João Paulo II sempre cultivou uma devoção e um amor intensos por Nossa Senhora, o que refletiu, inclusive, na escolha de seu lema episcopal
Rogéria Nair
Da Redação, com colaboração de Danusa Rego
“A devoção do Papa a Nossa Senhora e a intimidade dele com ela foi intensa a vida inteira. Podíamos vê-lo sempre com o rosário na mão. Assim, podemos ver como é importante a transmissão da fé em casa.”
O relato acima é do reitor do Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora do Rosário, de Ribeirão Preto (SP), padre Júlio César Miranda, sobre a devoção do Papa João Paulo II à Virgem Maria.
Karol Wojtyla, nome de batismo de João Paulo II, ainda era criança quando Dona Emília Kaczo-rowska, sua mãe, entrava todas as noites no quarto e, ao pé da cama, falava-lhe do amor de Deus. Consagrado a Virgem de Czestochowa, padroeira da Polônia, o pequeno Lolek, seu apelido, não apenas aprendeu a ter uma devoção materna a Nossa Senhora como também a chamá-la de Mãe e Amiga. Cresceu tendo-a como referencial de vida e devoção.
Padre Robert Jasiulewicz, OSPPE, é responsável pela Comunicação do Santuário Czestochowa, na Polônia. Ele diz que João Paulo II sabia ou sentia a importância desse lugar para a fé de toda a nação polonesa. “Já como Papa, durante homilia em frente ao santuário, disse que, aqui, podemos escutar o coração dos poloneses dentro do coração de Maria”, conta o padre.
O amor que o beato tinha ligado a esse santuário não era só de peregrinações, conforme conta o sacerdote, mas também deixou relíquias lá. Uma delas foi a estola que usava no atentado de 1981, agradecendo por ela tê-lo salvado, pela vida mais longa.
“Além da rosa e da estola, há muitas relíquias que ele entregou ao santuário, alguns com valor econômico, outros com valor espiritual. Se você quer saber como é uma pessoa, veja como se relaciona com seus pais, aqui vemos grande amor do Papa para com sua Mãe. O Papa sempre voltava aqui para homenageá-la. No dia da canonização, queremos aprender esse amor que ele como filho tinha por sua Mãe”, declara padre Robert.
A devoção também se fez presente na escolha de João Paulo II por seu lema episcopal. Em 1958, ao ser nomeado Bispo de Cracóvia, Wojtyla escolheu Totus Tuus, “Todo Teu”. Palavras próprias da dedicação a Nossa Senhora, por meio do Tratado da Verdadeira Devoção de São Luiz Maria de Monfort. A marca mariana o acompanhou para sempre; posteriormente, o Papa passou a usar a sigla “M” referindo-se à Virgem Mãe de Deus.
O atentado e a devoção
Em 13 de maio de 1981, Papa João Paulo II sofreu um atentado à sua vida enquanto percorria a Praça São Pedro antes da audiência geral. Ainda no hospital, já fora de perigo, o futuro santo recordou-se da data do atentado: aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima. João Paulo II não teve dúvidas de que a Virgem de Fátima salvou sua vida.
Ainda no hospital, programou-se para uma viagem a Portugal, no ano seguinte, para agradecer a ela. Durante sua visita, consagrou todas as nações ao Imaculado Coração de Maria. Mais tarde, em suas viagens a outros países, o beato polonês continuou a dedicar todas as nações a Nossa Senhora.
O Rosário
“A oração do Rosário não tem Maria como centro, mas sim Jesus, assim como toda a vida de Maria, cujo foco sempre foi Jesus Cristo. João Paulo II tinha um vínculo afetivo muito forte com Nossa Senhora de Fátima. Ele viveu o atentado, os momentos de sofrimento e as perseguições à Igreja sob a proteção e a inspiração da Mãe de Fátima”, afirma padre Júlio.
No 25º ano de seu pontificado, João Paulo II escreveu a Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae. Nesta carta, o Santo Padre convida os fiéis a adentrarem na ‘escola’ de Maria por meio do Santo Rosário. A respeito dessa devoção, testemunhou em sua Carta Apostólica: “O Rosário acompanhou-me nos momentos de alegria e nas provações. A ele confiei tantas preocupações, nele encontrei sempre conforto”.
O beato polonês apontava o Santo Rosário como ‘Compêndio do Evangelho’, no qual são compreendidos os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos, que sintetizam toda a vida de Jesus. Para torná-lo completamente o compêndio da vida do Salvador, o Papa instituiu, na Carta Apostólica, os mistérios da luz, no qual se contempla a vida pública de Cristo: o batismo, o milagre nas Bodas de Caná, o anúncio do Reino, a Transfiguração e a instituição da Eucaristia.
“Os mistérios luminosos contêm toda vida pública de Jesus, o que ajuda a dar sentido ao trabalho de evangelização da Igreja e potencializa suas atividades. Não só a Igreja hierárquica, institucional, mas a Igreja sal na massa, luz do mundo, os leigos que estão exercendo os mistérios luminosos no trabalho, na educação dos filhos, nos momentos de lazer. Temos uma síntese, um compêndio da nossa fé, como afirmava João Paulo II, à nossa disposição por meio do Santo Rosário“, conclui padre Júlio César.
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