O Papa Francisco, quando era Cardeal de Buenos Aires, foi chamado para depor sobre a santidade de João Paulo II em 2005
Da Redação, com Rádio Vaticano
“Deponho por ciência direta, portanto, farei referência àquela que foi a minha experiência pessoal com o Servo de Deus João Paulo II”. Assim tem início o depoimento que Jorge Mario Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, prestou ao processo romano para a causa de beatificação e canonização de João Paulo II, na qualidade de testemunha ocular. O futuro Papa Francisco, na época com 69 anos, foi chamado a depor no Tribunal da Diocese de Roma no início do processo, em 2005.
Sobre os encontros com Wojtyla, Bergoglio destacou a sua grande capacidade de escuta em relação a todos e, também, a memória. “Ele recordava lugares, pessoas, situações com que teve contato em suas viagens, sinal de que prestava a máxima atenção a cada circunstância, e em particular, em relação às pessoas que encontrava. Sinal este, para mim, de verdadeira e grande caridade”, observou Bergolgio
Durante a visita Ad Limina em 2002, Bergoglio recordou que concelebrou com o Santo Padre e ficou profundamente tocado com sua preparação para a celebração. “Ele estava ajoelhado na sua capela privada em atitude de oração, e vi que de tanto em tanto, ele lia alguma coisa escrita numa folha que tinha diante de si, e após apoiava a testa sobre as mãos. Era evidente que rezava com muita intensidade por aquilo, que penso ser, uma intenção que estava escrita naquele papel. Depois, ele relia alguma outra coisa escrita neste mesmo papel e retomava a atitude de oração e assim por diante. E somente após ter terminado, levantava-se para vestir os paramentos”, relatou.
O então Cardeal conta que a mesma coisa acontecia quando lhe era apresentada, pelo Prefeito da Congregação dos Bispos, a lista de propostas para os bispos em dioceses com dificuldades ou com muito trabalho. “O Servo de Deus, antes de assinar as nomeações, deixava de lado a lista para refletir e rezar sobre ela, e após dava a resposta oportuna”, contou.
Sobre a última fase da vida de Wojtyla, Bergoglio sublinhou que João Paulo II ensinou, não escondendo nada dos outros, a sofrer e a morrer de maneira heroica. “Não deve ser esquecida a sua particular devoção a Nossa Senhora, que devo dizer, influenciou também a minha piedade. Por fim, não hesito em afirmar que João Paulo II, a meu ver, exerceu todas as virtudes, num sentido global, de forma heroica, dado à constância, ao equilíbrio e à serenidade com que viveu toda a sua existência”, relatou.
Por fim, Bergolgio destacou que sempre o considerou um homem de Deus. “A sua morte foi heroica e esta percepção, acredito que tenha sido universal. Basta pensar nas manifestações de afeto e de veneração reservadas a ele, por parte dos fiéis e não-fiéis, nos funerais”, concluiu.