Em seu pontificado, João Paulo II dedicou dois documentos para falar da dignidade da mulher e sua missão na Igreja
Jéssica Marçal
Da Redação
O reconhecimento do papel da mulher na Igreja teve um grande impulso no pontificado de João Paulo II. O Papa polonês chegou a escrever dois documentos específicos em que trata da vocação e da dignidade das mulheres: a Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, de 1988, e a Carta às Mulheres, de 1995.
O teólogo padre Mário Marcelo Coelho recorda que João Paulo II valorizou muito a pessoa em sua totalidade, tendo feito vários discursos resgatando a dignidade da pessoa humana. Ao fazer isso, ele enfatizou a importância da mulher na Igreja e na sociedade, não em segunda condição, mas com a mesma dignidade de todo ser humano. João Paulo II falava muito dessa dignidade da mulher como vocação, que deve estar em constante reflexão humana e cristã.
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.: Carta do Papa João Paulo II às mulheres
.: Carta Apostólica Mulieris Dignitatem
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A mulher, muitas vezes, foi desprestigiada na sociedade e mesmo na Igreja, sem ter o seu papel bem compreendido, analisa padre Mário. Por isso, o Sumo Pontífice escreveu a carta apostólica resgatando essa dignidade da mulher, citando como exemplos o papel de várias mulheres na sociedade, como Santa Teresa do Menino Jesus e Santa Catarina de Sena, duas mulheres de grande importância para a Igreja, bem como o papel de Maria na história da salvação.
Ordenação de mulheres
Ao falar de mulher na Igreja, surgiu ao longo da história, uma polêmica em torno da impossibilidade de mulheres receberem a ordenação sacerdotal. Padre Mário recorda que a ordenação masculina tem sua fundamentação histórica e bíblica em Cristo Jesus. Logo, ele afirma que o Papa polonês já havia encerrado os debates sobre essa questão, o que não significava e nem significa que a mulher está excluída da sociedade ou da Igreja.
“João Paulo II diz o seguinte: ‘A mulher, para ter a sua dignidade na Igreja, o seu papel, a sua missão, não precisa necessariamente ser ordenada. Ou seja, o fato de ser ordenado não coloca a pessoa num grau elevado, mas é uma maneira de servir’. Ele (JPII) vai dizer que a dignidade não está em ser ou não ser ordenado, mas na própria pessoa imagem e semelhança de Deus. A mulher tem outras formas de encontrar o seu espaço e a sua missão na Igreja como um todo”.
Virgindade e maternidade
Ao falar da vocação da mulher, na Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, João Paulo II destacou duas dimensões: a virgindade e a maternidade.
Padre Mário explica que ele colocou esses dois “dons”, por assim dizer, em um mesmo nível. Sobre a virgindade, ele adota como exemplo Maria para falar daquelas mulheres que se consagram a Deus. Não menos importante é a maternidade, pois também esta é um chamado de Deus.
“Ele (JPII) está mostrando que tanto a maternidade quanto a virgindade também são vocações, chamado de Deus. Algumas são chamadas a consagrar sua vida por meio da virgindade, outras mulheres são chamadas a consagrar sua vida por meio da maternidade”.
Contribuições
Padre Mário destaca que João Paulo II deixou grandes contribuições no que diz respeito à defesa da dignidade e direitos da mulher. Um primeiro aspecto destacado pelo sacerdote é que João Paulo II deixou claro que o papel e a missão da mulher na Igreja não estão subordinados ao homem ou ao clero ordenado masculino, mas vem do próprio Deus.
“A dignidade de mulher é uma vocação que vem de Deus, isso mostra a importância da mulher no magistério na Igreja. Tanto é que ele coloca: ‘a vocação da mulher, objeto constante de reflexão humana e cristã, tem assumido, em anos recentes, um relevo todo especial’”.
O teólogo acrescenta que a essência das duas cartas escritas pelo Papa beato está naquilo que João Paulo II fala sobre a dignidade da mulher, que vem da própria vocação, que vem do próprio Deus. “A mulher, na sua condição de consagrada na vida religiosa, de solteira, de casada, na maternidade, tem o seu papel e a sua missão que devem ser respeitadas”.