Dom Antônio Augusto, do Rio de Janeiro, destaca que a bondade de João XXIII ajuda a reconhecer o caráter sagrado da vida
Rogéria Nair
Da Redação
João XXIII não escreveu documentos tratando especificamente da defesa da vida como João Paulo II, porém em muitas de suas alocuções e em alguns trechos de documentos posicionou-se quanto ao assunto.
O Papa Bom deu grande contribuição em defesa da vida a partir do momento em que abriu as portas para o diálogo com outras religiões, culturas, governos e ideologias através da convocação do Concílio Vaticano II. A análise é do bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Antônio Augusto Dias Duarte.
Para o bispo, que também é membro da Comissão para Vida e Família da CNBB, o futuro santo tinha o desejo de mostrar que a Igreja é a luz dos povos.
Em uma alocução sobre o controle de natalidade, discurso que está no livro “Os ensinamentos de João XXIII”, recolhidos e ordenados por Michael Chinigo, o Santo Padre assegura que o Criador deu ao ser humano recursos inesgotáveis de inteligência que o torna capaz de encontrar bens necessários à vida, sem ofender a ordem moral estabelecida por Deus nem atacar os mananciais da vida humana.
Para Dom Antônio Augusto, a maior proteção a favor da vida é dar ao relacionamento um caráter sagrado e isso o Papa Bom ensinou a cada fiel mostrando como é bom relacionar-se de forma cordial partindo da visão da fé.
“À medida em que uma pessoa procura cultivar a bondade, nós estamos dando aos relacionamentos um caráter sagrado, porque nós não tratamos bem apenas as pessoas que são simpáticas as que concordam com as nossas ideias, mas a todos, pois em todos vemos o reflexo da bondade infinita de Deus. O Papa Bom nos mostrou como é bom se relacionar de uma forma cordial e bondosa com as pessoas”.
O futuro santo tinha empenho com as vidas que lhe foram confiadas. Certa vez, sobre a responsabilidade com o pastoreio das almas, afirmou: “Confesso que não sofreria se as confiassem a outro; mas enquanto for minha, quero honrá-la custe o que custar.” Dom Antônio atesta que o reconhecimento paternal de João XXIII é o que torna compreensível o fato de que a vida humana é um reflexo da bondade de Deus.
“A bondade que emanava da figura tão paternal, acolhedora e simpática de João XXIII é que dá à vida humana o reconhecimento de que ela é uma vida sagrada, uma vida que vem de Deus e que é um reflexo da bondade de Deus
Alguns documentos do Papa Bom podem ser resgatados para os dias de hoje e servir de base para entender a sacralidade da vida humana. Dom Antônio aponta a Encíclica Pacem in Terris, em que o Santo Padre afirma que a justiça tem um nome que é paz. E esta só pode existir onde há respeito pelos direitos fundamentais do ser humano.
“Esse respeito começa justamente pelo respeito à vida, primeiro e fundamental direito. Essa é uma encíclica que o Papa escreveu pensando que no mundo não pode haver conflitos porque os conflitos sempre matam, ou fisicamente ou espiritualmente ou intelectualmente. E é preciso ver as diversas formas em que a morte tira do homem o seu principal direito: o direito a uma vida digna, de trabalho, de paz, de relacionamentos harmoniosos, onde as pessoas olham para o outro não como um adversário, mas como um irmão”.
O bispo destaca ainda que o Concílio Vaticano II, convocado por João XXIII, deixou como grande contribuição em questões de defesa da vida a valorização da família. Ele cita o documento Gaudium et spes, sobre a Igreja no mundo atual, que traz um capítulo dedicado totalmente à família.
“A Gaudium et spes, ao enfatizar a família como um agente social inestimável através da educação na fé e nos valores, contribuiu grandemente para a difusão da verdade sobre o valor da vida humana e da sua inviolável dignidade”.
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