Depoimentos de quem participou do Vaticano II revelam visão geral do Concílio e a percepção pessoal de cada um
Luciane Marins, com colaboração de Danusa Rego
Da Redação
O Concílio Ecumênico Vaticano II, que trouxe grande renovação para Igreja Católica, é considerado um dos maiores acontecimentos da Igreja no Século XX. O evento foi um dos grandes feitos do pontificado do Papa João XXIII em 25 de dezembro de 1961, aberto por ele em 11 de outubro de 1962 e encerrado pelo seu sucessor Paulo VI em 8 de dezembro de 1965.
A preparação do evento durou cerca de três anos. Os trabalhos durante o Concílio e pós Concílio também foram exigentes. 16 documentos foram publicados. A correspondente da Canção Nova em Roma, Danusa Rego, conversou com algumas pessoas que participaram dos trabalhos do Concílio por ocasião da celebração dos 50 anos do evento. Veja abaixo alguns depoimentos:
Cardeal Jorge Maria Mejía
Arquivista e Bibliotecário emérito da Santa Igreja Romana / padre conciliar
Sobre o Concílio
“O grande fato importante era o próprio Concílio. Portanto, quando João XXIII teve a inspiração de anunciar, demonstrou sua intenção em convocar o Concílio Vaticano II, todos ficamos atordoados, porque não tinha nenhum Concílio há um século! O Concílio, como vocês sabem, é a expressão máxima do magistério da Igreja. No Concílio tem um aspecto que chamava a atenção de todos. Era a primeira vez que na Igreja, em um Concílio ecumênico, geral, tinha a representação de cinco continentes. Os anteriores tinham latino-americanos, mas não tinha africanos e não tinha asiáticos, em vez disso no Concílio Vaticano II tinham os cinco continentes. Era impressionante ver com os próprios olhos o catolicismo da Igreja. Se deve dizer que o relacionamento destes novos países e este episcopado jovem foi importante e decisivo”.
Testemunho pessoal
“Se posso assinalar, destaco a abertura do Concílio. O grande ato, não somente a solenidade, a presença dos bispos, a grande procissão, tudo era importante, mas me impressionou a fibra de João XXIII, que se sabia já não estava muito bem. E seu memorável discurso, que começava com as palavras Gaudium Et mater Ecclesia, um discurso em latim. Este discurso deu um norte ao Concílio em dois modos. Ele disse: aqui se trata de renovar, não de transformar e mudar tudo. Renovar, a palavra que se tornou cotidiana atualização. Ele também disse que deveríamos ter uma postura positiva diante do mundo que está cheio de problemas e de dificuldades e de aspectos negativos. Não se trata de condenar, mas de buscar esclarecer as coisas e exprimir a Igreja com as palavras, os gestos, a vida. Isso era próprio do Concilio: em modo que eles nos possam entender. Que coisa somos e que coisa queremos: a glória de Deus e o bem de todos os homens. Isso me marcou”.
Don Ennio Appignanesi
Arcebispo emérito de Potenza, na Itália / pároco em Roma no período Conciliar
Sobre o Concílio
“O Vaticano II não foi um Concílio teológico, para combater as heresias, foi pastoral, ensinou como viver o Evangelho hoje, como o Evangelho pode ser útil na sociedade na qual vivemos. Este Concílio foi um grande dom de Deus, uma visita do Senhor aos seus filhos, à Igreja, ao mudo. Olhar o CVII nos faz agradecer ao Senhor, que nos deu, depois, a atuação através do magistério, das normas, os códigos revelados, o Catecismo da Igreja renovado, a Liturgia renovada. Fizeram-se conhecer os significados dos gestos e das palavras. Por isso a língua foi mudada, não só o latim para todos, mas a língua local. Assim as pessoas entendem melhor”.
Testemunho pessoal
“Para fazer uma leitura do Concílio, precisamos de duas palavras-chave: comunhão e missão. Quando alguém entende estas palavras, compreende todos os documentos. O Concílio suscita um novo interesse pela Igreja, pela voz do Papa, seja para quem deseja viver o Evangelho, seja para quem o oferece no mundo de hoje. Para a Nova Evangelização, precisamos ler, reler os documentos do Concílio, o Catecismo da Igreja Católica e Compêndio”.
Cardeal Georges Marie Martin Cottier
Pró-teólogo da Casa Pontifícia/ padre conciliar
Sobre o Concílio
“Existem na estrutura do Concílio as Constituições, os decretos e as declarações. Uma ordem que não é sem razão. Tem um grau de
autoridade. Durante o Concílio, nasceu a ideia de falar ao mundo, de fazer uma Constituição. A ideia era bela. Nasceu a Constituição sobre a Igreja no mundo, a Gaudium et Spes. Concílio Vaticano II foi um dom de Deus à sua Igreja”.
Testemunho pessoal
“Trabalhei acima de tudo sobre os textos, mandamos muitos textos de propostas de modificações dos textos, correções. Nos primeiros meses do Concílio, trabalhei muito com isso. Tudo se fazia em latim e durante as seções, nas discussões, meu bispo não interveio publicamente, mas me dava muito trabalho. Dois documentos me interessaram muito: sobre a liberdade religiosa e sobre o diálogo inter-religioso. Segui-os bem de perto”.
Fotos: TV Canção Nova Roma
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