Cônego de Portugal destaca feitos de João XXIII destacando que ele se dirigia a todos os “homens de boa vontade”
Cônego Francisco Senra Coelho
A bondade e a santidade de João XXIII reúnem consenso. A sua vida e a sua atuação manifestaram novos conceitos e atitudes na convivência eclesial e social. Muitos papas foram estimados e admirados, mas este foi querido e acompanhado por multidões de pessoas crentes e não crentes.
João XXIII conviveu com a modernidade sem a temer. Não escondeu o seu amor à vida, esforçava-se por contactar com todos os homens seus contemporâneos. Chamavam-lhe o “Bom Papa João” e o Vaticano passou a ser a “casa paterna”.
Ângelo Roncalli nasceu em Sotto il Monte, Norte da Itália (25.11.1881). Na sua diocese foi professor de História da Igreja no seminário e secretário episcopal. Entre 1921 e 1925 assumiu, na Itália, a direção da Obra da Propagação da Fé.
Em 1925, Pio XI enviou-o à Bulgária, país de maioria cristã-ortodoxa. Da Bulgária foi transferido em 1934 para a Turquia islâmica. Em 1928, em Sófia escreveu: “Nada há de heroico em tudo o que me aconteceu e em tudo o que julguei que tinha de fazer. Uma vez que se renunciei a tudo, (…) qualquer audácia resulta a coisa mais simples e natural do mundo”. Concretizava assim o lema do seu episcopado: “Obedientia et Pax”.
Fruto desta audácia assumiu atitudes inequivocamente ousadas. É de 1932 esta anotação significativa: “Tempos novos, novas necessidades, formas novas” e por ocasião do falecimento de Pio XII escreve no seu Diário: “Estamos na Terra não para guardar um museu, mas para cultivar um jardim cheio de vida e destinado a um futuro glorioso”.
Em 1953 foi elevado a cardeal e três dias depois a arcebispo e patriarca de Veneza. Aí à maneira de S. Carlos Borromeu (1538-1584), visitou todas as paróquias da sua diocese. Entre muitas realizações, fundou cinquenta e nove paróquias e um seminário menor.
Como Papa (1958-1963), João XXIII valorizou o ministério de bispo de Roma. Na Itália, procurou a autonomia da Igreja. A decisão de colocar o Evangelho acima dos partidos políticos explica o respeito com que foi acolhida a sua atuação durante a crise dos mísseis de Cuba (Outubro de 1962).
Para João XXIII a amplitude e a novidade da contemporaneidade exigiam a realização de um concílio, um novo Pentecostes capaz de reanimar a riqueza interior da Igreja. Daqui o perfil do Concílio Vaticano II (1962-1965), apresentado como acontecimento pastoral e centrado no anúncio do Evangelho.
Através das suas oito encíclicas, João XXIII dirigiu-se a todos os “homens de boa vontade”. A duas semanas da sua morte, insistiu que devia servir o homem enquanto tal e não apenas os católicos. Que devia defender sempre os direitos humanos e não só os da Igreja, sublinhando que a Igreja deve preferir a misericórdia à severidade. De João XXIII ao Papa Francisco, a Igreja de sempre!