deportação para a Alemanha.
O chamado ao sacerdócio viria três anos depois, resultando no início de seus estudos no seminário de Cracóvia, liderado pelo arcebispo local, Cardeal Adam Stefan Sapieha.
O Carmelo
A ligação entre o jovem João Paulo II e o Carmelo foi principalmente por causa da imagem de São José na frente do altar. Frei Zielinski Stlwan, carmelita (Santuário São José, na Polônia) conta que o Carmelo foi construído durante a vida de santo Rafax Kalinownski, que fazia obras sociais para os pobres.
Entre vários mosteiros carmelitas descalços, existe essa
característica de homenagear São José por causa de santa Tereza D’Ávila, ligada a esta espiritualidade. Muitos foram batizados com este nome, incluindo o jovem Karol.
“O primeiro nome de Wojtyla é Karol e o segundo é José, o que significa que seus pais eram muito devotos de São José. Lá se praticava e se pratica a novena antes do aniversário de São José, e o Papa frequentava essas novenas. No mosteiro, depois da primeira comunhão, ele continuava frequentando o local para se confessar”, diz frei Zielinski.
O religioso conta ainda que um dos carmelitas foi diretor espiritual e confessor do Papa, que chegou a pensar em entrar na vida carmelita. “Naquela época, quando pensou em entrar para os carmelitas, o seminário não estava funcionando por causa da guerra”.
Em 1989, João Paulo II escreveu a Exortação Apostólica Redentoris custos, sobre a figura e a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja. Depois desse documento, carmelitas se perguntavam se o Papa não homenagearia a imagem do lugar onde costumava ir quando jovem. Foi então que ele doou o seu anel papal, que está até hoje na imagem de São José dos Carmelitas de Wadowice.
“Outra grande ligação de João Paulo com o mosteiro carmelita é o escapulário. Lá, ele o recebeu pela primeira vez e o usou pela vida inteira. Saiu deste mundo vestido com o escapulário. Ele o recebeu logo após primeira comunhão”, conta frei Zielinski.
Padre, bispo, cardeal
A ordenação sacerdotal de Wojtyla aconteceu em 1º de novembro de 1946, sendo que, 15 dias depois, ele partiu para Roma, onde continuou seus estudos até 1948. Nesse mesmo ano, Karol retornou para a Polônia e foi enviado por sete meses a uma pequena paróquia em Niegowic, perto de Cracóvia.
Nos anos seguintes, ele continuou seus estudos teológicos. Em 1958, foi nomeado bispo em Cracóvia. Pouco depois, participou ativamente nos trabalhos preparatórios para o Concílio Vaticano II. Em 13 de janeiro de 1964, saiu a bula papal que o nomeou arcebispo de Cracóvia.
Nos debates conciliares, Wotjyla se pronunciava com frequência, acentuando a abertura e a prontidão da Igreja para o diálogo com os homens em qualquer situação e a dedicação permanente e prioritária à evangelização em linguagem própria dos tempos atuais. Wojtyla logo se tornou conhecido não só na Polônia, representando uma autoridade para a Igreja, mas também como filósofo, pensador e teólogo.
O intenso trabalho evangelizador foi reconhecido anos depois pelo então Papa Paulo VI. Em consistório realizado no dia 26 de junho de 1967, Karol Wotjyla foi criado cardeal. Ele ainda não sabia, mas 11 anos mais tarde seria eleito Sucessor de Pedro, missão que cumpriria por quase 27 anos.