O gosto pela arte acompanhou Wojtyla até o papado, quando ele chegou a escrever uma carta aos artistas destacando a beleza dessa vocação especial
Jakeline Megda D’Onofrio
Com colaboração de Danusa Rego
O aspecto cultural é uma das questões marcantes na trajetória de João Paulo II. Além de sua religiosidade e gosto pelo esporte, Wojtyla manifestava interesse pela arte, o que se revelava como uma de suas paixões.
Quando jovem, Karol frequentou uma escola de teatro, na qual pôde continuar cultivando sua paixão; ele tinha facilidade para decorar textos. O amor pelas artes e a vontade de se comunicar despertaram em seu coração o interesse pelo teatro. Ele descobriu os palcos aos catorze anos e foi ator, autor e diretor – atividades que manteve mesmo durante a ocupação nazista, quando formou grupos clandestinos como o Studio e o Teatro Rapsódico.
Lolek, como era carinhosamente chamado pelos amigos, discutia dramaturgia com os colegas. Ele chegou a interpretar dois papéis em uma mesma peça de teatro, mostrando-se sempre feliz na interpretação de seus personagens.
O gosto pelo teatro não o prejudicou no estudos. Ele também tinha o hábito de ler livros e sabia muito sobre a natureza, os poetas, os pintores, os músicos, os mistérios do planeta e eventos importantes da história da Polônia.
Centro Cultural Sokol
Na Polônia, João Paulo II costumava fazer teatro e ginástica no Centro Cultural Sokol, construído no século XIX, quando a Polônia perdeu a independência e queria criar uma mentalidade patriota e força física, algo que ajudasse os poloneses a se fortalecerem física e mentalmente.
O diretor do Centro, Plotr Wyrobiel, recorda a visita do Papa ao local, em 1999, ocasião em que o Pontífice pôde recordar os tempos de juventude. “Depois da Missa, ele falou sobre este centro, testando sua memória, recordando-se da juventude, perguntou às pessoas se frequentavam este centro, se ele ainda existia”.
Inicialmente, o centro foi criado como sociedade cultural. Depois, quando a Polônia conquistou a independência, passou a ter importante valor, pois os jovens criaram uma mentalidade cultural. E o próprio Wojtyla, quando jovem, se lançava como artista no palco, conta Wrobiel. Até hoje, o centro funciona e tem como objetivo criar a mentalidade cultural entre jovens poloneses.
A arte e o pontificado
O dom da arte e o gosto pelo esporte se refletiram também no pontificado de João Paulo II. O Papa polonês sempre incentivou os jovens a seguirem a arte e o esporte, sem parar nas fraquezas e nos obstáculos da vida. Ele os encorajava a não ter medo de ser Igreja, de andar nos mandamentos da Lei de Deus, sendo cada vez mais livres. “Não tenham medo”, dizia.
Em 1999, João Paulo II escreveu uma carta aos artistas, definindo o artista como “imagem de Deus Criador”. O Papa fala na carta da vocação especial do artista, do seu serviço à beleza e ao bem comum. Ele também destaca a aliança profunda entre o Evangelho e a arte, bem como a relação entre arte e Igreja.
“Quanto mais consciente está o artista do ‘dom’ que possui, tanto mais se sente impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos capazes de contemplar e agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só assim é que ele pode compreender, profundamente, a si mesmo e a sua vocação e missão”, escreveu o Pontífice.