No pontificado de João Paulo II, a Santa Sé aumentou muito suas relações diplomáticas com outros países e também o número de novas Nunciaturas Apostólicas
Kelen Galvan
Da Redação
João Paulo II foi muito importante para o mundo da diplomacia. A afirmação é do ex-Núncio Apostólico no Brasil, Cardeal Lorenzo Baldisseri, que atualmente é o secretário-geral do Sínodo dos Bispos.
Dom Lorenzo recorda que, durante o Pontificado de João Paulo II, os países que se relacionaram com a Santa Sé se multiplicaram. “Muitos estados iniciaram relações diplomáticas oficiais, foram dezenas e dezenas, mais do que com o Papa anterior. Efetivamente se multiplicaram também Nunciaturas Apostólicas novas, sobretudo na África e na Ásia”, destaca.
O motivo desse crescimento, de acordo com o cardeal, deve-se ao fato de que João Paulo II teve uma importância mundial, não só no aspecto religioso, mas também no aspecto civil e sobretudo no político.
Outro fator que contribuiu para esse crescimento foram as mais de 100 viagens internacionais que João Paulo II fez durante seu Pontificado. “O contato direto que ele teve com os chefes de estado, com o povo, seja católico ou não, foi verdadeiramente eficaz. Ele teve uma projeção extraordinária e mundial. As suas viagens deram uma presença, uma imagem do Papa, nunca experimentada. Por isso, João Paulo II teve uma presença histórica única”, afirma Dom Lorenzo.
Mediador pela Paz
Durante seu Pontificado, João Paulo II acompanhou o desenrolar de muitos conflitos entre vários países, como foi o caso do Líbano e da guerra do Golfo, e tornou-se um mediador pela paz, ao enviar cartas aos responsáveis diretos ou fazer apelos em diversas mensagens.
Dom Lorenzo destaca o caso da Queda do Muro de Berlim, em 1989, um fato muito importante na história europeia. “Todo mundo reconhece hoje que isso aconteceu por uma contribuição formidável e única do Papa Wojtyla. Ele foi verdadeiramente o autor principal”, enfatiza.
O cardeal explica que essas iniciativas de João Paulo II foram fundamentais para a humanidade em si mesma, mas também para a presença da Igreja como tal. “A Igreja não é uma realidade de outro planeta, faz parte da mesma humanidade. Portanto, foi uma relevância essa atuação do Papa que deu um benefício à própria Igreja. Ela foi considerada uma instituição que contribuía eficazmente e profundamente para o desenvolvimento e o progresso da humanidade, sobretudo para manter a paz no mundo”.
Sinal de como a figura de João Paulo II marcou a história foi a presença maciça no seu funeral em 2005. “Presidentes que nunca se encontraram por razões políticas estavam ali lado a lado. Foi uma apoteose de presença do mundo inteiro, do mundo político e sobretudo do povo, de qualquer etnia e religião. Isso foi fantástico”, recorda Dom Lorenzo.
Diálogo inter-religioso
O Cardeal Lorenzo Baldisseri trabalhou no serviço diplomático da Santa Sé em grande parte do Pontificado de João Paulo II e enfatiza a contribuição do Pontífice para o diálogo com as outras religiões.
“É preciso levar em conta como João Paulo II acolheu personalidades de todas as religiões aqui no Vaticano e também recordar o famoso encontro de Assis”, recorda.
Em Assis, João Paulo II recebeu pela primeira vez, em 1986, líderes de diversas religiões de todo mundo, para rezar juntos pela paz. “Isso foi fundamental para a coexistência e a harmonia dos povos”, destaca o cardeal.