Bispo fala da atualidade da exortação apostólica Familiaris Consortio, em que João Paulo II analisa a situação das famílias
Rogéria Nair
Da Redação
João Paulo II sempre teve preocupação com o papel das famílias e a preservação deste ‘Santuário da Vida’, como ele mesmo afirmava. Em seu pontificado, dedicou atenção especial a esse tema escrevendo em 22 de Novembro de 1981 a Exortação Apostólica Familiaris Consortio.
Na Exortação Apostólica, João Paulo II indica a situação das famílias em um contexto de profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura. O Sumo Pontífice observa que muitas famílias são fiéis aos princípios da instituição familiar, ao passo que outras tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres ou até mesmo se esqueceram do significado último da verdade da vida conjugal e familiar.
Presidente da Comissão Episcopal para Vida e Família da CNBB, Dom João Carlos Petrini afirma que uma dimensão muito importante nos dias de hoje é a formativa. “Somos bombardeados por todos os lados com informações e propostas de vida que não convergem nem um pouco com a perspectiva e é apresentada de uma maneira nova e atraente”.
Na exortação, fica claro que o Papa polonês considera a família e o matrimônio como uns dos bens mais preciosos da humanidade, sendo alvo de numerosas forças que procuram destruí-los ou deformá-los. O Santo Padre analisa que há pontos positivos e negativos, de forma que as famílias se apresentam como um conjunto de luzes e sombras.
“Não faltam sinais de degradação preocupante de alguns valoresfundamentais: uma errada concepção teórica e prática da independência dos cônjuges entre si; as graves ambiguidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos; as dificuldades concretas, que a família muitas vezes experimenta na transmissão dos valores; o número crescente dos divórcios; a praga do aborto; o recurso cada vez mais frequente à esterilização; a instauração de uma verdadeira e própria mentalidade contraceptiva”, escreveu João Paulo II na exortação, há 33 anos.
A atualidade da exortação
Essas dificuldades com relação à família permanecem atuais. Passados 33 anos da publicação do documento, Dom Petrini revela que ainda há o pensamento de que basta para o casal isolar-se em seu apartamento, tendo tudo à sua disposição, como internet e demais coisas sofisticadas da atualidade.
“Isso não basta. Quanto mais o casal se isola mais é vulnerável, mais está sujeito a quebrar-se, porque quando surge um problema, pode tornar-se destruidor. Quando aquele casal faz parte de um grupo de cinco ou seis casais que se encontram, conversam, compartilham uma dificuldade no trabalho, uma dificuldade no relacionamento e caminham juntos num horizonte iluminado por Cristo, então aquele casal tem muito mais facilidade para permanecer e descobrir passo a passo essa beleza de que antes estávamos falando” afirma o bispo.
Para Dom Petrini, a solução para a família, o que há 33 anos já era uma preocupação de João Paulo II, é buscar meios para consolidar uma boa vivência entre o casal e os filhos. Ele acredita ser possível encontrar uma maneira melhor de viver o amor humano em relação ao que é apresentado no cinema, novelas e escolas.
“Essa maneira melhor é como nos é apresentada com grandíssima profundidade pelo bem aventurado Papa João Paulo II”, destaca o bispo.
Em um trecho do documento, o Pontífice orienta como pode ser vivida essa harmonia em família: “A comunhão familiar só pode ser conservada e aperfeiçoada com grande espírito de sacrifício. Exige, de fato, de todos e de cada um, pronta e generosa disponibilidade à compreensão, à tolerância, ao perdão, à reconciliação. Nenhuma família ignora como o egoísmo, o desacordo, as tensões, os conflitos agridem, de forma violenta e às vezes mortal, a comunhão: daqui as múltiplas e variadas formas de divisão da vida familiar”.