Doutor em teologia analisa catequeses do Papa João Paulo II sobre a Teologia do Corpo, cujo foco era ensinar que no corpo acontece a revelação do mistério de Deus
Padre Mário Marcelo Coelho, scj
“Somente o homem casto e a mulher casta são capazes de amar verdadeiramente” (João Paulo II)
A Teologia do Corpo desenvolvida pelo Papa João Paulo II é resultado de 129 audiências pronunciadas no início de seu pontificado, entre 1979 e 1984 sobre a sexualidade, o amor humano e a família, oferecendo uma de suas maiores contribuições para a espiritualidade conjugal. Num primeiro momento o Papa medita as Palavras de Cristo sobre a Redenção do Corpo; depois trata do Sacramento do Matrimônio; e termina trazendo uma reflexão sobre a Encíclica Humanae vitae, respondendo às interrogações do homem de hoje.
Para o Papa é preciso estabelecer uma autêntica espiritualidade conjugal para compreender a família em seu valor autêntico e também a valorização da vida: “aqueles que desejam cumprir sua própria vocação humana e cristã no matrimônio são chamados, antes de tudo, a fazer desta teologia do corpo a essência de sua vida e de seu comportamento”.
A Teologia do Corpo de João Paulo II traz grande contribuição para a sexualidade humana e aprofundamento da compreensão do corpo e seu significado antropológico, descobrindo, a partir do corpo, a pessoa com sua subjetividade e como dom de si para o outro.
O Papa afirma: “Pelo fato de o Verbo de Deus ter se feito carne, o corpo entrou pela porta principal na teologia”, ou seja, pela encarnação do Verbo o corpo ocupa um lugar central na teologia e na espiritualidade cristã, Deus assume um corpo, elevando com isso a dignidade da natureza humana.
Como compreender a teologia do corpo? Segundo o Papa, no corpo acontece a revelação do mistério de Deus. “O corpo, e somente ele é capaz de tornar visível aquilo que é invisível: o espiritual e divino. Ele foi criado para transferir para a realidade visível do mundo o mistério invisível escondido em Deus desde os tempos imemoráveis, e assim ser um sinal deste mistério”, isto significa que Deus, ao criar homem e mulher à Sua imagem e semelhança (Gn 1,27) imprimiu em nossos corpos o Seu mistério invisível.
Para João Paulo II “o homem se torna ‘imagem e semelhança’ de Deus não somente através de sua própria humanidade, mas também através da comunhão de pessoas que homem e mulher formam desde o princípio. Em tudo isso, desde ‘o princípio’, nos é dada a bênção da fertilidade vinculada à procriação humana”.
O fato de Deus criar o corpo como um “sinal” de seu divino mistério, é a razão pela qual o Papa fala do corpo como uma “teologia”, ou seja, no corpo Deus se revela e por isto nele podemos conhecer os mistérios de Deus. Deus nos comunica Sua vida “no” e “através do” corpo; “em” e “através do” Verbo tornado carne.
Na teologia do corpo o Papa João Paulo II apresenta a beleza da diferença sexual e do nosso chamado à união sexual que possui uma linguagem inscrita por Deus que proclama Seu mistério infinito e também torna este mistério presente para nós.
A teologia do corpo é parte importante da antropologia teológica e moral familiar da Igreja Católica, por isto, o Papa João Paulo II aprofundou a partir de uma visão personalista e bíblica, trazendo respostas aos questionamentos do homem moderno sobre temas da sexualidade humana e familiar. A riqueza deste tema nos ajuda a compreendermos o valor e a beleza da sexualidade humana vivida segundo o Evangelho.
No seu ensinamento oficial, a Igreja sempre viu no corpo algo positivo, porque a Encarnação é real: Jesus Cristo assumiu um corpo. O corpo faz parte da nossa caminhada de fé. Mas não só, cremos na ressurreição deste corpo: a ressurreição da carne a partir da ressurreição de Jesus. Há a ascensão do corpo. Chamamos a Igreja de Corpo de Cristo, a Eucaristia de Corpo de Cristo. Há uma unidade: é Jesus inteiro. O corpo é nossa expressão, nosso sacramento.