Gianfranco Svidercoschi conta o que aprendeu com quatro pontificados que acompanhou de perto: “João XXIII me fez ter a vontade de crer”
Luciane Marins, com colaboração de Danusa Rego
Da Redação
“Como o Concílio Vaticano II foi uma escola para os bispos, foi uma escola também para mim”. Quem afirma é o jornalista italiano Gianfranco Svidercoschi, em entrevista a nossa correspondente em Roma, Danusa Rego, quando se celebrou os 50 anos do Concílio. Ele trabalhou na cobertura jornalística do evento e afirma que compreendeu ali que a Igreja é universal, que não se resume ao Papa e à hierarquia, mas que abrange todo o povo de Deus.
Segundo o jornalista, o Concílio, convocado por João XXIII, também representou um grande aprendizado para os bispos, que passaram a compreender melhor sua responsabilidade diante da Igreja Universal e não somente diante de suas dioceses. “Eram responsáveis pelo anúncio do Evangelho em todo o mundo.”
A cerimônia de abertura é um dos momentos que permanece viva em sua memória. “Antiga, festiva, parecia de outro mundo, outra época”. Ele recorda que eram quase três mil bispos de todas as raças, numa demonstração da universalidade da Igreja, e ainda que havia observadores de outras Igrejas Cristãs que participavam como interlocutores.
A discussão de temas como a guerra e a paz, a liberdade religiosa, meios de comunicação e tantos outros são lembrados por Svidercoschi. Mas para ele o “grande momento” se deu quando os bispos trataram da liturgia. “Porque a Liturgia era o tema que podia chegar a todo povo cristão. O fato de colocar a língua do próprio país, permitir que o padre celebrasse de frente para a Assembleia e que o povo participasse, lesse a Sagrada Escritura, apresentou ao mundo o conceito de que a Igreja é aberta ao mundo, sabe olhar para si e mudar se for o caso.”
As palavras do Papa João XXIII na abertura do Concílio e do Papa Paulo VI no encerramento também foram ocasião de grande ensinamento. O jornalista recorda que, logo no discurso inicial, João XXIII disse que a Igreja deveria usar mais o remédio da misericórdia. “Era preciso encontrar uma linguagem nova para transmitir a fé e fazê-la ser aceita pelo homem”.
Para ele, foi um discurso “excepcional”. João XXII foi nomeado sumo pontífice da Igreja Católica aos 77 anos e dizia-se que seria um Papa de transição. “Foi, no entanto, o primeiro a ter a coragem de convocar um Concílio e de dar as indicações para este Concílio, um Concílio Pastoral, Positivo.”
Passados 50 anos, Svidercoschi, garante que o Concílio é atual e que o catolicismo é mais vivo hoje devido a este grande evento. “O mundo vive dificuldades e a Igreja é a única organização internacional que fez um Concílio, como um exame de consciência, se renovou”.
Conversão pessoal
O jornalista acompanhou de perto o pontificado de pelo menos quatro papas e testemunha que ele próprio teve sua fé renovada.
“A minha vida de fé estava, digamos, adormecida. João XXIII me fez ter a vontade de crer e aprofundar minha fé. Paulo VI que era um homem questionador me obrigou a pensar e a me convencer de que eu tinha fé. Depois, o Papa Luciani por 33 dias, ele que tinha esta fé alegre, aberta, e depois, meu papa polaco me deu força para falar desta fé para o mundo.”
Curiosidade
Gianfranco Svidercoschi conta que no segundo ano do Concílio, logo na segunda seção, foi criada a Sala de Imprensa ou o Centro de Informação da Santa Sé, o que facilitou o trabalho dos jornalistas de diversas nacionalidades que acompanhavam o evento.
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