Evangelho da vida

Em encíclica, JPII lutou pela vida e condenou aborto

Na Evangelium Vitae, Papa polonês deixa clara a posição da Igreja em relação a tudo que fere a dignidade da vida humana, que tem caráter sagrado e inviolável

Luciane Marins
Da Redação

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“A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar.” Foto: Arquivo

“João Paulo II foi muito firme com relação ao pecado do aborto e eutanásia, qualificando-os como crimes que jamais deveriam ser cometidos e legalizados.” Quem afirma é o bispo auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Antonio Augusto Dias Duarte. Ele esclarece que ao mesmo tempo em que João Paulo II condenava esse pecado, agia com misericórdia com as pessoas que o cometiam.

“Uma prova disso, na Encíclica Evangelium Vitae, o Papa diz com todas as letras que muito mais culpada que a mulher que pratica o aborto, é o homem que se omite ou que a força a fazer este crime. Muito mais culpados são os legisladores, a mídia que difunde essa  ideologia da cultura da morte como se fosse a solução de todos os problemas”, explica Dom Antônio.

Todo tipo de crime e atentado contra a vida humana, como o homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário bem como tudo que viola a integridade da pessoa humana e ofende sua dignidade foram deplorados pelo Concílio Vaticano II.  João Paulo II, na Evangelium Vitae, carta Encíclica em que defende o valor e a inviolabilidade da vida humana, voltou a deplorá-los em nome de toda Igreja.

Encíclica  Evangelium Vitae

Na Encíclica, publicada em 15 de março de 1995, o beato faz também uma ampla análise sobre esses crimes.

“A verdade é que estamos perante uma objetiva ‘conjura contra a vida’ que vê também implicadas Instituições Internacionais, empenhadas a encorajar e programar verdadeiras e próprias campanhas para difundir a contracepção, a esterilização e o aborto. Não se pode negar, enfim, que os mass-media são frequentemente cúmplices dessa conjura, ao abonarem junto da opinião pública aquela cultura que apresenta o recurso à contracepção, à esterilização, ao aborto e à própria eutanásia como sinal do progresso e conquista da liberdade, enquanto descrevem como inimigas da liberdade e do progresso as posições incondicionalmente a favor da vida.”

João Paulo II chama a atenção para o fato de que os crimes contra a vida parecem acontecer no respeito da legalidade. “Na verdade, porém, estamos perante uma mera e trágica aparência de legalidade, e o ideal democrático, que é verdadeiramente tal apenas quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana, é atraiçoado nas suas próprias bases.”

No caso do aborto, o uso de uma terminologia ambígua, como “interrupção da gravidez” também foi condenado pelo Papa, já que tende a esconder a verdadeira natureza do aborto e atenuar sua gravidade na opinião pública. “Talvez este fenômeno linguístico seja já, em si mesmo, sintoma de um mal-estar das consciências. Mas nenhuma palavra basta para alterar a realidade das coisas: o aborto provocado é a morte deliberada e direta, independentemente da forma como venha realizada, de um ser humano na fase inicial da sua existência, que vai da concepção ao nascimento”.

Na Encíclica, João Paulo II explica a gravidade moral do aborto provocado. “A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca poderia ser considerado um agressor, menos ainda um injusto agressor! É frágil, inerme, e numa medida tal que o deixa privado inclusive daquela forma mínima de defesa constituída pela força suplicante dos gemidos e do choro do recém-nascido. Está totalmente entregue à proteção e aos cuidados daquela que o traz no seio. E todavia, às vezes, é precisamente ela, a mãe, quem decide e pede a sua eliminação, ou até a provoca”.

O Papa reconhece que muitas vezes a opção de abortar é uma decisão dramática para a mãe e não é tomada por razões puramente egoístas ou de comodidade, mas porque se quer salvaguardar seja a própria saúde ou um nível de vida digno para os outros membros da família. Mesmo assim, ele defende que o aborto não é justificado.

“Às vezes, temem-se para o nascituro condições de existência tais que levam a pensar que seria melhor para ele não nascer. Mas estas e outras razões semelhantes, por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente”.

Diante da tentativa de justificar o aborto, defendendo que pelo menos até um certo número de dias o embrião não pode ainda ser considerado uma vida humana pessoal, o Papa também foi firme e claro.  “Na realidade, porém, ‘a partir do momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se uma nova vida que não é a do pai nem a da mãe, mas sim a de um novo ser humano que se desenvolve por conta própria. Nunca mais se tornaria humana, se não o fosse já desde então’”.

Sob o perfil moral, João Paulo II destaca que o valor em jogo é tal que bastaria a simples probabilidade de encontrar-se em presença de uma pessoa para se justificar a mais categórica proibição de qualquer intervenção tendente a eliminar o embrião humano.

“Por isso mesmo, independentemente dos debates científicos e mesmo das afirmações filosóficas com os quais o Magistério não se empenhou expressamente, a Igreja sempre ensinou — e ensina — que tem de ser garantido ao fruto da geração humana, desde o primeiro instante da sua existência, o respeito incondicional que é moralmente devido ao ser humano na sua totalidade e unidade corporal e espiritual: « O ser humano deve ser respeitado e tratado como uma pessoa desde a sua concepção e, por isso, desde esse mesmo momento, devem-lhe ser reconhecidos os direitos da pessoa, entre os quais e primeiro de todos, o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida’”.

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