Veja três iniciativas de brasileiros, no nordeste e sudeste, que se mobilizaram em prol dos que sofrem perseguição religiosa
André Cunha
Da Redação
A realidade de efetiva perseguição religiosa ainda é distante do Brasil. Por aqui, não se vê pessoas morrendo em massa por causa de sua confissão religiosa. No entanto, é possível encontrar quem manifeste solidariedade e compaixão com os perseguidos e, especialmente, os que estão no Oriente Médio.
Entre esses está o Gabriel Marquim, fundador da Comunidade Católica dos Viventes, com sede em Maceió (Alagoas). Ele ficou inquieto com as imagens divulgadas nas mídias, onde cristãos aparecem sendo executados por militantes do autodenominado “Estado Islâmico”. E da inquietação, nasceu a compaixão com os “irmãos na fé”, que sofrem no outro lado do mundo.
“Eu entrei em contato com algumas organizações para me colocar à disposição e ir à Síria ou Iraque para trabalhar com os perseguidos e refugiados. Contudo, essas organizações não acharam isso conveniente naquele momento. Então eu pensei: se não posso ir até lá ajudá-los, posso ser a voz, aqui mesmo, daqueles que estão sendo silenciados no Oriente”, contou o fundador de 28 anos.
Foi então que teve a ideia de realizar o #EuMeImporto. Um ato que reuniu cerca de 400 pessoas no dia 28 de março, incluindo o arcebispo de Recife, Dom Fernando Saburino, na capital pernambucana. Padres, religiosos, leigos e representantes de outras religiões também participaram do evento.
“Esses atos são importantes e deveriam crescer. Não é possível que fiquemos tranquilos, simplesmente assistindo a essa barbaridade. Não acho que seja um ato inútil, mas continuo achando insuficiente. Gostaria de ir até o encontro das famílias, daqueles que perderam tudo. Para falar a verdade, o testemunho desses cristãos me impulsiona a levar com seriedade a fé, com autenticidade. Nós precisamos, daqui, viver por eles.”
Ato #EuMeImporto from Rebobina on Vimeo.
Universidade paulista e a solidariedade aos perseguidos
Outra iniciativa aconteceu em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, onde a diocese local resolveu, inspirada na ação da Comunidade dos Viventes contada acima, promover algo parecido numa universidade.
O padre Thiago Cosmo foi o motivador da ideia e reuniu alunos e professores numa sala, para entender a realidade dos perseguidos e rezar por eles. “A oração é sempre o primeiro passo e o mais fundamental”, considera o sacerdote, que também falou sobre como a comunidade acadêmica reagiu à iniciativa.
“Eu, particularmente, fiquei surpreso com a acolhida por parte dos jovens e dos professores. Seja pela boa participação deles, seja pelo modo como demonstraram interesse pela questão, contribuindo com a reflexão”, disse.
Ele acredita que ações como essa são formas de se estabelecer unidade com os que sofrem com a perseguição, e manifesta também o desejo de ajudar essas pessoas mais de perto.
“Nossa vontade, muitas vezes, é de ir até lá e ajudar a proteger as pessoas, as crianças e idosos, especialmente. De fato, nos sentimos impotentes… somos frágeis. E, neste momento, nos recordamos que nossa força está em Deus! Ele sabe de todas as coisas e tudo pode transformar. Por isso, devemos sempre confiar nele!”, afirmou.
Vender camisetas também pode ajudar
Maria Tereza, 31, de São José dos Campos (SP), também entendeu que atitudes falam mais que palavras, e partiu para a ação que gera recursos financeiros para ajudar aos perseguidos.
A ideia também surgiu da indignação ao ver as notícias de cristãos sendo assassinados por membros do Estado Islâmico. Junto com um amigo, dono de confecções, a jovem de 31 anos criou as camisetas “Somos Todos Nazarenos”, comercializou-as e reverteu 100% da renda para ajudar os perseguidos.
O projeto começou no ano passado e mais de 200 camisetas já foram vendidas. Segundo Maria Tereza, todo o dinheiro foi enviado à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que promove ações de proteção e ajuda aos perseguidos e refugiados na Síria e outros países.
“Nunca imaginei que o valor arrecadado em dinheiro seria muito, mas essa campanha, mais do que uma ação de doação de recursos, tem a função espiritual da doação de vida. Eu queria me unir, como membro da Igreja, aos que são parte desse Corpo. Minha intenção era ser a voz, as mãos, os joelhos, para que doando meu tempo e esforços, a oferta de vida de nossos irmãos pela fé não ficasse desconhecida”, disse.
Para ela, a doação é algo a mais. O principal desejo era fazer com que outras pessoas se comprometessem em rezar pelos cristãos perseguidos, que valorizassem ainda mais as oportunidades de participar da Missa e de professar a nossa fé cristã.
“Sinto-me um membro mais vivo e saudável no Corpo de Cristo, enquanto eles derramam o próprio sangue pela nossa fé, faço o que está ao meu alcance, tento ser os joelhos que os sustentam com minha intercessão, a voz que comunica as injustiças que eles tem sofrido e as mãos que buscam trabalhar em favor deles”, declarou.
Padre Thiago Cosmo conclui que estes gestos unem as pessoas e que, como corpo místico de Cristo, se um cristão sofre, todos sofrem. Ao mesmo tempo, deve-se entender que tudo contribui para a santificação dos fiéis: sofrer, orar, confiar e servir.