João Paulo II empenhou-se no diálogo com as autoridades políticas, principalmente para a promoção da paz
Kelen Galvan
Da redação
Durante os quase 27 anos de seu Pontificado, o Papa João Paulo II recebeu dezenas de líderes políticos no Vaticano, entre os quais Yasser Arafat, Nelson Mandela, Fidel Castro, Rainha Elisabeth II, Benjamin Netanyahu, Mikhail Gorbatchov, Vladimir Putin e muitos outros.
Muitas dessas audiências aconteceram em períodos críticos para alguns países, acometidos por conflitos recentes na época. Em todas elas, a Santa Sé mostrou seu compromisso pela paz e pela liberdade religiosa. Exemplo disso foi o encontro com Mikhail Gorbatchov em 1989, na época presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), no qual o líder político prometeu garantir a liberdade religiosa no país e aceitou estabelecer relações diplomáticas.
“João Paulo II procurou o diálogo, a aproximação dos povos, visitando os países e falando bem daquela região, daquela população, daquela história. Ele não fazia críticas para derrubar as coisas, mas para construir a paz”, recorda Dom Dadeus Grings, arcebispo emérito de Porto Alegre (RS), que durante os anos de 1981 e 1986 trabalhou na Secretaria de Estado do Vaticano.
Dom Dadeus lembra que no início do Pontificado de João Paulo II, na época de suas primeiras viagens aos países, havia uma certa resistência ao diálogo com a Santa Sé, porém aos poucos essa impressão mudou. “O Papa visitando os Estados Unidos, a Inglaterra, começou a criar uma outra figura do Papa, como homem da paz. Diálogo não é impor as coisas, mas ir ao encontro. E com isso, muitos países começaram a reatar relações diplomáticas com a Santa Sé, mesmo as nações não-católicas”.
Um dos episódios interessantes do Pontificado de João Paulo II ocorreu com os países árabes, recorda o arcebispo emérito. “Quando houve a guerra Irã / Iraque, quase todos os países romperam as relações com o Irã, e ficaram só com o Iraque. E a Santa Sé foi um dos poucos países, senão o único, que manteve a relação diplomática com os dois. Quando esses fizeram as pazes, os dois países, muçulmanos, pediram à Santa Sé para ser a mediadora, para a troca de prisioneiros e de todo o processo de paz”.
João Paulo II também empenhou-se em dialogar com os líderes políticos para alertar para os efeitos da globalização, que gera um distanciamento cada vez maior entre ricos e pobres, o que pode tornar-se “estável e intratável”.
“Este fenômeno preocupante tem muitas causas, mas o problema decerto não se resolverá enquanto as pessoas e os seus governantes não aceitarem a solidariedade e cooperação planetárias como imperativos éticos que impelem e mobilizam as consciências dos indivíduos e das nações”, disse o Pontífice em um discurso à Rainha Elisabeth II, em outubro de 2000. João Paulo II elogiou a iniciativa do governo da Inglaterra de perdoar integralmente a dívida de países pobres fortemente endividados.
João Paulo II procurou estar sempre aberto ao diálogo com as autoridades políticas. Para Dom Dadeus, isso revela uma grande marca sua. “Em todas as viagens havia um encontro diplomático, sempre a marca em cada viagem, esta abertura para todos, de modo especial com gestos concretos”.
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