João XXIII foi Papa por quase cinco anos, período em que pôde deixar um grande legado para a Igreja e o mundo
Rogéria Nair
Da Redação
Angelo Giuseppe Roncalli nasceu, em 25 de novembro de 1881, em Sotto il Monte, província de Bérgamo na Itália. Filho de João Baptista Roncalli e Ana Maria Mazzoli, um casal de camponeses de grande piedade popular. Era o quarto filho da família de treze irmãos. Sua primeira e fundamental formação religiosa ele mesmo atribuiu a seu tio Xavier. A primeira escola de vida cristã foi em seu próprio âmbito familiar, o que marcou para sempre seu caráter espiritual.
Aos doze anos, em 1892, ingressou no seminário de Bérgamo, onde permaneceu até o segundo ano de teologia. Dois anos mais tarde, mesmo sendo ainda muito jovem, recebeu a tonsura. Em 1º de março de 1896, foi admitido na ordem franciscana secular e, em 23 de maio de 1897, professou os votos nesta mesma instituição. Durante essa época, começou a redigir seus escritos espirituais, os quais, depois, foram recolhidos no livro “Diário da alma”.
Sua formação sacerdotal precisou ser interrompida, entre 1901 e 1902, devido ao serviço militar. No dia 13 de junho de 1903, alcançou o grau de doutor em Teologia. Foi ordenado sacerdote, em Roma, no dia 10 de agosto de 1904; no ano seguinte, foi nomeado secretário do novo Bispo de Bérgamo, Dom Giacommo Radini Tadeschi.
Lecionou, algumas vezes, história eclesiástica, patrologia e apologética. Foi colaborador do diário Católico de Bérgamo, pregador muito solicitado por seus discursos profundos e eficazes; e também assistente da Ação Católica Feminina. Aprofundou-se no estudo de três pastores da Igreja: São Carlos Borromeu – o qual mais tarde publicou as atas das visitas realizadas à Diocese de Bérgamo – São Francisco de Sales e o então Beato Gregório Barbarigo.
Durante a Primeira Guerra Mundial, alistou-se e esteve à frente como sargento nos serviços de saúde e, depois, como capelão castrense no grau de tenente. Depois que regressou do conflito mundial, fundou a “Casa do Estudante”, para acolher rapazes estudantes vindo de áreas rurais, e assumiu a direção espiritual do seminário local.
Em 1921, foi chamado a Roma por Bento XV como presidente nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé. Recebeu ordenação episcopal, em 19 de março de 1925, em Roma, e o exerceu na Bulgária, onde permaneceu por dez anos. Juntamente com a população local, enfrentou as consequências do terremoto de 1928. Sofreu perseguições por sua tática pastoral que visava pequenos passos, mas se manteve em silêncio reafirmando sua confiança e entrega a Jesus crucificado.
Delegado Apostólico na Turquia e na Grécia, desde 1935, trabalhava com intensidade a serviço da Igreja Católica; entretanto, destacou-se pela maneira de dialogar e pelo trato respeitoso com ortodoxos e muçulmanos, conseguindo encurtar as distâncias existentes entre o Vaticano e as hierarquias ortodoxas e muçulmanas.
Segunda Guerra Mundial
Durante a Segunda Guerra Mundial, esteve na Grécia, procurou dar notícias sobre os prisioneiros de guerra. Utilizando-se da “permissão de trânsito”, fornecida pela Delegação Apostólica para salvar muitos judeus da morte.
Ainda durante o conflito mundial, no dia 6 de dezembro 1944, foi nomeado Núncio Apostólico, em Paris, por Pio XII. Precisou enfrentar situações delicadas, sendo necessário, algumas vezes, deixar à parte protocolos diplomáticos; sua intervenção fez com que, dos 87 prelados acusados de colaboracionismo, apenas três fossem afastados de suas sedes.
Enquanto o mundo se acalmava, o beato trabalhou pela normalização da vida eclesial da França e ajudou os prisioneiros de guerra. Marcou presença em festas religiosas significativas e visitou os grandes santuários franceses. Sua marca era a simplicidade, principalmente quando lidava com assuntos diplomáticos mais complexos. Possuía uma sincera piedade, investindo longas horas na oração e meditação.
Eleito cardeal, em 1953, nesse mesmo ano retornou à Itália como Patriarca de Veneza. Durante os seis anos que permaneceu na diocese, procurou doar-se inteiramente ao cuidado das almas, fez visitas pastorais, impulsionou o sínodo diocesano, presidiu várias peregrinações em sua própria diocese.
Viagens
Dentre suas peregrinações, estão as viagens a Lourdes, em 1954, e a alguns centros de espiritualidade mais importantes da Espanha como Loiola, Xavier, Begoña, Comillas, Covadogna, Mondoñedo, Santiago de Compostela, Salamanca, Alba de Tormes, Zaragoza e Montserrat.
No ano de 1956, deslocou-se a Fátima representando o Papa Pio XII, na celebração do 25º aniversário da Consagração de Portugal ao Imaculado Coração de Maria. Em maio de 1956, voltou a Lourdes para consagrar o templo de São Pio X. Presidiu o Congresso Nacional Mariano, no Líbano, como Legado Pontifício. Ainda visitou outros centros de peregrinações mariano como Einsieldeln, Mariazell e Czestochowa.
Habemus papam: João XXIII
No dia 28 de outubro de 1958, aos setenta e sete anos de idade, foi eleito sucessor do Papa Pio XII. Adotou o nome de João, muito comum entre os Papas, e que lhe era muito querido por ser o nome de seu pai. Logo, foi visto como referência da bondade de Deus e, por isso, aclamado pelo povo como o “Papa bom”.
Ele representou a passagem para uma Igreja mais aberta para a humanidade e mais sensível aos sinais dos tempos. As marcas de sua personalidade, que ficaram impressas no pontificado, foram mansidão, cordialidade, coragem e simplicidade; demonstrava-se um pastor atento a seu rebanho, que tinha nele a figura paterna.
Na Encíclica Ad petri cathedram, inaugural de seu pontificado, sobre o conhecimento da verdade, a restauração da unidade e a paz na caridade, o Papa delineia os pontos centrais do seu governo pastoral, propondo a busca da verdade, da unidade e da paz. Suas encíclicas mais importantes foram Pacem in terris e Mater et magistra, que, mais tarde, serviriam de base para alguns documentos de seus sucessores.
Marco: Concílio Vaticano II
A iniciativa principal do pontificado de João XXIII foi o Concílio Vaticano II, anunciado no dia 25 de janeiro de 1959. O Papa bom surpreendeu a todos não só pelo Concílio, mas pelas medidas que tomara já indicando uma renovação na Igreja.
Instituiu uma comissão para a revisão do Código de Direito Canônico; elegeu o Cardeal Tardini como Secretário de Estado do Vaticano, cargo até então vacante há 14 anos; criou 23 novos cardeais, em 1958, excedendo o número que Sisto V havia fixado em 1586. Pela primeira vez na Igreja, elegeu um cardeal japonês, Peter Tatsuo Doi; um filipino, Rufino J. Santos; e um africano, monsenhor L. Rugambwa, testemunhando, assim, a universalidade da Igreja.
O beato italiano viajou a Loreto e a Assis para rezar pelo êxito do Concílio. Era a primeira vez, desde Pio IX, que um Papa saía de Roma.
Na tarde do dia 3 de junho de 1963, faleceu por uma doença incurável e dolorosa. A hierarquia de diversas igrejas cristãs como Judaísmo, Islamismo e Budismo fizeram declarações de luto pelo falecimento de Roncalli. Foi sepultado na cripta da Basílica de São Pedro, perto do túmulo de Pio XII. Paulo VI iniciou o processo de sua beatificação e João Paulo II o concluiu no dia 3 de setembro do ano 2000.