No mês dedicado às vocações, bispo explica o significado dessa palavra e como ela deve ser vivida pelos fiéis
Dom Antonio Augusto Dias Duarte
Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro
A origem do termo vocação é muito bonita. A palavra vocação vem do latim vocare, chamar. Mas, não é uma chamada ou uma convocação, habitualmente como se faz em outras esferas da vida civil e militar.
Esta palavra na boca de Deus tem uma expressão muito própria. Chamar para Deus é igual a amar. O Papa São João Paulo II quando esteve aqui no Brasil em 1980 na sua primeira viagem em terras brasileiras, falou justamente isso: “aquele que ama, é o mesmo que chama”. Para Deus, chamar e amar é a mesma coisa. Assim sendo a vocação não é uma convocação, não é uma eleição, não é uma escolha cumprir um trabalho, mas a vocação é uma chamada amorosa de Deus, que requer da parte do homem e da mulher uma resposta de amor.
A vocação só se entende dentro desse significado original da palavra. É uma relação de amor entre Deus e a criatura humana, entre a criatura humana e Deus, para que se possam realizar os planos de Deus em relação à vida das pessoas, à vida da Igreja e à vida da humanidade.
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Por isso mesmo, a vocação deve ser conhecida e divulgada, porque às vezes quando alguém é vocacionado, por exemplo, chamado para o sacerdócio, para uma vocação religiosa ou matrimonial, ou para a vocação em diversos âmbitos da Igreja, pode parecer que Deus mudou a vida de alguém, complicando seus planos pessoais. Não! Deus comunicou com essa chamada de amor um caminho para a pessoa ser feliz, para que o seu papel no meio da sociedade e dentro da Igreja fosse realmente uma missão, que dará para a vida de outras pessoas uma luz para que elas também descubram a sua vocação. A maior graça que Deus nos dá, depois de ter-nos criado, é a de ter-nos chamado para desempenhar um papel dentro dos seus projetos. É isto que tem que se destacar.
Uma chamada de Deus é para o bem das pessoas. Deus nunca nos impõe nenhuma vocação. A vocação é assim como uma paisagem muito bonita que as pessoas têm dentro dos olhos. Se elas não abrirem os olhos, aquela paisagem apesar de ser muito bonita, não vai ter nenhuma repercussão na vida da pessoa. É preciso abrir os olhos da liberdade, é preciso querer o querer de Deus, querer a vontade de Deus. Se Deus é amor e Deus é Pai, Ele não pode querer outra coisa senão para o bem da pessoa.
Também é preciso estar disposto para a chamada divina, isto é, deve-se ter as disposições interiores para acolher esta chamada divina, como aquela imagem do Evangelho, que fala da terra boa, isto é, do coração bom, do coração que está preparado para responder ao Amor com o amor humano. Esta disposição é fruto de muitas atitudes, de muitos momentos de nossa vida, de muita formação. Então, não se pode querer responder com liberdade à vocação que Deus dá a uma pessoa sem estar formado para este momento.
A vocação é gratuita. Não tem nenhum mérito da pessoa. Deus chama na hora que a pessoa está disposta para ele. E esta disposição supõe toda uma preparação, uma formação, sobre qual deve ser o papel de cada pessoa dentro do mundo, mostrando assim o sentido pleno da vida.
Vocação divina é para toda a vida, não é para um período da vida, nem para algumas horas do dia. A vocação cristã, a vocação matrimonial, a vocação sacerdotal, a vocação religiosa, a vocação do leigo, de alguma instituição, movimento, nova comunidade deve preencher a vida toda.
Essa preparação e essa liberdade devem estar muito bem afinadas para o momento de Deus, quando Ele toca o coração, e da parte da pessoa ela deve responder e manter a sua resposta ao longo de toda vida, com a graça de Deus, continuando a formação, atualizando a suas disposições e a sua liberdade para o que Deus quer realizar através dela.
É muito bonita a vida de uma pessoa que é consciente do valor de sua vocação e a vive com liberdade e com a disposição adequada, porque aí Deus brilha, Deus realiza nele grandes obras.