Legado

Relembre empenho de João Paulo II no diálogo inter-religioso

Seja em documentos que escreveu ou em visitas que realizou, João Paulo II deu grandes passos rumo ao diálogo com outras religiões

Liliane Borges
Da Redação

João Paulo II eo diálogo inter-religioso

Encontro de João Paulo II e Dalai Lama em 27 de novembro de 2003, no Vaticano / Foto: Arquivo – L´Osservatore Romano

Os passos do Concílio Vaticano II em relação ao diálogo inter-religioso foram confirmados e reforçados no magistério de João Paulo II.  O Papa polonês em seus quase 27 anos de pontificado dedicou escritos importantes ao tema, bem como realizou gestos essenciais para o diálogo entre os líderes das principais religiões do mundo.

João Paulo II insistiu na via do diálogo como tentativa de aproximação com outras religiões. Em seus discursos sobre o assunto, sublinhou a importância da proximidade entre os diversos líderes para o bem dos povos e a conquista de direitos comuns.

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“O diálogo entre membros de diferentes religiões aumenta e aprofunda o respeito recíproco e abre o caminho para relações que são fundamentais na solução dos problemas do sofrimento humano. O diálogo que implica respeito e abertura às opiniões dos outros, pode promover a união e o empenho nesta nobre causa”, destacou em discurso na Índia em 1986.

Documentos

De acordo com o professor de Teologia da Universidade Europeia de Roma, padre Paolo Scarafoni, nos últimos dez anos de seu pontificado, o Papa abordou o diálogo inter-religioso de modo especial em quatro documentos pós sinodais: Ecclesia in Africa (1995), Ecclesia in America (1999), Ecclesia in Asia (1999), Ecclesia in Oceania (2001).

Nos documentos, o Pontífice destacou os elementos positivos das religiões a partir da tradição presente na vida do povo. “A  Igreja tem um profundo respeito por estas tradições e busca começar um diálogo sincero com seus seguidores (…) Os valores religiosos que essas religiões ensinam, aguardam o seu cumprimento em Jesus Cristo”, afirma no documento  Ecclesia in Asia.

Em seus artigos sobre o assunto, Padre Scarafoni afirma que João Paulo II via claramente o diálogo inter-religioso como parte essencial da missão evangelizadora da Igreja. No documento Redemptoris Missio, o Pontífice aponta esse pensamento.

“As outras religiões constituem um estímulo positivo para a Igreja: estimulam tanto a  descobrir os sinais da presença de Cristo e da ação do Espírito, quanto a aprofundar sua própria identidade e testemunhar a plenitude da Revelação, que é recebido para o bem de todos “, ressalta o Papa no parágrafo 54 na Encíclica.

O professor destaca também que João Paulo II, durante o seu magistério, identificou os pontos importantes de comunhão com as grandes religiões, como a oração, os textos sagrados e os preceitos morais. Sabendo valorizá-los, o Papa compreendeu modos de dar passos em direção ao diálogo.

Assis – 1986

Inesquecível, não somente no âmbito católico, mas como para a própria história contemporânea, foi o encontro em Assis, na Itália, em outubro de 1986. João Paulo II convocou a reunião por ocasião do Ano Internacional da Paz, da ONU. Foram convidados representantes do judaísmo, islamismo, budismo, hinduísmo, religiões africanas, ateus e outras.

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João Paulo II reunido com outros líderes religiosos em Assis, na Itália / Foto; L’Osservatore Romano

O evento dividiu opiniões, pois pela primeira vez se reuniam em local de culto católico membros de religiões tão variadas e até o momento sem diálogo entre si. As igrejas de Assis foram utilizadas para os momentos de oração de cada religião, o que causou espanto e críticas. Porém, João Paulo II tinha um objetivo claro: chamar ao diálogo e oração por meio de intenções comuns, mesmo que estes laços fossem ainda frágeis.

“Ali em Assis, ele provocou aquela mudança de mentalidade tornando visíveis as diferenças e unindo todos os líderes para que orassem pela paz no mundo inteiro. Esse ícone, o Papa em Assis, na cidade de Francisco, o homem da paz, da fraternidade universal, rompeu muitas barreiras que haviam sido criadas ao longo dos séculos”, comenta  o  presidente da Comissão Episcopal para o Ecumenismo da CNBB, Dom Francisco Biasin.

O encontro de Assis mostrou claramente que a base para a aproximação e reflexão estava na dimensão espiritual e na responsabilidade pelo bem comum. No âmbito espiritual, a oração pela paz no mundo foi o ponto de unidade, mesmo que por meio de credos diferentes. Já no contexto da responsabilidade, a busca pelos direitos humanos e o diálogo em prol da paz trouxeram as bases do diálogo.

Novo encontro

Em 2002, outro encontro de mesma natureza foi realizado em Assis por desejo de João Paulo II, reafirmando os passos já iniciados em 1986. Segundo padre Scarafoni, embora o processo tenha evoluído lentamente, o magistério de João Paulo II deixou expresso nestes encontros, com escritos e palavras, um “rosto concreto e um método definido para o diálogo inter-religioso”.

Acontecimentos significativos, como a visita à Sinagoga de Damasco em 2001, as numerosas viagens aos países asiáticos, africanos, americanos, bem como os diversos encontros com expoentes religiosos marcaram não somente o Pontificado de João Paulo II, mas a história da própria Igreja neste contexto.

Dom Biasin relata que o Papa, em todas as viagens que realizou, teve encontros com líderes religiosos, marcando um compromisso da parte da Igreja em refletir e rezar por um diálogo possível. “São sinais proféticos tão profundos que é impossível voltar atrás, é irreversível o caminho do diálogo inter-religioso”, conclui o bispo.

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