Artigo

João Paulo II, entre a Cruz e a Esperança

Jornalista conta sua experiência com João Paulo II na época em que morou em Roma, de 2002 a 2007. Ele esteve com o Papa quatro vezes

Rodrigo Luiz
Jornalista e membro da Comunidade Canção Nova

rodrigo e JPII

Rodrigo Luiz em um dos encontros com o Papa João Paulo II / Foto: Arquivo Pessoal

“Devemos olhar o passado com gratidão, o presente com paixão e o futuro com confiança”. Essas palavras de João Paulo II contidas na Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte tornaram-se inspiração para minha vida.

Entre os anos 2002 e 2005, tive a graça de acompanhar bem de perto os últimos três anos do pontificado desse grande Papa, em Roma, onde minha atuação missionária era voltada de maneira especial como operador de câmera. Através das lentes da câmera, acompanhei o verdadeiro calvário que João Paulo II suportou de maneira serena oferecendo um testemunho de sacrifício ao mundo todo.

Estive pessoalmente com Karol Wojtyla quatro vezes. Gosto de contar isso não como vantagem, mas porque jamais pensava que um dia pudesse chegar perto de um Papa. Era algo que nem mesmo passava pela minha cabeça. Esses encontros foram inesquecíveis porque sentia uma enorme paz e força nos olhos claros e vivazes do Santo Padre. As palavras se resumiam entre eu me apresentar, contar de onde vinha e o Papa que confirmava com uma palavra de incentivo ou um gesto de “siga adiante”. Alguns desses encontros pessoais eram proporcionados pelo fato de um trabalho voluntário que eu prestava organizando a Filmoteca do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais. O Pontífice demonstrava alegria pela presença de um brasileiro da Canção Nova no Vaticano.

No entanto, diante de minhas fraquezas e limitações, pensei muitas vezes em desistir da missão que me foi confiada. Mas, quando olhava para aquele Papa, encontrava força e coragem para permanecer fiel ao chamado de Cristo. Quantas vezes aquele “Não Tenha Medo” ecoou em meu coração como uma voz de pai e renovava minha vontade. Essa experiência frutificou em persistência, profissionalismo e amor à Igreja Católica.

Um dos dias mais impressionantes para mim foi o Domingo de Ramos de 2005. Era o dia em que o Papa dos Jovens ia comemorar os vinte anos das Jornadas Mundiais da Juventude. Como de costume, montei a câmera no alto das Colunatas da Praça São Pedro para gravação do Angelus. O Papa de 84 anos apareceu na janela do Palácio Apostólico e a multidão aplaudiu. Em seguida, houve um grande silêncio. Ele não conseguiu pronunciar uma palavra sequer. Enquanto a câmera gravava aquela cena histórica, meu coração ficou apertado e buscava compreender o significado daquele esforço. Apesar de a voz não sair, a aparição na janela foi um dos maiores apelos sobre o valor da vida e o que fazemos dela.

No discurso que ele não conseguiu ler, uma meta a seguir em frente: “Hoje digo-vos: continuai incansavelmente o caminho empreendido para serdes em toda a parte testemunhas da Cruz gloriosa de Cristo. Não tenhais medo! A alegria do Senhor, crucificado e ressuscitado, seja a vossa força, e Maria Santíssima esteja sempre ao vosso lado”.

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